Todos temos aquele amigo que não engorda, por mais que coma. Saiu da quarentena exatamente igual ao que estava antes, o que não significa que não tenha comido mais. Este espécime humano parece ter uma particularidade distinta, que lhe atribuiu um organismo para o qual o aumento de peso é um desafio: segundo sugere um novo estudo, publicado a 21 de maio na revista científica "Cell", estas pessoas têm o o gene ALK — o do quinase do linfoma anaplásico —, que fica localizado na região cerebral do hipotálamo, a zona do cérebro responsável por controlar o apetite e a forma como é controlada a gordura dos indivíduos.

Para o estudo, os investigadores usaram uma base de dados com 42.102 pessoas da Estónia, com idades entre os 20 e os 44 anos, que incluía informação e amostras biológicas. Aqueles que tinham um percentil de peso entre os 30 e os 50 formaram um grupo de controlo. Os cientistas começaram, então, por identificar as variantes genéticas destas pessoas, tendo identificado o gene ALK como o provável gene da magreza.

“Não é obeso quem quer. É obeso quem pode”
“Não é obeso quem quer. É obeso quem pode”
Ver artigo

Para descobrirem se as ALK desempenhavam, de facto um papel relevante no controlo do peso, os investigadores acrescentaram esta característica genética em moscas, descobrindo que os níveis de triglicerídeos — a forma das gorduras nos alimentos e corpo humano — surgiam em menores quantidades. Depois do teste em moscas, foi a vez dos ratos: os animais perderam peso, contrariamente a outros ratos, fora do grupo de controle, a quem estava a ser dada exatamente a mesma dieta e quantidade de comida.

Esta última experiência é, para os investigadores, aquela que mais sustenta a suspeita de que o ALK afeta o circuito cerebral, resultando num dispêndio energético mais eficiente. É por este motivo, sugerem os autores do estudo, que é por isso que há pessoas magras que comem normalmente, fazendo vários snacks, inclusivamente, não conseguem ganhar peso.

Para Josef Penninger, investigador do Instituto de Biotecnologia Molecular (IMBA) de Viena, e co-autor deste estudo, a descoberta poderá resultar em mais tratamentos para a obesidade. No entanto, deixou a ressalva: "Obviamente, um comprimido não pode substituir um estilo de vida saudável", acrescentando que serão necessários mais estudos, de forma a que se possa perceber em que medida é que estes genes poderão impactar o ganho de peso.