Introvertidos e extrovertidos. É comum encaixarmo-nos numa destas definições, de acordo com os nossos hábitos e comportamentos predominantes. Quem tem facilidade e gosto por comunicar, por participar em eventos sociais e menos gosto em estar sozinho é extra, porque procura satisfazer as suas necessidades do lado de fora. Quem aprecia ambientes mais calmos e não tem tanta necessidade de falar é intro, pois encontra internamente a resposta às suas necessidades.

Os introvertidos não são pessoas “naturalmente aventureiras, com gosto particular pelo risco”. Têm uma personalidade que aprecia rotinas, a “paz e o sossego”. Não se dão a conhecer tanto, têm uma postura “menos ativa e mais passiva”. Emocionalmente são menos expressivas, o que não “invalida que experienciem internamente emoções consonantes com as circunstâncias.”

Considera-se actualmente a existência de um novo conceito, o ambivert ou ambivertido, que corresponde, precisamente, a pessoas que apresentam características de ambos os tipos de personalidade"

“Pode existir, neste contexto, uma consequência negativa potencial, quando prescindem de expressar as suas necessidades e desejos em prol dos outros, uma vez que sentem alguma dificuldade no exercício de competências associadas à assertividade”, diz Rita Fonseca de Castro. O excesso da introversão pode também gerar dificuldades de interação social e de construção de relações. Ainda assim, “é possível ir flexibilizando e alterando este modo de funcionamento em simultâneo com as naturais alterações do curso de vida e/ou como consequência dos ganhos obtidos a nível do auto-conhecimento.”

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As pessoas extrovertidas encontram-se “mais conscientes e alerta para o mundo exterior, com um foco atencional predominantemente externo, de onde provêm as suas formas de gratificação preferencial”. A sua fonte de energia predominante é a interacção social, contrariamente às introvertidas que “encontram no tempo passado sozinhas a sua fonte de energia primordial.” Tendem a ser mais “assertivas, comunicativas, sociáveis e retiram prazer de atividades em grupo”. Além disso, dentro dos traços deste tipo de personalidade, estão ainda a capacidade para tomar decisões rápidas, “sem tanta ponderação e reflexão”. Gostam de “discutir ideias e modos de pensar”, gostam de aprender enquanto fazem, o que lhes atribui uma personalidade mais compatível com a do “multi-tasking.”

Os extrovertidos são mais felizes do que os introvertidos?

Não. Nada disto. Segundo a psicóloga Rita Fonseca de Castro, é comum fazerem-se associações erradas entre o tipo de personalidade e os estados emocionais. “A introversão tende a ser conotada negativamente e, até mesmo, erroneamente confundida com quadros clínicos como o da fobia social ou da perturbação da personalidade evitante.”

Do ponto de vista social, é comum considerar-se o extrovertido mais bem-sucedido e feliz. No entanto, segundo a psicóloga, isto não corresponde necessariamente à verdade. “O que sucede é que pessoas tendencialmente mais extrovertidas são também mais exuberantes na manifestação das suas emoções, mas podem, inclusive, induzir-nos em erro — não voluntariamente —, aparentando estar mais felizes do que na verdade estão”, explica. Ao viverem mais viradas para dentro, pessoas introvertidas poderão estar “genuinamente felizes mas não o demonstrarem externamente”, por não sentirem necessidade para se exporem tanto, por não terem uma expressão fácil tão transparente ou um comportamento tão verbal.

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A própria definição de felicidade influencia a forma como se olha para os dois tipos de pessoa. Ao associarmos a felicidade à vivência social, é facil associar pessoas menos explosivas a resultados de satisfação inferiores. Mas esta conclusão está enviesada.

“Se considerarmos que as principais variáveis que contribuem para a felicidade parecem ser a existência de uma rede social de suporte, a auto-aceitação e a aquisição de um sentido e significado para a vida, tanto pessoas introvertidas como extrovertidas podem apresentar estas características.”

Os cérebros são diferentes

“A distinção entre extroversão e introversão encontra substrato no funcionamento cerebral”, diz Rita Fonseca de Castro. Dão-se "diferentes níveis de activação no córtex pré-frontal e outras áreas cerebrais relacionadas com o pensamento abstracto, memória de acontecimentos passados, resolução de problemas e tomada de decisões, que se encontra mais activa em pessoas introvertidas.”

Assim, pessoas mais extrovertidas têm “maior ativação em regiões implicadas no processamento de estímulos sensoriais”. As evidências sugerem que “o processamento da informação ocorre de forma distinta entre estes dois tipos de pessoas, sendo que numas há uma maior contração no mundo exterior e noutras no mundo interior."

De acordo com a psicologa Linda Blair, em declarações ao "Business Insider", os níveis de introversão e de extroversão estão no nosso DNA. Ou seja, nascem connosco. “Está relacionado com os níveis de excitação, que não é sexual, mas que é necessária para estimular uma acção.” Ao contrário do que possa pensar, os introvertidos têm esta parte mais ativa, o que faz com que não necessitem interagir tanto ou ir para locais com muita gente. Com os extrovertidos é ao contrário: vão buscar esta energia e excitação ao que os rodeia.

Mas somos só um ou outro?

Dividir o mundo nestes dois tipos de pessoas é demasiado simples para ser rigoroso. Nada é tão estanque, sobretudo quando se trata do ser humano. Os conceitos de introversão e de extroversão nasceram em 1920 e foram criados pelo psicanalista Carl Jung. No entanto, veio a sofrer modificações: “A mais relevante será a que os concebe como traços da personalidade que existem num contínuo e podem coexistir num mesmo indivíduo, isto é, não se é, ou serão muito raras as pessoas que são, exclusivamente introvertidas ou extrovertidas”, diz a psicóloga da Oficina de Psicologia.

Podemos ter características destes extremos e “apresentar diferentes combinações de características dos dois tipos”, em diferentes proporções.

“Acresce que nos podemos deslocar nesse contínuo, uma vez que temos a capacidade de adaptar o nosso nível de introversão e extroversão às exigências dos contextos”, diz. “Contudo, e tal como outros traços da nossa personalidade, também este é dotado de alguma estabilidade ao longo do tempo.”

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É a partir desta ideia que une os dois tipos de personalidade que nasce um novo conceito, que vem contrariar a ideia de Carl Jung, que viu os dois tipos de personalidade como características exclusivas: “Considera-se actualmente a existência de um novo conceito, o ambivert ou ambivertido, que corresponde, precisamente, a pessoas que apresentam características de ambos os tipos de personalidade e que incluirá a maioria da população, o que ilustra a possibilidade de se apresentar, em simultâneo, características do tipo de personalidade extrovertido e introvertido.”

De acordo com um estudo publicado na revista Psychological Science, em 2013, dois terços das pessoas são ambivertidas, um tipo de personalidade mais “flexível” e que tenderá a ser melhor a “entender melhor as emoções dos outros” ao terem um equilíbrio maior nas capacidades de falar e ouvir, de acordo com Adam Grant, o autor da investigação.

Rita Fonseca de Castro termina explicando que “a tendência será para que se seja predominantemente introvertido ou extrovertido”, sendo, no entanto, “ raro encontrar quem seja exclusivamente extrovertido ou introvertido.”