A pandemia destapou o véu que tapava o tema da saúde mental, e o tema é cada vez menos tabu. E porque cuidar de nós pode ser tão simples como usar as ferramentas que temos à distância de um smartphone, fomos à procura de aplicacções — gratuitas — focadas justamente na temática da saúde mental.

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O bem-estar não tem uma definição única, mas de acordo com a psicóloga clínica e fundadora da Academia Transformar, Filipa Jardim da Silva, os exercícios de auto-observação e auto-atenção focadas são essenciais e qualquer pessoa os pode fazer de forma independente para se sentir bem. “Pode ser mais desafiante, mas qualquer um de nós tem essa capacidade se a treinar", defende. 

Há quem procure ouvir música, fazer yoga ou meditação, mas há outras hipóteses à distância de um clique. Estes três exemplos nacionais que podem ser muito úteis para a sua saúde. Pronto para os conhecer?

Violet

Esta plataforma de bem-estar é muito recente. Nasceu em abril deste ano, projetada pela empresa Pur’ple, com um propósito claro: acompanhar regularmente como se sente quem a usa e ajudar a avaliar o bem-estar diário. 

O objetivo é ajudar os utilizadores a conectarem-se com o seu eu interior. Para isso, a plataforma pretende fazer parte da rotina de quem a utiliza, traçando um caminho de autocuidado e ajudando a monitorizar o bem-estar ao longo do tempo. 

Filipa Jardim da Silva, psicóloga
Filipa Jardim da Silva, psicóloga créditos: Filipa Jardim da Silva

“A plataforma está desenhada para que as pessoas tenham uma educação emocional efetiva, para que treinem a sua auto-observação, de forma autónoma e informada”, esclarece Filipa Jardim da Silva. 

Violet é, acima de tudo, uma ferramenta de triagem baseada em pesquisa científica, que guia quem a descarrega numa jornada de reflexão, de forma a que se faça uma autoavaliação do bem-estar ao longo do tempo. Pretende que os utilizadores aprendam a acompanhar como se sentem dia a dia para que tenham um maior controle e possam estar nas suas melhores condições mentais para enfrentar a vida. 

Utilizando diariamente, através do computador ou smartphone Android/iOS, é possível verificar o progresso atingido e ter noção da evolução. A plataforma permite ainda comparar a avaliação obtida com outras pessoas e partilhar os resultados. Para fazer uma avaliação diária, basta fazer o registo. 

O site foi programado para fazer perguntas curtas, diretas e não intrusivas, às quais, quando oportuno, é possível dar mais do que uma resposta já pré-definida seja em números ou frases. Ao responder, os utilizadores recebem uma espécie de prognóstico com dicas elaboradas por profissionais de saúde e de coaching. Filipa Jardim da Silva colaborou no projeto, dando-lhe a base científica.

“O que a Violet faz é perguntar às pessoas como se sentem para autodirigir o foco de atenção para dentro e no fim dá um mapa e estratégias práticas para a pessoa saber onde precisa de investigar”, sublinha a especialista, salvaguardando que nem a Violet, nem outros instrumentos do género, são sinónimos de substituição de um especialista.

Conheça a Violet.

P5 Saúde Mental 

A plataforma nasceu em 2020, mas só em 2022 foi lançada a app do Centro de Medicina Digital P5 — uma associação sem fins lucrativos. Surgiu no âmbito do projeto "Promoting Mental Health During Pandemic", coordenado pelo professor e investigador da Escola de Medicina da Universidade do Minho, Pedro Morgado, com o objetivo de compreender o impacto da pandemia COVID-19 na saúde mental da população adulta residente em Portugal e desenvolver ferramentas que permitam a automonitorização da mesma.

A iniciativa consistiu na monitorização semanal, ao longo de todo o estado de emergência, de mais de duas mil pessoas. Os resultados obtidos demonstraram os fatores associados a sintomas psiquiátricos e a sua respetiva evolução ao longo do tempo. A investigação levou à criação da P5 Saúde Mental.

O objetivo da plataforma, disponível para computador e smartphones Android/iOS, é de promover a autoavaliação e automonitorização da saúde mental, bem como divulgar ferramentas de gestão emocional e de estilos de vida saudáveis.

Pedro Morgado, professor e investigador da Escola de Medicina da Universidade do Minho
Pedro Morgado, professor e investigador da Escola de Medicina da Universidade do Minho Pedro Morgado, professor e investigador da Escola de Medicina da Universidade do Minho créditos: Pedro Mordago

Pedro Morgado explica: "A app tem uma componente de autoavaliação e automonitorização que se centra nas duas doenças psiquiátricas mais comuns, a depressão e a ansiedade, mas também tem uma série de funcionalidades relacionadas com o bem-estar e a saúde mental, incluindo técnicas de relaxamento e de melhoria do sono que ajudam a prevenir outras doenças".

"Aumentar a literacia em saúde mental através da promoção do conhecimento de estratégias para lidar com pensamentos e emoções e para melhorar o bem-estar" é outro dos objetivos da app, segundo o investigador.

Os dados do utilizador são privados. A interface é completamente automática e proporcionada por um algoritmo simples. "Os utilizadores respondem a questionários internacionais, validados, e obtêm um resposta que indica o nível de sintomas ansiosos e depressivos que têm, bem como a indicação da necessidade de ajuda profissional", esclarece Pedro Morgado.

A app, que promove a saúde e previne a doença mental, já foi descarregada mais de 50 mil vezes e o professor afirma que até ao final de 2022 o objetivo é chegar aos 100 mil utilizadores.

Descubra a plataforma aqui. 

29k FJN 

“Vivemos em média 29 mil dias. A decisão de os viveres de forma plena é tua”. Este é o slogan da app da Fundação José Neves (FJN). Nasceu no verão de 2021 e já alcançou mais de 25 mil utilizadores. Está disponível tanto para Android, como para IOS.

A FJN, uma organização sem fins lucrativos, e a fundação sueca 29k juntaram-se com a missão de tornar o desenvolvimento pessoal acessível a todos. Ao utilizar a app, entre outros efeitos, há um melhoramento no autoconhecimento, nas relações interpessoais e na gestão de stresse e ansiedade.

Carlos Oliveira, presidente executivo da FJN
Carlos Oliveira, presidente executivo da FJN Carlos Oliveira, presidente executivo da FJN créditos: Carlos Oliveira

“Todos os conteúdos estão em português, têm validação científica e são atualizados regularmente”, garantiu à MAGG o presidente executivo da FJN, Carlos Oliveira, que ambiciona chegar aos 100 mil utilizadores ainda este ano. 

A app tem conteúdos nas categorias de autocompaixão, relações, stresse, sono e propósito. O objetivo é estar sempre disponível para quando for necessário acalmar a mente, mas também pretende implementar mudanças mais profundas no crescimento pessoal dos utilizadores. Permite aceder a exercícios, meditações, testes e cursos de pequena e longa duração para amenizar sintomas, por exemplo, de ansiedade.

Carlos Oliveira destacou ainda que recentemente foram adicionados conteúdos, no âmbito da invasão da Ucrânia, para ajudar as pessoas a lidarem com a ansiedade de guerra. Estes estão disponíveis em português, ucraniano e russo. 

A ideia é que o utilizador da app, através de uma experiência personalizada e uma comunidade de apoio, consiga fortalecer a sua saúde mental em todos os momentos da vida, bons e maus.

Pode saber mais e descarregar aqui.