É sabido que a nicotina é viciante, mas não é essa a propriedade que prejudica a saúde de quem fuma. Bem pelo contrário: a nicotina pode mesmo ser o grande aliado de quem deseja largar o vício.
Foi realizada uma revisão de vários estudos que comprova que a nicotina pode ser utilizada em benefício dos fumadores que querem deixar o tabaco. Seja através de adesivos, pensos, gomas ou pastilhas, a terapia de reposição de nicotina pode ajudar os fumadores a largar um dos grandes inimigos da saúde. O estudo foi publicado no "Cochrane", conforme cita o jornal "The Conversion" num artigo publicado a 18 de abril.
"O uso desses substitutos dos cigarros pode tornar os cigarros menos agradáveis para quem fuma, é menos prejudicial para a saúde e não é tão viciante como o tabaco", lê-se no artigo.
No resultado desse apanhado sobre o uso da nicotina para deixar de fumar, foram indicadas as três melhores formas de obter sucesso na prática desta terapia.
- Usar dois tipos de medicamentos. Utilizar adesivo ao mesmo tempo que se masca uma pastilha, por exemplo, aumentam as hipóteses de parar de fumar;
- Começar a terapia antes de deixar de fumar. Se já pensou em deixar de fumar, estabeleça uma meta e comece a terapia umas semanas antes. Isso irá ajudar a largar o vício;
- Tomar doses mais altas de nicotina. De acordo com o estudo, as pessoas mais facilmente deixavam de fumar se usassem 4 mg em vez de 2 mg de gomas de nicotina, por exemplo. Esta opção é mais útil para pessoas que fumam mais.
Será que a nicotina pode mesmo ajudar a deixar de fumar?
"As pessoas acham que a nicotina é prejudicial à saúde, mas são os outros químicos [presentes no tabaco] que fazem mal", explica à MAGG o pneumologista Vítor Fonseca, do Hospital de Cascais, que confirmou a utilidade deste método de reposição da nicotina para os fumadores deixarem de fumar.
"A nicotina é e sempre foi utilizada para ajudar as pessoas a deixarem de fumar", diz. "São utilizadas doses maiores de nicotina e mais do que um substituto [do cigarro]. Não há que ter receio de usar doses altas. É algo que já se tem vindo a fazer na prática clínica e que é utilizado nos grandes fumadores [que fumam 20 ou 30 cigarros por dia]".
O objetivo da terapia é criar desabituação no fumador. Para que tal aconteça é preciso enganar o cérebro e Vítor Fonseca explica como pode fazê-lo.
"Habitualmente são usados os pensos que ajudam na desabituação tabágica. Também são usadas pastilhas que dão picos de nicotina criando uma sensação semelhante à do tabaco normal".
Outra forma de tratamento é através da Vareniclina, um medicamento que foi criado, unicamente, com o intuito de deixar de fumar. Este medicamento "engana o cérebro e, ao fumar, a nicotina não chega ao cérebro", segundo explica o pneumologista.
A nicotina vicia, mas não mata. "É aí que temos que trabalhar para causar a desabituação do tabaco", remata.