Acreditamos que o mundo se divide em dois tipos de pessoas: os que não dispensam ananás na pizza e os que levam as mãos à cabeça só por ouvirem “ananás” e “pizza” na mesma frase; os que estão sempre com frio e os que estão sempre com calor (há uma explicação para isso, já agora); e os que tomam banho sempre de manhã ou sempre à noite.
Segundo os especialistas, não há problema se preferir entrar na banheira quando acorda ou antes de se deitar. O mesmo já não se pode dizer se gosta de tomar banho com a água a mais de 40 graus ou se demora mais de dez minutos. E afinal com que regularidade devemos tomar banho? Podemos fazê-lo todos os dias ou é melhor variar entre dia sim, dia não?
A MAGG falou com Helena Toda Brito, dermatologista no Hospital Lusíadas Lisboa, para esclarecer todas as dúvidas sobre banhos. Não são apenas curiosidades, até porque há riscos associados aos banhos em excesso. A dermatologista explica.
Com que regularidade devemos então tomar banho?
Não existe uma recomendação universal para a regularidade com que se deve tomar banho, uma vez que varia consoante diversos fatores, como a idade, tipo de pele, clima, profissão e nível de atividade física.
De um modo geral, é recomendável um duche diário no adulto. Em certos casos, como nas pessoas que transpiram muito, atletas e habitantes de climas tropicais, pode estar indicado mais do que um duche por dia.
Nas pessoas de mais idade e de pele muito seca, o banho completo diário não é tão necessário, podendo ser alternado com a limpeza dirigida à face, axilas, nádegas, genitais e pés nos dias em que não se toma o banho completo.
Se fizermos exercício físico diariamente, devemos tomar banho todos os dias?
Sim, é fundamental tomar banho assim que possível após a prática de exercício físico. Permanecer longos períodos de tempo com a pele transpirada pode contribuir para o aparecimento de problemas de pele como acne, foliculite, infeções fúngicas e eczema (inflamação da pele).
O ambiente onde vivemos também pode influenciar a frequência com que tomamos banho?
Sim. Nos climas tropicais as pessoas acabam por ter a pele transpirada grande parte do dia, podendo sentir necessidade de tomar mais de um duche por dia. Já nos climas temperados um banho diário é suficiente na maioria dos casos.
As pessoas que vivem em ambientes poluídos também podem necessitar de banhos mais frequentes, para remover a sujidade e partículas de poluição da superfície da pele.
E o tipo de pele?
As pessoas com pele normal e oleosa têm necessidade de duches mais frequentes do que as pessoas com pele seca.
As pessoas com pele seca podem tomar banho diário, desde que tenham cuidados redobrados para evitar secura adicional: tomar duches curtos com água morna, usar produtos de limpeza suaves, ensaboar apenas as zonas do corpo que necessitam de maior higiene (tronco, axilas, nádegas, genitais e pés) e aplicar creme hidratante logo após o duche (idealmente dentro de três minutos, ainda com a pele humedecida).
Os miúdos e adultos devem tomar banho com a mesma regularidade?
A frequência com que uma criança precisa de tomar banho depende da idade e das atividades que realiza. Segundo as recomendações da Academia Americana de Dermatologia, as crianças até à adolescência não necessitam de tomar banho todos os dias (embora o possam fazer), sendo aconselhável tomar banho no mínimo uma a duas vezes por semana, e sempre que se sujarem, praticarem atividades aquáticas (na piscina, lago, mar, etc.), transpirarem ou tiverem um odor corporal desagradável.
Na realidade, como as crianças são muito ativas e acabam por se sujar ou transpirar diariamente, tal reflete-se na maioria dos casos em banhos diários, como no adulto.
A partir da adolescência é recomendável um duche diário, à semelhança do adulto.
O tipo de champô e sabonete é importante?
O produto de limpeza para a higiene do corpo deve ser suave, com pH fisiológico (5,5). Nas peles mais sensíveis deve optar-se por produtos sem perfume e, nas peles mais secas, dar preferência aos produtos com propriedades hidratantes (contendo ingredientes na sua composição que deixam uma película protetora na superfície da pele).
Os champôs devem ser suaves e adequados ao tipo de cabelo (exemplo: cabelos oleosos, finos, pintados, etc.).
É melhor usar gel de banho ou sabonete?
Existem atualmente no mercado boas opções quer em gel quer em sabonete sólido, podendo a escolha da formulação ser feita de acordo com as preferências de cada um.
Na verdade, mais importante do que a formulação é o pH do produto, que deve ser fisiológico (igual ao da pele, ou seja 5.5), e a sua composição.
De um modo geral os produtos mais suaves para a pele são os identificados como "creme lavante", "óleo lavante" e "surgras", que contém ingredientes hidratantes na sua composição (exemplo: manteiga de karité, óleo de coco, glicerina), bem como os produtos "syndet" (junção das palavras "synthetic" e "detergent", referindo-se a sabonetes sem sabão).
A temperatura da água também é importante?
A temperatura da água deve rondar os 37 graus, sendo de evitar as temperaturas acima dos 40. A água muito quente liquidifica os óleos naturais da pele (o sebo), promovendo a sua remoção excessiva e tornando a pele mais seca.
E há algum tempo máximo para tomar banho?
Os banhos prolongados devem ser evitados, porque dão mais tempo à água e produtos de higiene para serem lesivos para a pele. Um duche não deve durar mais do que dez minutos, devendo ser ainda mais curto nas pessoas com pele muito seca.
Há algum risco associado a tomar banho com demasiada frequência?
O principal problema dos banhos demasiado frequentes é a remoção excessiva dos óleos naturais da pele, tornando a pele seca, áspera e com prurido ("comichão"), podendo evoluir para eczema (inflamação da pele).
Por outro lado, os banhos exagerados podem comprometer as funções de defesa da pele, não só pela secura em si (que provoca descamação e pequenas "gretas" na pele, deixando-a mais sujeita a infeções e outras agressões do exterior), como pelo desequilíbrio que pode provocar na flora cutânea (conjunto de bactérias e fungos que vivem naturalmente na nossa pele, evitando a proliferação de microrganismos patogénicos), aumentando a susceptibilidade a infeções.