Há já muitos meses, contava-me um amigo que tinha encontrado uma conhecida nossa no Tinder. Fiquei admiradíssima: “Ela está no Tinder?”. A resposta dele embrulhou bem a coisa: “Ana, toda a gente está no Tinder.”
A expressão “toda a gente” é uma generalização, mas falar em muita gente é seguramente fidedigno. E apesar de serem muitas as gentes a utilizar esta ou qualquer outra aplicação de encontro, ainda há muita vergonha em assumi-lo.
Não faz sentido. Tendo em conta que as massas aderiram à moda do swipe, a vergonha está mais do que datada. Até porque, convenhamos, a vida não está fácil para os engates. Como me dizia outro amigo: “Mas queres que engate pessoas nos semáforos?”. Então, mas e a noite? Pois, a noite. A noite tem outro problema: tende a constituir um cenário isento de discernimento, uma característica fundamental para se fazerem investimentos acertados, seja no longo ou no curto prazo.
Voltando à massificação das aplicações de encontro: de acordo com dados divulgados pelo eHarmony, um site de relacionamentos, em menos de três décadas cerca de 70% dos casais vão conhecer-se através deste tipo de aplicações.
O fenómeno escalou tanto que há até quem frequente estas apps com o intuito de as estudar. Foi o caso da sexóloga e terapeuta Aline Castelo Branco que passou pelo Tinder, Happn ou Badoo para “estudar um método de montagem de perfil e texto”, cujo objetivo passava por perceber como é que nos devemos apresentar e expressar de modo a maximizarmos os bons resultados. A ideia foi perceber se esta metodologia, “baseada em imagem, ativação de gatilhos no texto e conversa assertiva no pós-match”, funcionava.
A sexóloga de 39 anos, natural de Salvador da Baía, no Brasil, e apresentadora do programa português “Pela Fechadura”, do “Canal Q”, entrou nas aplicações utilizando um perfil de mulher, tendo como target homens. Para colmatar as falhas de género, teve a ajuda do marido, que conheceu há cinco anos através do Tinder: ele testou o mesmo método na aplicação, mas utilizando o perfil de homem à procura de mulheres.
Este teste deu origem ao novo ebook “Estratégias para se Dar Bem em Qualquer App de Namoro” e a um programa de treino chamado Deu Match. Aline Castelo Branco conclui que o método funciona: “Através do recurso a modelos de comunicação e a diversas técnicas, este programa online pretende ajudar nos relacionamentos em rede, numa época em que as apps fazem cada vez mais parte da vida das pessoas”, explica Aline Castelo Branco à MAGG.
Agora, passamos à ação. Para ter sucesso nas aplicações, siga estas 8 regras.
1. A realidade é esta: está a vender a sua imagem
Parece agressivo, mas é a pura das verdades. Se o primeiro contacto que tem com um potencial candidato ou candidata se faz partindo da sua fotografia, então, sim, está a vender a sua imagem, está a fazer marketing sobre si próprio. O que é que isto significa? "Que [a fotografia] ela deve ser clara, objetiva e bonita". Mas não só: "Ela deve representar quem você é."
Mas, calma, há aspetos a evitar. "No caso dos homens, encontrei fotos de carros, de paisagens, de animais e de coisas abstratas. No caso das mulheres, encontrei fotos na praia, em meditações longe, mulheres a porem só uma parte da roupa, sem mostrar a cara, fotos com filhos ou amigas", diz.
Para a primeira imagem do perfil, isto são más escolhas. "A imagem fala por si e representa muito de quem eu sou. Se não for boa perdem-se muitas possibilidades."
2. Do concreto para o geral, as regras das fotografias
O ideal, diz Aline Castelo Branco, é optar por escolher para a primeira imagem do perfil uma fotografia com um enquadramento de plano médio (da cintura para cima, mais ou menos), aproveitando as restantes para mostrar outros pormenores: "Devem representar o dia a dia, os gostos da pessoa. Por exemplo, uma foto em casa com o cão, uma foto fazendo um hobbie, uma de viagem, outra praticando desporto."
3. Atenção à distância
Queremos fazer match com alguém que esteja a mil quilómetros de distância? Não, exceto se nos estivermos a preparar para uma viagem rumo a esse destino — relatos dão conta de que isto acontece.
Atenção às ferramentas destas aplicações. É que, além de poder escolher o género que lhe interessa, é também possível limitar a distância a que os candidatos e candidatas se encontram. "É preciso limitar para aquilo que é possível para um relacionamento", chama a atenção Aline Castelo Branco.
4. A importância de uma descrição com gatilhos
Viu a fotografia, ficou na dúvida. De seguida, lê a descrição, pormenor que servirá de desempate. Se não for do seu agrado, até logo. É esta a importância da descrição do seu perfil.
