No ano em que, mais do que nunca, as mulheres foram incentivadas a contar as suas histórias de assédio sexual, os tweets da escritora Maura Quint tornaram-se virais por ter revelado as suas experiências com homens que a poderiam ter assediado e não o fizeram.
O desabafo, que já tem cerca de 50 mil retweets e mais de 125 mil favoritos, criou uma onda de partilha de experiências que começaram com um cariz sexual mas não resultaram em assédio ou em violação depois do desinteresse revelado pelas mulheres.
Todos os dias há histórias de assédios em festas e Quint veio contar como um “não” a levou segura a casa. Aos 16 anos foi convidada para uma festa e decidiu arranjar-se de forma a deixar de lado a ideia de que não era atraente o suficiente para algum rapaz gostar dela. Naquela noite apostou numa camisola mais reveladora do corpo e num batom vermelho que até à data só tinha usado quando estava sozinha.
Ao fim de algumas bebidas, Quint conta que a sua versão mais desinibida, faladora e sorridente despertou a curiosidade de um rapaz que ao fim de algum tempo de conversa, a agarrou pelo braço e a convidou para ir à rua onde pudessem estar a sós. Ela disse “talvez” e o rapaz, de olhos fixos nela, respondeu que “um talvez não é um sim”. E não era, de facto, um sim. O rapaz voltou para junto dos amigos tal como Quint.
Chegou segura a casa, sem se sentir assediada, porque tal como escreveu, naquela noite não conheceu um agressor sexual.
Um outro episódio aconteceu-lhe aos 20 anos, numa saída com amigos. Maura interessou-se por um empregado de bar que tinha acabado o seu turno. Depois de ter aceitado ir até à rua com ele, o rapaz disse-lhe que vivia perto e convidou-a a ir até casa dele.
Antes de dar qualquer resposta, Maura perdeu-se numa luta interior: achava-o interessante, mas nunca tinho ido com ninguém para casa. Ele acabou por lhe quebrar a cadeia de dúvidas quando lhe disse que ela podia voltar para dentro do bar se assim o quisesse. E foi o que fez. Maura concluiu que naquela noite não foi violada, porque não conheceu um violador.
Estes tweets suscitaram comentários com as experiência de outras mulheres que estavam em sintonia com Quint e algumas delas acabaram de forma muito inesperada.
Como o caso de uma mulher que revelou que no seu primeiro encontro, depois de conhecer melhor o homem, o convidou para ir até sua casa jogar “Mario Kart”. Quando se começaram a envolver, a mulher hesitou e disse-lhe que não queria levar as coisas muito rápido. O homem parou, respeitou a vontade dela e continuaram simplesmente a jogar. Hoje são casados e acabaram de ter o primeiro filho.
Um outro exemplo semelhante: no primeiro encontro de uma rapariga de 19 anos, o rapaz tentou ficar mais íntimo mas ela rapidamente o chamou à atenção para as barreiras que existiam. Ele respeitou os limites. O encontro durou 13 horas e até incluiu um concerto de Paul McCartney que ele lhe tinha gravado. No dia em que a rapariga comentou a publicação de Quint, faziam 11 anos de casados.
Por outro lado, uma rapariga contou que convidou um rapaz que lhe despertava interesse para uma festa de amigos. Acabou por ficar alcoolizada e tentou ter alguma coisa com ele. Quando podia ter-se simplesmente aproveitado da fragilidade dela, o rapaz disse-lhe que estava demasiado bêbeda para saber o que estava a fazer e limitou-se a ajudá-la a ficar sóbria.
Mulheres alcoolizadas tornam-se alvos mais fáceis e há pelos menos duas histórias de raparigas que não conseguiam chegar a casa sozinhas e foram acompanhadas por rapazes. "Por favor não me violes" foi o que pediu uma delas na viagem para casa. Em ambos os casos nenhum rapaz se aproveitou delas e deixaram-nas apenas seguras.
Maura Quint não teve só episódios com homens que a respeitaram. Também foi assediada. Mas a partilha de experiências que os seus tweets geraram levam-na à conclusão de que a diferença entre ser assediada ou não, não está nas roupas, no quanto se bebe ou no quanto se pode flirtar com um homem. A diferença está no homem achar que é ou não correto assediar alguém.