A artrite reumatoide pode ainda ser uma doença desconhecida para a maioria da população, mas a verdade é que se estima que afete entre 50 a 70 mil portugueses, muitos deles por diagnosticar e alguns por tratar. Apesar de ser uma doença crónica, o tratamento pode levar à remissão da patologia e fazer com que o paciente tenha uma vida sem limitações ou incapacidades.

António Vilar, reumatologista coordenador da unidade de reumatologia do Hospital Lusíadas Lisboa, explica à MAGG que a artrite reumatoide é uma doença inflamatória crónica de causas ainda desconhecidas e que afeta de forma generalizado os órgãos, tendo maior expressão nas articulações.

Esta associação faz fisioterapia respiratória grátis a pessoas com sequelas da COVID-19
Esta associação faz fisioterapia respiratória grátis a pessoas com sequelas da COVID-19
Ver artigo

Esta doença, cujos primeiros sintomas surgem habitualmente entre os 30 e os 50 anos, afeta, segundo o especialista, duas a três vezes mais mulheres do que homens, embora a frequência seja igual quando o aparecimento é tardio e a doença só diagnosticada em idades mais avançadas.

Dores, "inicialmente por crises agudas com incapacidade e duração variáveis", inchaço das articulações com calor local, e agravamento noturno ou pela madrugada, seguido de uma rigidez matinal superior a uma hora, são alguns dos sintomas mais frequentes que, segundo António Vilar, devem despertar a atenção do médico para esta doença.

"Inicialmente são mais atingidas as mãos e os punhos, os pés e os cotovelos, ombros, joelhos e tornozelos. A coluna cervical e as articulações mandibulares (abrir e fechar a boca) podem também ser afetadas, mas mais raramente", explica o especialista, alertando que se estes sintomas persistirem por mais de quatro semanas, a pessoa deve consultar um reumatologista.

António Vilar
António Vilar é reumatologista no Hospital Lusíadas Lisboa

"Um sinal mais frequente e de precoce manifestação da artrite pode também ser a anemia, que pode preceder de meses ou anos o despertar da artrite reumatoide", alerta ainda, recordando que sendo esta uma doença sistémica pode afetar outros órgãos ou sistemas como por exemplo a pele — "com aparecimento de nódulos duros e móveis" — os olhos ( "sensação de areias ou corpo estranho") ou a boca. "Os pulmões, rins e coração podem mais raramente ser afetados", refere ainda o especialista.

Mas, afinal, como é feito o diagnóstico e em que consiste o tratamento?

De acordo com António Vilar, "o diagnóstico é clínico, ouvindo o doente sobre o modo de início, a localização e as características da dor, observando e palpando as articulações". Em caso de dúvida, a patologia pode ainda confirmar-se com algumas análises mais especificas — mas que, como refere o especialista, nem sempre estão positivas — e meios de imagem como o RX, a ecografia com técnica adequada e ressonância: "se houver dúvidas quanto à atividade inflamatória e localizações da doença, sobretudo em formas assintomáticas ou de baixa inflamação".

Apesar de as causas para o aparecimento da doença serem ainda desconhecidas, o especialista refere que é já possível identificar alguns fatores de risco nas mulheres, como o tabagismo e algumas infeções bacterianas ou virais suspeitadas. Deste modo, manter um estilo de vida saudável pode ajudar a impedir o aparecimento da patologia .

"Dou graças à vida por me manter viva". As histórias de quem passou pelo cancro do ovário
"Dou graças à vida por me manter viva". As histórias de quem passou pelo cancro do ovário
Ver artigo

Quanto à hereditariedade, o reumatologista refere que esta não é uma doença hereditária, mas que as causas genéticas existem. "Existe uma tendência para que ocorra em certas famílias e os estudos em gémeos mostram que se um deles tiver artrite reumatoide a probabilidade de o outro vir a ter é quase 20 vezes superior ao risco da população geral. No entanto, a contribuição dos genes é estimada em 60% o que significa que outros fatores existem", frisa António Vilar.

Sem falar em cura, o reumatologista indica que o  tratamento adequado pode levar à remissão da doença e fazer com que a pessoa tenha uma vida sem limitações ou incapacidades. "Descuidada ou não tratada é uma causa importante de reformas antecipadas e invalidez precoce", afirma. 

Deste modo, António Vilar defende que "iniciar o mais cedo possível os fármacos modificadores da doença (e não ficar apenas pelos anti inflamatórios ou analgésicos) e procurar um reumatologista nos primeiros seis meses da doença", é crucial para o doente. Além disso, "conhecer melhor a sua doença e informarem-se em locais fidedignos", como o site da Sociedade Portuguesa de Reumatologia ou  a  Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatoide é, segundo o especialista, essencial.  "É sabido que nos doente mais informados a gravidade da artrite reumatóide é menor e o prognóstico melhor", remata António Vilar.