A alimentação de um bebé de meses não é fácil: dependendo do aleitamento (materno ou leite artificial), a maioria das crianças começa a provar novos alimentos entre os quatro e os seis meses e este é um processo que pode tornar-se desafiante.

Há que introduzir lentamente os novos alimentos, as verduras, as frutas, lidar com a estranheza das primeiras refeições e com as birras de quem não está habituado a novas texturas. As sopas são feitas à grama, a fruta é amassada e há que ter uma tabela bem estruturada para saber a altura certa para introduzir o peixe e a carne.

Agora imagine todo este processo de preparar refeições quando está fora de casa, seja de férias num país distante, num quarto de hotel sem cozinha ou numa casa alugada sem uma varinha mágica à mão. Complicado, não é?

É exatamente por isso que muitos pais recorrem a comida em boiões, uma vez que não precisam de qualquer preparação, não necessitam de ser guardados no frio e caso nem exista micro-ondas nas redondezas, até pode oferecê-los ao seu filho à temperatura ambiente.

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Mas as opiniões sobre este tipo de refeições não são unânimes: há quem os considere a salvação em dias atarefados ou sem condições para cozinhar, outros acham que são a pior coisa que se pode oferecer a uma criança. Em que é que ficamos?

Os boiões não são ricos em valor nutricional

“Os boiões de comida não são as alternativas mais confiáveis”, explica o pediatra Sérgio Neves à MAGG, uma vez que nutricionalmente não são muito interessantes.

Segundo o especialista, “quando falamos de frutas e vegetais, e os adaptamos a este tipo de produtos, existe uma perda nutricional, nomeadamente das vitaminas D, C e 1”. Sérgio Neves também refere que a adição de açúcares, de forma a tornar os boiões mais apetitosos para as crianças, é outro dos problemas.

Sérgio Neves é coordenador da unidade de pediatria da Clínica de Santo António

“Por vezes adicionam-se açúcares e outras substâncias para melhorar o paladar, mas também temos toda a questão dos conservantes adicionados, utilizados para preservar os alimentos”, conta Sérgio Neves.

Para além de os açúcares não serem saudáveis para uma criança pequena (e não que sejam para os adultos também), a habituação a este tipo de comida pode ser num problema. “Se as crianças forem acostumadas a estes alimentos mais adocicados ou com substâncias para melhorar o sabor, depois podem não querer comer outro tipo de comida mais saudável”, salienta o pediatra.

Mesmo nos boiões de frutas, o problema mantém-se: “Também perdem qualidade nutricional e muitas vitaminas. As frutas frescas, principalmente com casca, são muito mais ricas”.

Mas podem ser alternativas para as férias — desde que escolha os certos

Apesar de não serem os melhores alimentos de sempre, Sérgio Neves afasta-se de extremismos e afirma que os boiões de comida podem ser alternativas em situações pontuais, como férias e fins de semana. "Não vamos ser fundamentalistas ao ponto de os proibir completamente”.

De acordo com o pediatra, existem dicas para escolher os mais adequados, sempre respeitando a progressão alimentar da criança: “Os pais devem preferir os boiões que têm menos adição de açúcar, menos durabilidade em termos de prazo, o que significa que têm menos conservantes, e os mais próximos daquilo que a criança está habituada a comer”. Ou seja, se o seu filho ainda não experimentou carne de vaca ou uma verdura em especial, não deve ser nos boiões que esse alimento é introduzido na dieta.

Quando comprar estes boiões, é aconselhado que preste atenção aos rótulos e aos componentes destes alimentos — mesmo com os produtos apelidados como biológicos ou naturais. “Temos de saber interpretar bem o que é isso de um produto biológico, se é a origem, a forma como é processado. Por vezes, é apenas uma questão de marketing”, alerta Sérgio Neves.

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Outra questão que deve ter em conta é o perigo da habituação a este tipo de alimentos. Para não correr o risco de o seu filho só querer comer boiões, o especialista alerta que não “deve restringir uma refeição inteira a este tipo de alimentos, dado que as crianças ainda estão em fase de desenvolvimento e crescimento, e depois pode ser difícil voltar atrás”. Se optar por oferecer um boião como prato principal, deve escolher uma fruta fresca para sobremesa.

Se viajar para fora de Portugal e para destinos mais exóticos, onde a água de distribuição pública pode estar contaminada, estes boiões ganham importância. “Em países onde não conseguimos garantir a segurança dos alimentos frescos, onde estes podem estar contaminados com patogénicos, os boiões de comida podem ser uma alternativa mais segura”, conclui o pediatra.