Suores frios, palpitações, palmas suadas, falta de ar. Segundo o relatório anual Programa Nacional para a Saúde Mental, divulgado pela Direção Geral de Saúde (DGS) no final do ano passado, o número de utentes diagnosticados com ansiedade passou de 3,51% (2014) para 6,06% (2016). Mas estes números dizem respeito apenas a pessoas inscritas nos centros de saúde. Calcula-se que 16,5% da população portuguesa sofra de um qualquer tipo de ansiedade, o que nos coloca em primeiro lugar no ranking europeu.
Considerada por muitos especialistas como a doença do século XXI, a forma como se desenvolvem tratamentos no âmbito da ansiedade pode estar prestes a mudar. Num estudo realizado com ratos domésticos, neurocientistas da Columbia University Medical Center e da Universidade da Califórnia conseguiram identificar as células cerebrais que controlam a ansiedade. O estudo foi publicado na revista "Neuron" em fevereiro.
Não é a primeira vez que a ciência consegue identificar uma relação entre um determinado número de células e a ansiedade. No entanto, esta é a primeira investigação em que os cientistas conseguem criar uma relação entre células e o estado real de ansiedade de um animal — independentemente do seu ambiente. As células da ansiedade foram descobertas no hipocampo, e os investigadores acreditam que estejam presentes de igual forma no cérebro humano.
Como é que o estudo foi realizado
Os ratos do estudo tinham duas áreas distintas para explorar: uma em que se sentiam seguros e outra inseguros. Com um microscópio em miniatura inserido no cérebro dos animais, os cientistas foram registando a atividade de centenas de células no hipocampo. Sempre que os ratos estavam em ambientes perigosos, um número específico de células era ativada. E quanto mais ansiosos eles se sentiam, maior a atividade dessas células.
Com uma técnica conhecida como optogenética, que permite controlar a atividade dos neurónios através de feixes de luz, os investigadores descobriram as células que controlam os comportamentos de ansiedade. Quando eram silenciadas, os ratos paravam de produzir comportamentos relacionados com o medo. Quando eram estimuladas, mesmo em ambientes em que se deviam sentir seguros, eles exibiam medo.
Este estudo pode mudar a forma como tratamos a ansiedade?
A ansiedade faz parte de nós. Para os humanos ou animais, a ansiedade funciona como um alerta que faz evitar ambientes potencialmente perigosos. É uma parte natural e útil da vida — até se tornar descontrolada. Quando chega a esse ponto, ela não é apenas inútil, é angustiante.
É possível tratar a ansiedade, e existem tratamentos que ajudam a controlar este estado. No entanto, os métodos atuais têm também desvantagens significativas, como por exemplo os efeitos colaterais dos medicamentos mais comummente prescritos.
Então e pode este estudo ajudar a mudar isso? Os investigadores acreditam que sim. "Agora que encontrámos essas células no hipocampo, abrem-se novas áreas para explorar as ideias de tratamentos que não sabíamos que existiam antes", disse Jessica Jimenez, a principal autora do estudo.
Em entrevista à norte-americana National Public Radio, Joshua Gordon, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental, que ajudou a financiar o estudo, explicou: "Se pudermos aprender o suficiente, poderemos desenvolver ferramentas para ligar e desligar os principais atores que regulam a ansiedade nas pessoas."
Ainda assim, fica o alerta: isto não significa curar toda a gente. "Temos de encarar este estudo como um tijolo numa grande parede."