O "Hell's Kitchen" estreou na SIC em março de 2021 e terminou em junho do mesmo ano, após 12 episódios. Depois da temporada inaugural, chega a segunda, a 2 de janeiro de 2022. As noites de domingo voltam a trazer os comentários implacáveis do chef Ljubomir Stanisic, mas, antes disso, descubra por onde andam os antigos concorrentes.
Este desafio culinário tem como base o programa original britânico "Hell's Kitchen", encabeçado por Gordon Ramsay. Emitido desde 2005 e até aos dias que correm, este formato testa aspirantes a chefes com vários desafios culinários. Na versão portuguesa, o chef bósnio avalia 16 profissionais de cozinha, que, durante semanas, são submetidos a inúmeras provas, com o objetivo de superarem os duelos culinários e, claro, chegarem à final, evitando ser eliminados no fim de cada episódio.
Francisca Dias foi a vencedora da primeira edição do programa, tendo disputado a final com Lucas Fernandes, que ficou em segundo lugar. Já Cândida Batista e Rute Palas chegaram à semifinal. A MAGG falou com estes quatro concorrentes na tentativa de saber que negócios criaram, como estão a correr e, claro, se vão acompanhar a nova temporada.
Rute Palas
Rute Palas chegou à semifinal do "Hell's Kitchen", tendo conquistado o quarto lugar. Continua a viver em Grândola, onde também trabalha. Se quiser provar as iguarias da chef, deve dirigir-se ao Villa Mariscos, especialista em sabores alentejanos e a mar. Em 2013, quando foi inaugurado, tornou-se a primeira cervejaria da vila.
No entanto, mais recentemente, os cozinhados de Rute Palas passaram a estar disponíveis noutro restaurante, o Sal Grosso, dos mesmos donos, e também em Grândola. Este espaço é mais dedicado a caça e a carnes maturadas, e é aqui que Rute tem passado a maior parte dos seus dias desde junho.
O seu objetivo é abrir um restaurante próprio, mas, como a mesma explicou à MAGG, "ainda não surgiu oportunidade". Até lá, vai colocando em prática os ensinamentos que retirou do "Hell's Kitchen". "Ganhei muita riqueza", afirma sem hesitação, comparando-a a "um baú cheio de ideias e de coisas novas" que levou consigo para casa após o fim do percurso pelo programa.
"Fiquei muito feliz de ter entrado", contou-nos, apesar de lhe ter custado muito estar longe da família. Mesmo não tendo chegado à final, "foi como se tivesse ganho". Ao comparar o historial dos colegas, "que tinham muito mais experiência naquele registo de cozinha", valoriza ainda mais o patamar que alcançou. "Nunca esperei chegar onde cheguei. Pensava que poderia ter pessoas muito melhores do que eu. O sabor foi igual ao de uma vitória", explicou à MAGG.
A cozinheira de 41 anos vai acompanhar a próxima edição. "Acho que eles vão ter muito mais acesso a certas coisas do que nós, porque tivemos azar com a altura da Covid. Não podíamos sair nem fazer muitas coisas fora do estúdio", revelou-nos. Até abrir o seu próprio negócio, vai recebendo visitas de apoiantes nos restaurantes onde trabalha, que procuram saber mais sobre Rute, tanto a nível profissional, como pessoal — e até sobre a experiência no programa.
Cândida Batista
Cândida Batista nasceu no Brasil e vive em Viena, tal como quando o programa estreou. Depois do fim do mesmo, Cândida tornou-se uma mulher casada, tendo oficializado a união com o companheiro, Thomas Guttel, em Lisboa, antes de regressar à Áustria, que acabou de desconfinar. Nos últimos tempos tem tentado gerir as aulas da filha em casa, o casamento, que "nem todo o dia é fácil", e a vinda de um novo morador: um cachorro que até já foi com a família para os Alpes para "brincar na neve".
No que toca à cozinha, continua a fazer o mesmo que há uma década: serviços privados para clientes, com grupos máximos de 15 pessoas. Enquanto criadora de conteúdos, tem publicado pequenos vídeos no Instagram onde ensina algumas receitas aos seguidores . "Eu acho legal compartilhar. Assim qualquer pessoa tem um guia básico de como fazer em casa e ter uma refeição diferente no dia a dia", esclareceu à MAGG.
Mas o conteúdo que cria não é só de cozinha. Também o OnlyFans, serviço procurado maioritariamente para interessados na indústria de entretenimento adulto, merece particular dedicação desta chef: "Adoro contar histórias, criar cenários que na verdade não existem, neste caso com pouca roupa". "Tem que ter a lingerie certa, a maquilhagem, a ideia toda, para contar uma história legal", explicou, defendendo que é necessária muita criatividade e planeamento por detrás destes conteúdos.
Além destes projetos, encontra-se a comandar e apresentar o segmento "Na Cozinha com Cândida Batista", um programa de culinária emitido no canal brasileiro Band TV no qual grava "receitas simples para cada pessoa, que toco o mundo consegue fazer", como a própria garantiu à MAGG. Os episódios são gravados na Áustria, pela mesma, e emitidos no Brasil.
