2022 arrancou com um fim de semana de peso no que diz respeito a estreias televisivas. Logo ao segundo dia do ano, tanto a SIC como a TVI aproveitaram o domingo, 2 de janeiro, para dar início às novas edições de "Hell's Kitchen" e "Big Brother Famosos", respetivamente, sem esquecer que, na mesma faixa horária, a RTP1 transmite o "The Voice Portugal", que se tem revelado um concorrente de peso na guerra das audiências.

E se é verdade que o burburinho à volta de "Big Brother Famosos" era grande, muito devido aos fortes rumores de que Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting Clube de Portugal, iria entrar na casa — que se confirmaram —, e também à estreia de Cristina Ferreira na apresentação de um reality show, a cozinha dos infernos de Ljubomir Stanisic também angaria curiosidade, nem que seja pela expetativa de saber a quem é o que o chef arranca a cabeça primeiro.

Lucas, Francisca, Cândida e Rute. Como é a nova vida dos finalistas da primeira edição de "Hell’s Kitchen"
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Mas vamos já a uma entrada a pés juntos, aqui numa tentativa de homenagem à concorrente Branca (que já lá vamos): numa altura em que temos "MasterChef Portugal" nas noites de sábado e reality shows ao domingo, há mesmo espaço para este híbrido de programa de culinária com conflitos e insultos? Não me arrisco a vaticinar a vontade da maioria dos portugueses, mas, a mim, parece-me que esta fórmula e formato já cheira a mofo.

É inegável que, apesar do próprio nome do programa ter cozinha no título, isto nem sempre é o mais importante. Há algum talento nos concorrentes, mas nada me tira da ideia que existem participantes deste grupo de 17 escolhidos a dedo não pelas competências culinárias, mas sim pelas personalidades, seja para gerar confusão ou empatia. E só isso explica que num formato dedicado — supostamente — a eleger as melhores criações culinárias, existam concorrentes eliminados sem que os seus pratos sejam avaliados, ou propostas péssimas que passam no crivo do chef porque os participantes são humildes.

Hell's Kitchen
Para além de Ljubomir Stanisic, o programa conta com os chefs Manuel Maldonado e Hugo Nascimento. créditos: Instagram

Sejamos honestos: quem gosta de competições na cozinha está colado ao ecrã da RTP1 com "MasterChef Portugal"; quem está à espera de ver confusão, vai estar na fila a contar os dias para as primeiras peixeiradas do "Big Brother". Mas mesmo sem ficarmos propriamente entusiasmados com a estreia de "Hell's Kitchen" na SIC, não perdemos pitada e mostramos-lhe cinco momentos marcantes do regresso do inferno na cozinha do chef Ljubomir Stanisic.

Depois das críticas da primeira edição, há equipas mistas — e mais equilibradas

Aquando da estreia absoluta do formato em Portugal, em 2021, as críticas multiplicaram-se logo ao primeiro programa devido à divisão de equipas. Os concorrentes foram separados pelo sexo, ficando assim homens a competir contra mulheres, e com um claro desequilíbrio a nível  de experiência — a equipa azul, dos homens, tinha concorrentes mais qualificados e o fosso foi bem evidente. No entanto, a verdade é que foi mesmo Francisca Dias a vencer a primeira edição, derrotando Lucas, um dos participantes mais fortes do programa.

Hell's Kitchen
A nova edição arrancou com 17 concorrentes, com idades compreendidas entre os 20 e os 47 anos.

Não faço ideia se as críticas do ano passado pesaram na decisão, mas desta feita as equipas são mistas e também bastante mais equilibradas. Mas a tendência mantém-se e os homens continuam a ser os participantes com mais experiência, acumulando estágios em cozinhas com estrelas Michelin e até um concorrente que parece não ter idade para andar sequer numa montanha russa, mas que já dá 10-0 a todos os outros.

Podemos apostar já dinheiro na vitória do Gonçalo?

Gonçalo tem 20 anos — mas cara de 12 —, vem do Seixal e, apesar de vegetariano, fez o melhor prato (e peixe) da noite e arrancou rasgados elogios ao chef do 100 Maneiras. O concorrente mais jovem em competição, e que veste a jaleca azul, deslumbrou Stanisic não só pela sua postura calma na cozinha, mas também com as técnicas aplicadas ao seu prato de assinatura, um salmonete que arrecadou nove pontos do chef.

Gonçalo Ribeiro
Gonçalo, 20 anos, é o concorrente mais jovem em competição.

