Foi numa publicação de Facebook no grupo "Vegetarianos e Vegans em Portugal" que nos deparámos com este nome: santuário animal. "Olá amigos! Somos um santuário localizado em Alcochete e neste momento precisamos de mãozinhas para trabalhar. Não só de voluntários mas também de uma pessoa disposta a trabalhar connosco diariamente, a tempo inteiro. Um dos requisitos é que não coma animais, pois não faz sentido para nós cuidar de uns e comer outros (não há espaço para flexitarianos)".

É assim que começa a publicação de Bruna Galego e também a nossa curiosidade com o significado do termo de "santuário". Fomos à descoberta e Bruna, 29 anos, assistente veterinária e colaboradora no Santuário Animais Sem Fronteiras esclareceu-nos de imediato: "É primeiramente um espaço de acolhimento de vida animal repleto de amor, respeito e compaixão". Mas é mais do que isso.

O Santuário Animais Sem Fronteiras é uma associação sem fins lucrativos registada como associação de protecção animal. Contudo, esta designação não se aplica ao gado, porque ainda não há uma lei que o permita, por isso está registado com marca de exploração.

Seja qual for o registo, nos 15 hectares da quinta localizada em Alcochete, no concelho de Setúbal, há espaço para todos aqueles que um dia foram renegados: desde cães, gatos, cavalos, porcos, cabras, ovelhas e, brevemente, uma vaca e o seu filhote, conforme revela Graça Almeida, co-fundadora do Santuário, à MAGG.

No total há então cerca de 150 animais resgatados da rua ou de explorações, que foram distribuídos entre a quinta e o hotel — sobre este último já vamos falar melhor. Na quinta há oito boxes para os cães, com cerca de 1.200 metros quadrados, distribuídos de acordo com idade e comportamento dos animais, um cercado para vacas, outro para cavalos, cabras e ovelhas, e outro ainda para porcos.

Para cuidar de todas as espécies, o santuário conta com o trabalho das fundadoras, Graça Almeida e Marina De Praetere, Bruna Galego, autora da publicação e o braço direito de Graça, António Muacho e Álvaro Pestana e Coito. De vez em quando, a quinta também tem uma mãozinha de alguns voluntários.

E é nos parques do santuário que os animais recebem todos os cuidados: desde a comida, que é dada duas vezes por dia, sensivelmente à mesma hora, passando pelos passeios na quinta acompanhados pelos colaboradores, até aos simples afetos: "Fazemos questão de todos os dias os animais estarem connosco para fazer-lhes festas e no fundo terem atenção e carinho humano que também faz falta", diz Graça, 54 anos, que assume também as funções de gestão e coordenação do Santuário.

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Como surgiu o santuário?

Tudo começou em fevereiro de 2019, mas há mais tempo que fazia parte das ambições das fundadoras, Graça Almeida e Marina De Praetere: "Era um projeto já antigo, quer meu, quer da minha sócia. A maioria dos cães veio comigo da zona onde vivia, em Torres Vedras", conta Graça. Contudo, uma vez que compraram a quinta com recheio, alguns dos animais que já lá estavam passaram também a fazer parte do Santuário Animais Sem Fronteiras, salvando-os assim do matadouro.

Além das sócias, a equipa é composta por Bruna e António, cujo trabalho é remunerado, tal como o de Álvaro, embora ajude o santuário apenas três vezes por semana em tudo o que envolve trabalhos mais pesados e minuciosos —  seja tirar o esterco ou tosquiar ovelhas.

animais
Álvaro a tosquiar ovelhas créditos: Graça Almeida

Há um requisito para quem quer dar uma mão à pata animal: não ser flexitariano. "Não fazia sentido termos um santuário pela causa animal e depois termos um colaborador que à nossa frente vem comer um bife de vaca", refere Graça Almeida, ideia que Bruna Galego reforça: "O santuário tem como foco o respeito pela vida animal. Ser flexitariano significa comer seres que são abatidos para satisfazer o prazer da gula".

Então, quem pode trabalhar aqui? Acima de tudo, pessoas que zelem pela vida animal e sejam motivadas, porque o trabalho no santuário não é para qualquer um, tal como referia a continuação do post de Facebook: "Outro dos requisitos é que tenha força de vontade, porque andamos todos os dias no campo (faça chuva, faça sol) e os animais precisam de nós".

É preciso, por isso, gostar muito do trabalho, porque além das condições atmosféricas imprevisíveis, é muito sujo: "A pessoa sai de casa de manhã lavadinha, mas isso não se mantém ao longo do dia. É o amor que nos liga a eles", refere Graça.

O amor é também o que suporta este projeto sem fins lucrativos. "Temos os apadrinhamentos, mas isso é uma coisa com a qual nem sempre podemos contar. As pessoas podem apadrinhar, mas eu costumo dizer que os animais comem todos os dias e têm despesas fixas. Temos de contar connosco basicamente", conta Graça Almeida à MAGG.

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O hotel para cães

Foi então como forma de suportar as despesas do Santuário Animais Sem Fronteiras que decidiram avançar para o Hotel Patudos Sortudos. É um projeto mais recente, surgiu em setembro, e entre cerca de 200 metros quadrados de área, com 30 parques, há casotas térmicas e uma natureza rica à volta. É neste ambiente que os cães permanecem na sua estadia e onde são soltos duas ou mais vezes por dia — conforme o tempo necessário.

Apesar de no ano passado o hotel quase não ter funcionado devido a atrasos na construção, Graça tem esperança de que este ano o projeto tenha sucesso: "Mesmo não pagando as despesas do santuário, porque estamos constantemente a receber apelos, principalmente para cães, vai ser uma boa ajuda. E há de haver um dia, eu espero, que o hotel valha a pena".

Como não há duas sem três, Graça revela que já têm mais projetos em mente. Um deles é um recreio canino em Lisboa e o outro diz respeito a um género de parceria com pessoas idosas de forma a assegurar-lhes que, um dia quando partirem, o santuário toma conta dos seus animais. Apesar de a vontade ser grande, a co-fundadora reconhece que só pode colocar estas ideias em prática quando os projetos atuais estiverem consolidados.

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