Primeiro: nunca a deixe em branco, como tantas vezes acontece, notou Aline Castelo Branco. Segundo: aproveite esta ferramenta para dar mais pormenores sobre si — pormenores esses que, idealmente e em simultâneo, vão gerar simpatia e mistério no outro. "É preciso focar muito no texto escrito", diz a sexóloga. “Tem de ter gatilhos que provoquem a pessoa, gatilhos de curiosidade e de empatia, que sejam atrativas para a conversa.”
Vamos explorar melhor esta parte dos gatilhos da curiosidade: "É deixar um pouco de mistério no ar, dando um bocadinho de jogo ao mesmo tempo", diz, acrescentando que a profissão ou um desporto são, por exemplo, características que costumam servir este fim.
Por outro lado, na empatia, o importante é "ser simpática e trazer bom humor, porque isso puxa mais as pessoas."
Ser rude é que não. "Vi pessoas botando: 'Por favor não dê match se não gostou do meu cabelo.'"
5. Seja direto, mas não perca a classe
Voltamos um bocadinho ao tópico da vergonha. Não se deve sentir constrangido por estar no Tinder ou numa outra aplicação de encontro. E, na sequência disto, deve ser capaz de assumir aquilo que procura. Quer encontrar namorado? Quer fazer amigos? Está à procura de parceiros sexuais? Está apenas em busca de conversas?
“Em qualquer coisa na vida, você tem de ter um objetivo. Nesse caso, pode ser sexo casual ou encontrar um amor", diz Aline Castelo Branco.
Posto isto, na sua descrição não deverá ter vergonha de assumir aquilo que procura — até porque isto a ajuda a separar o trigo do joio. Mas isso não significa que deva ser excessivamente direto, a roçar o mal educado. Por exemplo: escrever "quero sexo"é agressivo e, por isso, pode tirar-lhe muitos matches.
Tem de ser mais subtil. E nunca pode perder a classe. É, dá trabalho ter um bom perfil.
6. Passamos à conversa: esqueça o “Olá, tudo?”
Mas ainda dá mais trabalho saber conversar.
“Deu match, veio a conversa. A conversa é o momento principal, porque leva ao encontro presencial", destaca a terapeuta. Segundo Aline Castelo Braco, um simples "olá, tudo bem?" não funciona. É a abordagem mais comum, mas é também a mais preguiçosa. Tem de ser mais criativo de modo a destacar-se — lembre-se: aquela pessoa terá, provavelmente, mais conversas a correr naquela aplicação.
Não sabe como começar? O bom humor funciona sempre. E lembre-se dos tais gatilhos — é para este momento que eles servem. Achou interessante a profissão, viu que fazem um desporto em comum, reparou que ambos têm animais? Vá por aí.
Não comece a disparar perguntas do tipo: "De onde é que és? Onde é que moras? Quando é que nasceste? Qual é a profissão dos teus pais". É muito intrusivo. Isso fica para depois: "Essas informações devem vir mais à frente. É importante primeiro haver conexão entre as pessoas", diz. "A ideia da primeira conversa é partir logo para a busca de interesses, utilizando, por exemplo, dados do perfil dele ou dela."
7. Se não gostar, seja direto
Quando não há ligação, é mais fácil aplicar aquilo a que hoje se dá o nome de ghosting — consiste em deixar de responder à pessoa. Mas, de acordo com Aline Castelo Branco, o ideal é ser direto e frontal. A sexóloga dá o exemplo: "Desculpa, mas eu não quero mais falar com você", diz. "A pessoa está na app e ela sabe que o match pode ou não render. Se não houve papo legal, se não vai dar em namoro ou em sexo, não faz sentido continuar a falar. A outra pessoa também sabe disso, porque a rotatividade nesses aplicativos é grande."
Tem medo de afetar a auto-estima do outro? Estas aplicações não são, segundo Aline Castelo Branco, o sítio para se estar a preocupar com isso. "O problema é sempre do outro. Você está lá a curar uma dor que é sua: ou porque está a curar as feridas de um ex, ou porque é tímida e tem problemas de interação."
8. Não perca tempo para marcar o primeiro encontro
Muito importante: não embarque numa interminável conversa com uma pessoa com quem teve contacto numa aplicação, sem conhecê-la presencialmente primeiro. Aline Castelo Branco nota que essa é a realidade portuguesa, muito diferente comparativamente à brasileira, muito mais célere.
“Se fez o mach e começou a conversar, viu que havia conexão, marca logo um encontro. Esses aplicativos são um mundo. Existem milhares de pessoas e, se não convidar logo, vem outro e convida.”
Não há uma regra estanque para isto, mas o ideal é ser rápido: "Não existe um tempo, mas é aconselhável que seja logo para identificar se existe ou não a possibilidade de acontecer algo, após a primeira conversa."
Quem é que deve convidar? O homem ou a mulher? Não há uma regra. Porém, culturalmente, ainda existe uma expectativa: “As meninas com quem eu conversei diziam que os homens demoravam muito tempo a convidar. Não se pode negar: é uma questão cultural que a mulher fique à espera, não toma iniciativa e tudo se prolonga.”