Aos 69 anos, Oprah Winfrey exibe uma silhueta elegante, onde a redução de peso é mais do que notória. Durante décadas, a apresentadora norte-americana debateu-se publicamente com o excesso de peso, sendo visíveis as oscilações no seu corpo, bem como as constantes dietas que recomendava no seu programa diário "The Oprah Winfrey Show", que apresentou desde 1986 até 2011, ao longo de 25 anos.
Aliás, um ano depois da estreia do popular talk-show norte-americano, que chegou a ser transmitido em Portugal na SIC Mulher, a apresentadora exibia uma figura magra e entrou em estúdio com um carrinho de mão a carregar cerca de 30 quilos de gordura animal, uma metáfora visual muito gráfica para o peso que tinha perdido até então. Anos mais tarde, numa entrevista, Oprah admitiu ter sido dos maiores erros que cometeu em televisão.
"Acho que nenhuma figura pública viu as suas questões com o excesso de peso serem tão exploradas quanto eu", disse Oprah em setembro deste ano durante a condução de um painel sobre obesidade, perda de peso e o uso de medicamentos para a diabetes para este fim, no contexto da sua série "The Life You Want", onde contou com um painel de especialistas médicos.
Foi também durante esta conversa que Oprah Winfrey revelou o seu peso máximo: 112 quilos. Este é um número muito diferente do que apresenta agora, dado que a perda de peso da apresentadora ao longo de 2023 tem sido muito notória, sendo estimado que tenha perdido cerca de 20 quilos, e esteja a rondar os 69 quilos atualmente, salienta o site Pink Villa.
Mas a que se deve esta perda de peso? No painel de especialistas, Oprah Winfrey não teve problemas em referir-se ao Ozempic, nome comercial dado ao medicamento semaglutido, "indicado, em Portugal e na União Europeia, para o tratamento de doentes adultos com diabetes mellitus tipo 2 insuficientemente controlada", pode ler-se na Infarmed, Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.
"Quando ouvi falar pela primeira vez destes medicamentos para a perda de peso, tinha acabado de fazer uma operação ao joelho [Oprah foi submetida a cirurgias aos dois joelhos em 2021]. Mas pensei: 'preciso fazer isto sozinha'. Se eu tivesse optado pelos medicamentos, era a saída mais fácil", revelou durante o painel. "Quando voltei para casa pela primeira vez, literalmente não conseguia levantar a perna. Não conseguia levantar o calcanhar da cama e prometi que se algum dia fosse capaz de me levantar, andar e de me mover outra vez, que aproveitaria o movimento, o exercício e a possibilidade de estar no meu corpo", acrescentou.
Espreite Oprah Winfrey ao longo dos anos
Assim, Oprah Winfrey garante que a perda de peso se deve a uma mudança de estilo de vida, tanto a nível de alimentação como de exercício físico. Mas é inegável que o recurso a estes medicamentos é a saída para muitas pessoas que sofrem de obesidade, levando a uma escassez atual de remédios como o Ozempic em Portugal.
"São remédios seguros e eficazes, tanto para tratar a diabetes tipo 2, como para a obesidade e o excesso de peso"
Em abril deste ano, numa reportagem da RTP, uma farmacêutica com mais de 15 anos de experiência falava da procura desmedida pelo Ozempic, que assumia nunca ter experienciado na carreira e que levava as farmácias a deixarem de ter listas de espera para este medicamento. "Começámos a ter muitos pedidos, não só para tratar da diabetes, mas também da obesidade. Recebemos uma ou duas caixas, e se começamos a ligar, ligamos a umas 50 pessoas por dia", pode ouvir-se na mesma peça.
Na terça-feira, 21 de novembro, a Novo Nordisk, laboratório responsável pela comercialização do Ozempic, anunciou que vai racionar as doses iniciais do medicamento na Europa face ao aumento do seu uso para perder peso, escreve o "Público". O laboratório vai ter uma ação semelhante com o Victoza (liraglutido), ao reduzir os fornecimentos deste para dar prioridade à produção de Ozempic, mas a escassez deverá manter-se até ao início de 2024.
Mas porque é que estes medicamentos para a diabetes são tão eficazes para a perda de peso e, acima de tudo, são seguros? "São remédios seguros e eficazes, tanto para tratar a diabetes tipo 2, como para a obesidade e o excesso de peso", diz à MAGG o médico endocrinologista João Jácome de Castro, que é também o presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo.
"De referir que o Ozempic é um de uma classe onde há mais remédios — aliás, no primeiro semestre de 2024 estamos a aguardar a chegada de uma outra classe ainda mais segura e eficaz —, mas é verdade que apresenta muitos bons resultados, o que resulta também numa grande procura e na escassez a que assistimos", refere o especialista.
A eficácia destes medicamentos é enorme, e João Jácome de Castro refere que existem duas vertentes com que os mesmos podem ser prescritos. "O semaglutido tem o nome comercial de Ozempic para o tratamento da diabetes e de Wegovy para o tratamento da obesidade, embora este último não exista em Portugal. Já a liraglutida tem o nome comercial de Victoza para a diabetes e de Saxenda para a obesidade. Ou seja, é o mesmo medicamento, mas com doses maiores ou menores para as finalidades diferentes."
O sucesso destes medicamentos prende-se com vários fatores. "Atuam diretamente no pâncreas e aumentam a quantidade de insulina produzida, diminuem o apetite ao comunicar na base deste mecanismo no cérebro, e ainda, ao atrasar o esvaziamento de estômago, emitem um estímulo no centro de saciedade do cérebro. As pessoas sente-se mais saciadas e com menos fome", explica o especialista.
"A um ano, há estudos que indicam pessoas a perderem 15% do seu peso, outras têm perdas média de 17% também num ano. Aliás, os novos medicamentos que chegam no próximo ano têm dados a apontar perdas de 23% no mesmo período", indica João Jácome de Castro.
"10% da população portuguesa sofre de diabetes, mas mais de 50% dos portugueses tem excesso de peso"
As injeções de Ozempic são, na visão de João Jácome de Castro, muito úteis para o tratamento da diabetes tipo 2 e também da obesidade. No entanto, não há dúvidas sobre as prioridades. "Sempre que há escassez no mercado, a prioridade tem de ser dada aos doentes com diabetes", refere o especialista.
No caso das prescrições para diabéticos, o Ozempic — que custa perto de 100€ — tem uma comparticipação do estado de 90%, o que coloca o custo do medicamento à ronda dos 12€, salienta a RTP. Já no caso de ser receitado para combater a obesidade, não há qualquer comparticipação.
"As sociedades portuguesas deste área da saúde defendem que seria adequado um regime de comparticipação também para o tratamento da obesidade. Os dados estão aí: 10% da população portuguesa sofre de diabetes, mas mais de 50% dos portugueses tem excesso de peso. No entanto, não nos compete a nós, médicos, a decisão da comparticipação, mas sim às autoridades de saúde, e não vamos estar a furar a lei", conclui o presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo.