Cristiano Ronaldo lançou, no início deste mês de junho, a sua marca de água. Chama-se Ursu9 e vem com um rótulo de água alcalina e antioxidante, como pode ler no “Sapo”. A MAGG quis perceber o que estes conceitos significam e se têm realmente benefícios para a saúde das pessoas.

Para isso, foram entrevistadas duas nutricionistas. Conceição Calhau é especializada em nutrição e professora na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e Catarina Sousa é nutricionista no Hospital Lusíadas de Lisboa. As suas perspectivas profissionais são cruzadas para responder a cinco questões essenciais ao tema.

Apesar de ser de conhecimento geral que a água é fundamental para a saúde, continuamos a “negligenciar o tema”. Esta opinião é de Conceição Calhau, que refere que, “em Portugal, há uma baixa ingestão de água, e cada vez mais as pessoas preferem outras bebidas” em vez desta. A nutricionista salienta ainda que “o estado de hidratação é uma preocupação porque envolve também a performance cognitiva”. 

1. A água pode ser antioxidante? Quais são as vantagens?

“A água é a forma mais simples e essencial de hidratação. E essa água pode ser aditivada alguns componentes. No entanto, representá-la como tendo poder antioxidante não é o mais correto”, comenta Catarina Sousa. A nutricionista assegura que “existem alguns alimentos que têm esta capacidade antioxidante”, ou seja, “não é preciso recorrer à água para ir buscar esse poder antioxidante, basta fazer uma alimentação mais variada, com fruta ou legumes”.

A profissional de saúde salienta, inclusive, que “a sua adição à água, para ter um poder antioxidante, tem de ser em quantidades que podem alterar o valor nutricional da água e a sua grande função”.

2. E pode ser alcalina?

Catarina Sousa
Catarina Sousa é nutricionista no Hospital Lusíadas de Lisboa

Catarina Sousa esclarece o que significa, para a água, poder ser considerada alcalina. “Água alcalina é uma água na qual, à partida, existe uma alteração ao nível do ph”. “Em termos de benefícios, não existe evidência científica que nos leve a recomendar uma água alcalina em vez de uma água considerada normal”, conclui a nutricionista.

Sobre estes dois aspetos tão publicitados em várias marcas, Catarina termina por dizer que “a água que temos disponível em Portugal sofre inúmeros tratamentos e controlos de qualidade”, pelo que “não existe nenhum acréscimo do ponto de vista de saúde” ter estas características, visto que “a função da água é simplesmente hidratar”, relembra.

3. Devemos consumir água da torneira ou engarrafada?

Conceição Calhau
Conceição Calhau é nutricionista e professora na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa

Conceição Calhau reflete que “o disparar da comunicação da água da torneira vem muito colado a uma preocupação mundial sobre o plástico”. Embora a composição da água da torneira possa ser mais desconhecida, como salienta a nutricionista, a água de rede pública em território nacional tem a sua qualidade controlada, conforme explicou Catarina Sousa.

Assim, passa mais por uma questão de as pessoas, “ao abrirem a torneira, verificarem se a água tem uma coloração ou odor diferentes, e aí não devem consumi-la. Mas na maioria dos casos, estando a água com os aspetos organoléticos totalmente conformes, é pouco provável que exista algum perigo”, completa a profissional do Hospital de Lusíadas.

No entanto, a mesma não descarta a possibilidade de haver vantagens na água engarrafada. “Pode existir algum reforço em termos de mineralização para a água engarrafada, mas do ponto de vista nutricional, não podemos considerar que existe uma superior em relação à outra”, conclui.

4. Vale a pena investir numa água mais dispendiosa?

Conceição Calhau considera que, sendo a água um alimento do qual necessitamos diariamente, “vale a pena investir na sua qualidade”. Já Catarina Sousa, afirma que, em Portugal, a qualidade da água da torneira assegura as necessidades da população. Ainda assim, reconhece que “todas as outras são águas também podem ser consumidas sem perigo, mas não têm um benefício extra”.

5. E a água filtrada, é uma boa alternativa?

“A água filtrada não é mais do que a água da rede pública que submetemos a um determinado filtro para se poder consumir”, esclarece Catarina Sousa. “Sofre uma filtração seguinte à que a água de rede pública já tem, mas não tem benefícios nem malefícios. O importante é que se tenha atenção à manutenção e ao tipo de filtro que se adquire, para garantir que não retiram os minerais associados à água de rede pública”, explica, para as pessoas que têm preferência por este método.