Os fãs mais atentos de Bruno Nogueira, e que seguem religiosamente o podcast "Isso Não se Diz", já tinham percebido que o humorista estava a preparar qualquer coisa em grande. O mistério foi revelado esta quarta-feira, 9 de outubro, durante a apresentação das novidades de entretenimento e humor da RTP.

Bruno Nogueira regressa à estação pública de televisão no início de 2025, oito anos depois do seu último projeto, "Fugiram de Casa de Seus Pais", formato de entrevistas com Miguel Esteves Cardoso. O humorista de 42 anos estava afastado do pequeno ecrã desde o início de 2023, altura em que foi emitida a segunda temporada de "Tabu", na SIC.

E o que será o novo programa de Bruno Nogueira? Quase ninguém sabe. "A ideia já está a ser escrita mas ainda não me sinto com o discurso preparado para explicar o que é", diz o humorista. O formato, que deverá estrear-se no início de 2025, contará com a colaboração de duas gerações de guionistas.

"O Carlos Coutinho Vilhena está a escrever comigo, e o Frederico Pombares, com quem já trabalhei várias vezes. Há vários argumentistas com quem estou a colaborar criativamente, porque interessa-me muito esta ideia de ouvir várias gerações e várias pessoas que eu admiro, enquanto argumentistas e comediantes. Sinto que tenho muito a ganhar ao tentar perceber o que é que, para eles, é divertido. É uma reunião criativa disfarçada de convívio", explica Bruno Nogueira.

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Carlos Coutinho Vilhena, de 31 anos, é comediante e youtuber. Pertenceu ao coletivo de humor Bumerangue, composto por Manuel Cardoso, Pedro Teixeira da Mota e Guilherme Geirinhas. É autor e protagonista das séries digitais "Bon Vivant", "O Resto da Tua Vida" e "Clube da Felicidade". Frederico Pombares, de 46 anos, começou o seu percurso profissional como publicitário e conta com mais de duas décadas dedicadas ao guionismo para formatos de humor. Trabalhou com Bruno Nogueira em "Tabu", "Último a Sair" e "Lado B".

"Não tenho muita urgência de fazer televisão porque respeito muito a televisão"

Bruno Nogueira estreou-se na RTP, primeiro como ator, na novela "Os Lobos", em 1998 e, depois, como humorista e apresentador. Foi na estação pública de televisão que fez os seus projetos mais marcantes e arrojados, como "Os Contemporâneos", "Último a Sair", "Odisseia" e a série "Sara", exibida na RTP2 e uma das mais elogiadas pela crítica dos últimos anos. A sua última passagem pela televisão aconteceu entre 2020 e 2023, precisamente na SIC, onde esteve em antena com o formato de ficção "Princípio, Meio e Fim" e com o programa "Tabu".

As passagens de Bruno Nogueira pela RTP têm em comum José Fragoso. A relação do humorista com o diretor de programas da estação pública também catalisou este regresso. "Já andávamos a falar há algum tempo informalmente. Tinha-me surgido uma ideia, o Zé também tinha vontade de a ouvir... confesso que eu não tenho muita urgência de fazer televisão porque respeito muito a televisão. É um meio tão incrível de fazer humor que eu, às vezes, dou-me ao luxo de fazer outras coisas para ter tempo de pensar numa coisa que me faça sentido fazer em televisão. E o Zé tem também essa disponibilidade de aturar esses meus tempos", explica.

Além do entendimento com José Fragoso, Bruno Nogueira salienta ainda que "a RTP é esse espaço seguro e fundamental de se experimentar, sem medo se, ao segundo programa, baixarmos ligeiramente a audiência". "Muitas vezes isso não está diretamente ligado com a qualidade do que se está a ver. Há coisas que têm um bocadinho menos de audiência e que sobrevivem no tempo 10, 20 anos. Eu acho que a RTP permite esse acordo e, sobretudo, o Zé gostar muito de humor e de projetos de autor", acrescenta ainda Bruno Nogueira.

"Uma espécie de quarentena das ideias", como descreve, ou o espaço com que intercala os projetos televisivos, permite a Bruno Nogueira não sentir pressão relacionada com a expectativa criada pelo público. "Quando avanço para fazer, não estou inseguro com a ideia que estou a apresentar. Estou seguro que é o que eu quero fazer. Claro que interessa que as pessoas se identifiquem com a ideia que apresentei", explica.

Depois da experiência digital inédita dos diretos do Instagram "Como é que o Bicho Mexe", durante a pandemia, Bruno Nogueira continuou a sua aventura online com o podcast "Isso Não se Diz", lançado em abril de 2023. Nuno Markl e Filipe Melo são presenças assíduas no formato, que está no top dos podcasts mais ouvidos em Portugal. Mas o humorista abre também espaço a outros convidados, como aconteceu recentemente com Ana Moura.

"Houve uma altura em que fiz um programa na RTP chamado 'Lado B', que era um talk show. E eu tinha muita fome de ser engraçado pergunta sim, pergunta não. Eu fazia aquilo e achava que era o maior. Curiosamente foi com o José Fragoso. Na altura, quando era para ser a segunda temporada, disse-me 'acho que devias ir pensar noutra coisa'. Eu fiquei furioso porque, para mim, não havia nada melhor que eu pudesse fazer. Desse tempo em que fui pensar, surgiu o' Último a Sair'. Foi uma pausa provocada que fez nascer uma coisa de que me orgulho muito", recorda Bruno Nogueira.

"Nessa fase, eu estava mesmo confiante de que o espectador tinha de ser entretido a cada pergunta. Isso era eu a contaminar-me porque estava a ser filmado, havia ali público... com o tempo, e o 'Como é que o Bicho Mexe' me ajudou bastante com isso, nesses diretos em que eu fazia durante a pandemia, em que eu sabia que as pessoas estavam ali, eu permiti-me a outra coisa, que é estar verdadeiramente a ouvir a outra pessoa, sem tentar ser eu o protagonista da conversa. O que fez com que eu descobrisse que é muito mais interessante ouvir e aprender outros pontos de vista", refletiu ainda o humorista, em declarações à comunicação social, durante o evento da RTP.