Estamos cada vez mais viciados em histórias de crime reais? Sem pensar muito, a resposta pode pender para um "sim" assertivo. Mas diz quem sabe que a tendência não é nova e que já em meados de 1900 os jornais da época enchiam as suas capas com histórias de crimes porque as pessoas tinham interesse em acompanhar as investigações.
"Que ideia é essa de que o crime está na moda? A realidade, sim, está na moda", explicou o jornalista e psicólogo forense Hernâni Carvalho em entrevista à MAGG. E essa realidade continua a ser muito apetecível de explorar pela Netflix. Prova disso é a mais recente produção da plataforma que olha para casos de desaparecimentos misteriosos ou de crimes bizarros que, além de serem totalmente reais, estão há várias décadas a ser investigados.
Chama-se "Unsolved Mysteries", é um dos conteúdos mais vistos em Portugal e é a mais recente aposta do serviço de streaming numa altura em que documentários como "Tiger King", "Making a Murderer" ou "Génio do Mal", foram muito bem recebidos pelos subscritores da empresa.
Apesar de tudo, a série não é nova. Trata-se de um reboot da versão original, de 1987, mas que mantém a mesma premissa: dar a conhecer, a cada episódio, um caso novo e que continua por resolver tantos anos depois. Mas porque a televisão tem esse poder, enquanto a série original esteve em emissão — entre 1987 e 1997 — foram vários os espectadores que contactaram as autoridades com novos detalhes que pudessem ajudar a polícia a dar continuidade às investigações muitas vezes paradas por falta de provas ou de recursos.
O reboot da Netflix, sabe-se agora, já produziu o mesmo efeito com o FBI, que recebeu pelo menos 20 pistas credíveis nas primeiras 24 horas após a estreia de "Unsolved Mysteries", a 1 de julho. Essas pistas dizem respeito às investigações do homicídio de Alonzo Brooks ocorrido a 3 de abril de 2004, durante uma festa com cerca de 100 pessoas, e que é abordado no quarto episódio da temporada. Sobre o caso, sabe-se pouco.
Mas algumas das testemunhas que estiveram presentes na festa recordam-se de ver Brooks, um homem negro de 23 anos, a sair da casa a meio da noite e sozinho. Os amigos que o tinham trazido para a festa saíram antes dele, o que significa que o jovem não tinha boleia para regressar a casa — à qual nunca chegou.
Por isso mesmo, o alerta foi dado pela família que estranhou não o ver em casa na manhã seguinte. No mesmo dia, família e amigos de Brooks juntaram-se para procurar o jovem que só foi encontrado, já sem vida, um mês depois.
Devido ao tempo que passou entre o desaparecimento e a descoberta do corpo, as autoridades foram incapazes de determinar a causa da morte. O resultado da autópsia foi inconclusivo e o responsável pela morte de Alonzo Brooks continua sem estar identificado, mas a autoridades têm fortes suspeitas de que se terá tratado de um crime de ódio racial.
"A ideia de que a morte de Alonzo se tratou de um suicídio ou que, de alguma forma, ele caiu de forma acidental num riacho enquanto deixava para trás as suas botas e o seu chapéu [os pertences que Brooks que foram encontrados nas primeiras buscas comandadas pela polícia] sem haver testemunhas de nada desafia a razão", explicou um dos advogados responsáveis pelo caso à NBC em julho.
As declarações surgem um mês depois de as autoridades terem comunicado a recompensa de 100 mil dólares (o equivalente a 88 mil euros) a quem contacte a polícia com qualquer informação credível que possa dar continuidade ao caso. Mas este é só um de muitos que ainda hoje aguardam resposta e que deixaram vítimas — e respetivas famílias — sem a devida justiça.
O primeiro volume de "Unsolved Mysteries", inteiramente disponível na Netflix e perfeito para quem gosta de documentários com crimes bizarros, dá a conhecer os primeiros seis casos através de episódios de uma hora cada.
O segundo volume, com mais seis episódios, deverá estrear-se ainda este ano. No entanto, ainda não é conhecida uma data oficial.