A brasileira de 40 anos, que conseguiu o terceiro lugar no "Hell's Kitchen", não voltaria a entrar. "Quando entrei num programa de cozinha eu imaginei que íamos passar o dia cozinhando", explicou-nos, não tendo antecipado, na altura, tudo aquilo em que consistiria a gravação. Não planeia ver a próxima edição, tal como não viu aquela em que participou — "só as cenas finais". "Trabalhei muito mais do que em qualquer restaurante em que eu tenha trabalhado", acredita.
Lucas Fernandes
Lucas Fernandes chegou à final, tendo ficado classificado em segundo lugar. Emigrou para a Alemanha em tenra idade, mas, em 2019, regressou a Portugal na tentativa de se dedicar ao mundo empresarial — e hoje tem quatro empresas. Uma delas é a Finesseleague, que se dedica à comercialização de carnes maturadas, e outra a Vintage Sequence, uma empresa de pecuária sustentável que faz criação de raças muito raras em Portugal.
Além da empresa onde presta serviços de catering, tem também o "Hell's Table". Este último surgiu em maio, depois do programa, como o nome indica, e foi construído nas instalações de uma das empresas de Lucas. Localizado em Vila Verde, Braga, funcionou em parceria com Diogo Filipe e António Pedro, também concorrentes do programa da SIC. No entanto, em outubro, a parceria chegou ao fim."Chegou a altura em que achámos, em coletivo, que seria melhor acabar com aquilo", revelou-nos.
Desde então, o restaurante tem estado fechado, mas vai reabrir a meio de janeiro, como contou o bracarense à MAGG. Em agosto, teve o pop-up Gerês by Lucas Fernandes: "era um imóvel do caraças. Íamos buscar os clientes de barco à marina e eles podiam passar lá uma tarde", esclareceu o chef, que planeia ver a nova edição. "Vou ter sempre um interesse, porque participei na primeira temporada. E desejo boa sorte a toda a gente", garantiu.
Empresas à parte, o novo projeto de Lucas está ligado ao Youtube, plataforma onde criou a série "React ao Inferno". O objetivo é desconstruir, de forma cómica, os episódios da primeira temporada de "Hell's Kitchen", aproveitando para esclarecer as situações polémicas. O primeiro episódio foi publicado a 5 de novembro e já estão disponíveis outros sete. "É baseado naquelas perguntas que fazíamos aos seguidores. Eles sempre disseram que seria giro ouvir o meu lado e eu cheguei à conclusão de que seria apropriado, também como autoterapia", disse, sobre a série.
"Tenho tentado contar a minha história baseado em factos que aconteceram. A reação tem sido boa", acrescenta, explicando que os convidados da série, com quem grava cada vídeo, residem, por norma, no norte de Portugal, tal como Lucas, e são pessoas com as quais "simpatiza", assegura. Meses depois do final da edição em que participou, tem tirado várias conclusões: "se tivesse ido lá para ganhar protagonismo, tinha feito tudo bem. Deu-me uma certa projeção, mas isso também veio prejudicar muita coisa, tendo em conta que não posso ir a lado nenhum sem olhares e falas. Gosto de estar no meu canto".
Francisca Dias
A primeira edição portuguesa deste formato de competição de cozinha teve como vencedora Francisca Dias. Aos 29 anos, a jovem de Mação conquistou o título de melhor chef do programa e ganhou um lugar no restaurante 100 Maneiras, junto de Ljubomir Stanisic. Inscrita pela mulher, Tânia, depois de ficar desempregada, Francisca garantiu à MAGG ter adquirido muitas valências no programa: "aprendi com os chefs, aprendi truques com outros concorrentes".
Depois do programa, aproveitou para criar o seu próprio negócio, algo que "já era uma ideia que tinha antes". O fim do formato trouxe "toda uma visibilidade", pelo que foi a altura certa para lançar o Cisca Massala. Este negócio de conservas e temperos caseiros une os sabores tradicionais da cozinha portuguesa aos do resto do mundo. "É uma coisa de que eu gosto e dá para conciliar com o trabalho. Consigo que a distribuição seja mais fácil", explicou-nos.
"A Tânia diz que gosta muito do meu tempero, do meu sabor. Portanto, é mostrar aquilo que eu sou enquanto cozinheira às pessoas", disse-nos Francisca. O Natal, esse, "correu otimamente" no que toca ao negócio. "É uma altura em que as pessoas gostam de oferecer cabazes", aponta. "Mas temos clientes fixos, que já encomendaram muitas vezes, que gostam, repetem e dizem que já não conseguem viver sem os nossos temperos", garante Francisca.
Este mês, Francisca deixou Lisboa rumo a Estremoz, onde está localizado o projeto novo em que participará. Já tinha intenções de abandonar a capital, pelo que agarrou esta iniciativa. Vai trabalhar num restaurante "em parceria com os donos". "Vou ser das chefs principais, ter um cunho muito meu", explicou à MAGG. Perceciona esta oportunidade como "um recomeço fora de Lisboa, uma mudança de vida".
A saída de Lisboa e o aparecimento deste projeto traçaram o fim da estadia de Francisca no restaurante do chef Ljubomir. "É sempre triste fechar um ciclo. É uma pessoa de quem eu gosto muito", assegurou-nos. "Foi o meu segundo estrela Michelin. Os chefs são pessoas diferentes, com histórias de vida diferentes. A exigência é a mesma, mas a cozinha é a essência de cada um. Foi interessante e muito enriquecedor", comentou, sobre as suas experiências na restauração.