Apesar da tenra idade, o participante é um claro favorito à vitória: resta saber se o ioga, modalidade pela qual é apaixonado, o vai ajudar a manter-se calmo nos vários conflitos que vão suceder dentro da cozinha do "Hell's Kitchen".

O chef só queria cozinhar para os participantes, mas houve quem odiasse a comida

A segunda edição do "Hell's Kitchen" arrancou com casa cheia no restaurante. Numa refeição muito especial, os concorrentes estavam misturados com outros clientes e prontos para experimentar pratos da ementa do programa, confecionados não só por Ljubomir Stanisic, mas também por Hugo Nascimento e Manuel Maldonado, chefs residentes do "Hell's Kitchen", com a ajuda de Francisca Dias, a grande vencedora da primeira edição.

Mas provavelmente influenciados pelo que se passou na primeira temporada — em que o chef Stanisic cozinhou uma refeição com ingredientes de fraca qualidade para testar os participantes —, os concorrentes foram com total desconfiança aos pratos, sempre à procura de defeitos e armadilhas.

Claro que ninguém foi tão longe como Branca, uma cozinheira especializada em doces conventuais de 47 anos, que não parou de tecer críticas aos pratos e chegou mesmo a dizer ao chef Ljubomir que o azeite de uma das propostas era rançoso. E mesmo depois de o chef do 100 Maneiras lhe garantir que os pratos não tinham qualquer armadilha, sendo a refeição apenas um momento para "mostrar amor" aos convidados, a concorrente de Leiria recusou-se a comer a proposta de carne — uma receita da vencedora Francisca Dias — por a considerar intragável.

Antes disso, ainda teve tempo para entrar de rompante na cozinha de Stanisic sabe-se lá para fazer o quê — acho que ouvi algures um desculpe —, num momento que lhe valeu o prémio WTF de todo o programa.

E o que é que ganha o vencedor de um programa de cozinha? Um carro, óbvio

Algures durante a primeira emissão da segunda temporada de "Hell's Kitchen", somos informados do prémio do grande vencedor. Depois de semanas a fio na cozinha e de várias propostas de pratos, desafios, sangue, suor e lágrimas, o que é que o grande vencedor leva para casa?

Dinheiro para abrir um restaurante ou iniciar um projeto no mundo da cozinha? Cursos culinários de renome? Um estágio junto de um chef de referência? Não, um carro (e nem é uma carrinha para fazer serviços de catering, é mesmo um carro). É que nem um conjunto de fascículos da Planeta DeAgostini para aprender a fazer assados, meus amigos. E ainda me querem convencer que isto é um programa de cozinha? 'Tá bem.

O drama de Rosa Branca dava um programa só por si

Depois de uma entrada a pés juntos com o chef ainda durante a refeição, a prestação de Rosa Branca no resto desta estreia foi tão polémica que até parece saída de um guião. Não obstante já estar marcada no radar de Stanisic, a concorrente de Leiria foi a única a não terminar o prato depois dos 60 minutos de prova terminarem, e mesmo com o chef a permitir-lhe um extra de três minutos e meio e até a oferecer a sua ajuda — aliás, foi mesmo Ljubomir a ir buscar a molheira à despensa para Branca servir o molho do seu prato —, a participante continuou pouco humilde e a ignorar os pedidos de Stanisic para se juntar aos colegas.

Branca
Branca foi a primeira concorrente a abandonar a cozinha de "Hell's Kitchen".

Decidida a colocar todos os elementos no seu prato mesmo depois de o tempo já ter terminado, Branca sublinhou que ia terminar a sua proposta. "Continuem", disse mesmo enquanto o chef  e os seus restantes 16 colegas aguardavam na bancada.

Escusado será dizer que, na reta final do programa, não existiam grandes dúvidas sobre o futuro de Branca na cozinha do "Hell's Kitchen": Ljubomir expulsou a concorrente de Leiria sem sequer provar e avaliar a sua caldeirada, mesmo após dar apenas dois pontos ao prato de Maria, 23 anos, a autora de um dos pratos mais fracos.

E é aqui que eu tenho um problema com este programa. Antes do desafio começar, Ljubomir Stanisic anunciou que o autor do pior prato iria para casa, mas não foi isso que aconteceu. Ou bem que Branca era logo eliminada quando não apresentou o prato a tempo como todos os colegas — o que era totalmente legítimo —, ou, já que teve oportunidade para continuar, a sua caldeirada deveria ter sido avaliada como todas as outras propostas. Mas num programa que termina com uma equipa a fazer camas e a comer os restos dos elementos da equipa rival, não creio que estejamos mesmo concentrados no talento culinário. Digo eu.

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