Talvez muitos não saibam, mas existe mesmo um Dia do Sexo Anal. Celebra-se a 18 de abril e mais do que um motivo para convidar o parceiro, é o momento ideal para consciencializar para uma prática mais segura. Para além do prazer, dos orgasmos que pode proporcionar e dos ganhos na intimidade, o sexo anal pode também ter alguns riscos quando não praticado devidamente. Precisamente no dia em que celebra esta efeméride, a MAGG foi conhecer alguns dos perigos, desmascarar os mitos e como partilhar com o parceiro que gostava de experimentar.
Para isso, falámos com Megwyn White, sexóloga clínica certificada e diretora de educação na Satisfyer (marca de produtos de bem-estar sexual), que sabe explicar tudo sobre sexo anal melhor do que ninguém.
"O sexo anal refere-se mais frequentemente à penetração anal com um pénis, mas também pode incluir penetração anal com os dedos, brinquedos de bem-estar sexual, ou outras formas de estimulação anal, como anéis, um strap-on [cinto que inclui um dildo], ou plugs anais", explica à MAGG.
O strap-on, para os casais heterossexuais, funciona como uma inversão de papéis, uma vez que neste caso é a mulher que penetra o homem, uma prática conhecida como pegging. Contudo, é o sexo masculino quem tem uma maior curiosidade sobre esta experiência, diz a sexóloga.
"O sexo anal pode ser particularmente excitante para os homens por estimular a próstata, uma glândula do tamanho de uma noz, cheia nervos e responsável por orgasmos no sexo masculino. Esta glândula, infelizmente, nem sempre é estimulada. É por isso que existe, provavelmente, um fascínio natural para os homens, combinado com o facto de haver tabus em torno do sexo anal", esclarece Megwyn White.
Apesar de existir cada vez mais abertura para temas relacionados com a sexualidade, acompanhada de uma vasta oferta de formas de dinamizar as práticas sexuais, os tabus são uma realidade ainda muito presente — e o sexo anal não é exceção. Porquê? Em parte porque o sexo anal continua a estar associado à homossexualidade mas, de acordo com a sexóloga, não tem nada que ver com a orientação de cada indíviduo.
"É apenas mais uma maneira de explorar todas as formas de prazer. Há milhares de terminações nervosas prazerosas associadas ao ânus e muitas estão diretamente ligadas aos órgãos genitais", explica.
Até agora temos falado quase só sobre prazer, mas muitas vezes associa-se o sexo anal a dor, quer para homens ou mulheres, ou a uma prática egoísta, que beneficia apenas os homens. Será mesmo assim? Ponto por ponto, esclarecemos todos os mitos.
1. O sexo anal é o melhor contracetivo
Se pensar assim, está a arriscar-se a uma multiplicidade de doenças. Quer ver quão comprida é a lista? "Doenças sexualmente transmissíveis como gonorreia, clamídia, hepatite infeciosa e VIH [vírus da imunodeficiência humana]. Algumas destas infeções podem transmitir-se mais facilmente através do sexo anal devido ao revestimento sensível do ânus. É muito mais fino e pode ser corrompido se houver demasiada fricção", refere Megwyn.
Assim, mesmo que o sexo anal signifique que não há possibilidade de engravidar, o preservativo deve ser usado durante as relações sexuais. Algo que também deve ter sempre à mão antes desta prática é o lubrificante, aconselha a especialista.
2. Depois do sexo anal, posso passar ao sexo vaginal
Aqui está mais um mito (e dos grandes). "Definitivamente, não queremos passar do sexo anal para o vaginal, uma vez que podem transferir-se bactérias e dar origem a infeções vaginais", esclarece a sexóloga clínica.
3. O sexo anal é sempre doloroso
"De modo algum", responde prontamente Megwyn White. De acordo com a sexóloga, a dor só existe quando o sexo anal não está a ser feito corretamente ou existe alguma tensão no esfíncter anal e nos músculos do reto (acima do ânus). Nesse caso, deve parar a prática com o parceiro para juntos encontrarem a melhor técnica de penetração ou introduzir um lubrificante.
"Nunca deve suportar [a dor] como se estivesse a ser bom", alerta a sexóloga. A melhor forma de começar é "devagar, com movimentos suaves" e, "uma vez apanhado o jeito, aprenderá a usar a respiração e a mente para relaxar os músculos". O sexo anal não é mais doloroso para nenhum dos sexos, devendo apenas proporcionar um momento de prazer em que o parceiro "mantém-se presente" e atento ao que está a sentir.
4. Só com o treino é possível vencer a dor
Mentira. Existem uma multiplicidade de brinquedos sexuais que ajudam a ficar mais à vontade com a prática e não ter dor. É aqui que entram os plugs anais, "que podem ser usados adicionalmente durante o sexo vaginal para melhorar a experiência", mas neste caso têm como objetivo ajudar a treinar o relaxamento dos músculos, algo essencial para o sexo anal. As bolas anais Satisfyer Love Beads ou o plug Satisfyer Booty Call são alguns dos estimuladores sexuais que podem ajudar. No caso deste último, apresenta "formas sensuais que acrescentam muito prazer no momento da penetração", diz a sexóloga.
5. É verdade ou mentira que o sexo anal pode alargar o ânus?
Há tabus que parecem tão irreais, que só pelo facto de existirem, lançam a dúvida. Mas a sexóloga Megwyn White esclarece. "É definitivamente um mito", diz. "À medida que o sexo anal é praticado, torna-se mais fácil aprender a relaxar os músculos e o corpo volta ao normal pouco depois", continua a especialista.
6. O sexo anal só permite orgasmos aos homens
Como qualquer prática sexual a dois, o objetivo não é dar prazer apenas a um. Também o sexo anal pode dar prazer a ambos os sexos e causar múltiplos orgasmos, já que, como explicado por Megwyn White, existem várias terminações nervosas no ânus. "Poderá descobrir que os orgasmos são mais intensos com o sexo anal, uma vez que atinge mais ligações nervosas, leva a uma respiração mais profunda e exige estar mais presente na experiência", destaca.
A prática tem como benefícios, acima de tudo, o facto de dinamizar a relação, de criar mais intimidade e aumentar a excitação no momento das relações sexuais. "O facto de o sexo anal ser um tabu também pode ajudar a aumentar a excitação", diz a sexóloga à MAGG.
7. O meu parceiro nunca vai aceitar fazer sexo anal
E se fizer hoje mesmo a proposta? Megwyn White dá uma ajuda. "Uma vez que existem estigmas e vergonha sobre o sexo anal, é melhor ser um pouco mais cuidadoso quando partilha [esse desejo]. Pode estar um pouco nervoso, e não faz mal. Na verdade, pode funcionar a seu favor, uma vez que partilhar com confiança e diretamente pode ser intimidante para o seu parceiro", aconselha.
A especialista aconselha a que partilhe a sua curiosidade com o parceiro, dando espaço para que a sugestão seja assimilada. "Deixe-o saber que é apenas algo em que tem pensado e que não precisa de responder no momento", diz Megwyn e acrescenta: "Se este disser que não está definitivamente aberto a explorar, é importante respeitar a decisão".
Como refere Megwyn, sugerir já é "uma grande vitória" e pode abrir caminho para que, no momento certo, esteja em harmonia com o parceiro no desejo de experimentar o sexo anal.