Há alturas em que a solidão consegue ser maravilhosa. Depois de um dia inteiro de trabalho, com problemas por resolver, discussões ocasionais e stresse absoluto, o silêncio. O namorado ou marido, se existem, estão fora, os filhos ficaram em casa dos avós — ou ainda são um projeto, quem sabe. Naquele momento, não há ninguém a fazer-nos pedidos ou exigências, e a única coisa com que temos de nos preocupar é se há gelado no congelador ou o que ver a seguir na Netflix.

Para algumas pessoas, este cenário é bastante familiar. Para outras, é simplesmente impensável. Há quem se debata com um medo profundo e angustiante de ficar sozinho, mesmo que no conforto do quarto ou apartamento que lhes é tão familiar. Quando a porta se fecha, o doce sabor da solidão é um autêntico veneno — e os sintomas físicos e psicológicos não tardam a surgir.

Monofobia é o nome dado à fobia de quem tem medo de estar sozinho — isolofobia e autofobia também são outras denominações para este problema. "Esta condição pode resultar numa ansiedade severa, já que as pessoas com monofobia sentem que precisam de outra pessoa ou de outras pessoas para se sentirem seguras", explica à MAGG Cristiana Pereira, da Oficina de Psicologia.

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O conceito não consta no DSM-V, o manual de diagnóstico de perturbações mentais, portanto "podemos olhar para a designação apenas como conceito clínico", continua a especialista. Enquanto conceito clínico, a monofobia é de facto uma fobia, como o próprio nome indica, uma vez que se caracteriza por um medo "persistente, irracional e excessivo".

"A monofobia é considerada uma fobia situacional, o que significa que o estar sozinho ou a solidão causa uma extrema angústia, interferindo com a rotina diária da pessoa."

Mas não é preciso estar sozinho para sofrer com esta fobia. "Por vezes, as pessoas com monofobia podem sentir-se sozinhas mesmo quando estão em grupo, já que se sentem desconectadas das pessoas à sua volta."

Os sintomas da monofobia

Tal como acontece com outros tipos de fobias, o medo de estar sozinho também desencadeia diversos sintomas físicos e psicológicos.

— Tonturas ou vertigens;
— Sensação de falta de ar;
— Aumento do batimento cardíaco;
— Palpitações;
— Suores;
— Dor no peito;
— Náuseas;
— Tremores;
— Dormência ou formigueiro;
— Incapacidade de distinguir entre realidade e irrealidade;
— Medo de morrer;
— Medo de perder o controlo ou de desmaiar.

Porque é que há pessoas que têm tanto medo de ficar sozinhas?

"A causa da monofobia é desconhecida. Pode relacionar-se com experiências de vida que criam um medo de abandono, mas não há estudos suficientes que suportem esta teoria."

Ainda assim, explica a psicóloga, sabemos que a monofobia pode desenvolver-se como resultado de outras perturbações de ansiedade. "Por exemplo, uma pessoa que tem ataques de pânico pode ter medo de ter um ataque de pânico quando está sozinha e não tem ninguém por perto para a ajudar, o que pode levá-la ao medo de ficar sozinha."

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Uma relação tóxica também pode ser um problema para estas pessoas. "A monofobia pode trazer alguma pressão sobre os relacionamentos. Uma das principais razões para estas pessoas começarem um relacionamento e, muitas vezes, a razão pela qual permanecem num relacionamento não-saudável, é o medo de ficarem sozinhas. E, como sabemos, um relacionamento baseado no medo está destinado a ser um relacionamento muito infeliz e insatisfatório."

Para quem sofre deste problema, é importante procurar ajuda — sobretudo se estiver num ponto em que a fobia se torna incapacitante. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a terapia de exposição são utilizadas com frequência no tratamento de fobias.