A terceira gravidez de Cláudia Raia continua a causar polémica. Depois de anunciar estar à espera do terceiro filho aos 55 anos, no dia 19 de setembro — e dar a entender ter-se tratado de uma gravidez espontânea, natural —, a atriz foi acusada de mentir e de ter recorrido a uma fertilização in vitro (FIV).

Agora, a artista brasileira deu uma entrevista ao "Fantástico", um popular programa da TV Globo, onde declarou já ter entrado na menopausa mas, mesmo assim, ter conseguido engravidar. À jornalista Renata Ceribelli, Cláudia Raia contou que congelou óvulos aos 48 anos e que tentou uma FIV, que não resultou.

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Apesar de afirmar na mesma entrevista que já tinha entrado na menopausa há três anos, a atriz disse que engravidou três meses depois da tentativa de FIV falhar, e após tratamentos hormonais. Mais uma vez, Cláudia Raia não foi clara e a ideia de que terá engravidado naturalmente continua a perdurar.

Mas é possível engravidar depois de entrar na menopausa, tal como a artista referiu? "Não", responde de forma taxativa Fernando Cirurgião, obstetra e diretor do serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital São Francisco Xavier. À MAGG, o especialista esclarece que podemos afirmar que uma mulher entrou na menopausa quando, "a partir dos 45 anos, há uma ausência de menstruação superior a um ano".

"Quando isso acontece, estamos perante o esgotar do capital folicular, em que tudo aquilo que eram folículos — que podem ser estimulados para levar à formulação de óvulos e, por consequência, a uma gravidez — são esgotados. Nesse caso, há uma total incapacidade de engravidar espontaneamente", salienta Fernando Cirurgião.

Menopausa é uma coisa, perimenopausa é outra

Se engravidar depois de entrar na menopausa é impossível, o que levaria alguém a afirmar isso mesmo? A resposta pode ter que ver com o período que antecede a menopausa. "Antes de assumirmos que uma mulher entrou em menopausa, passa pela perimenopausa, e esse é um conceito que pode ali misturar muita coisa", refere Fernando Cirurgião.

Neste período de tempo, em que a mulher pode já ter alguns sintomas de menopausa, e em que as menstruações podem ser mais escassas e irregulares, ainda podem existir alguns folículos que, estimulados, podem dar origem a uma gravidez espontânea — desde que a ausência de menstruação não se prolongue por um período sucessivo de mais de 13 meses, após os 45 anos, chegando assim à menopausa.

Fernando Cirurgião é diretor do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital São Francisco Xavier
Fernando Cirurgião é diretor do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital São Francisco Xavier

"O conceito de perimenopausa é abrangente e lato, e pode englobar até dez anos antes de uma mulher chegar à menopausa. Claro que não costuma demorar tanto tempo na maioria dos casos e, na generalidade, é um período que se prolonga durante cerca de um ano e tal antes da mulher chegar efetivamente à menopausa", diz o especialista, que também acredita que é importante desmistificar este conceito.

"Há muitas mulheres ainda jovens, ali a partir dos 45 anos, que quando se apercebem de uma escassez de menstruação ficam assustadas. Pensam que ainda é muito cedo para se falar de menopausa, e assumem que este desaparecimento da menstruação pode estar ligado a algum problema de saúde", relata Fernando Cirurgião.

"Mas é importante tranquilizar essas mulheres de que se trata de algo normal. A partir dos 45, 46 anos, podem começar a entrar num quadro de perimenopausa, e estas irregularidades no que diz respeito à menstruação não serão nada patológico, não estarão ligado a doenças, e até é um quadro bastante normal", conclui o médico obstetra.