Marco Rodrigues foi o convidado do programa de entrevistas "Conta-me", da TVI, deste sábado, 27 de novembro. À conversa com Manuel Luís Goucha, o fadista recordou a infância feliz em Amarante, o início da carreira artística, e o momento em que perdeu a mãe.
Questionado pelo apresentador sobre como é que se aprende a viver sem mãe, Marco assume que "não se aprende". "Tenho a certeza que há um antes e um depois. Aprender a viver sem mãe é muito difícil quando se tem uma ligação tão próxima e especial como eu tenho com a minha. Não se aprende a viver sem mãe, tem de se lidar com isso", assumiu.
O fadista de 39 anos viu a mãe partir recentemente e confessa que não estava preparado para isso. "Há um sentimento de injustiça porque partiu muito cedo. Não há altura certa para as pessoas partirem, mas tiraram-me a possibilidade de partilhar com a minha mãe coisas que até agora não consegui."
Além de lamentar o facto de os filhos, Bernardo, de 5 anos, e Francisco, de 1 ano, não terem a oportunidade de conviver com a avó, recorda com carinho a forma como a mãe foi responsável pela vida que tem hoje.
"Ela deu tudo. O meu percurso sem a minha mãe tinha sido completamente diferente. Ela abdicou da vida dela pela minha. Fez tudo para que eu conseguisse ter uma carreira e ser feliz", diz. Marco Rodrigues, que passou a infância em Amarante, aos 8 anos foi viver para Arcos de Valdevez e aos 15 anos, após a separação dos pais, mudou-se para Lisboa com a mãe.
"Gosto de ser fadista a cantar outras coisas"
Foi na capital que a mãe o começou a incentivar a lutar pela carreira enquanto artista, por acreditar que o filho tinha talento. Atualmente, é um dos fadistas mais reconhecidos em Portugal, mas afirma que também gosta de cantar outros estilos musicais.
"Gosto de ser um fadista a cantar outras coisas. Não fiquei refém, nem ninguém tem de ficar. É muito confortável para as pessoas rotularem as coisas, mas acho muito mais incrível poder ter um público à minha frente de pessoas que vão porque conheceram 'O tempo' [música lançada em 2017] — e, se calhar, nem conhecem nenhum dos fados que eu canto — mas chegam, assistem a um espetáculo meu e saem de lá a dizer que adoraram."
Questionado por Manuel Luís Goucha sobre o que o distingue dos restantes nomes do fado, Marco Rodrigues responde: "Não faço ideia, isso têm de ser as pessoas dizer. Eu trouxe só a minha verdade."
Como artista, não deixou também de referir a forma como a pandemia afetou o trabalho, mas confessa que, devido à perda da mãe, não viveu esses tempos da mesma forma que os colegas. "A pandemia começou logo passado dois meses de a minha mãe ter falecido. Foi muito leve [ a forma como lidei] porque nem sequer me consegui sentir frustrado a nível profissional. Foi um ano estranho, mas não estranho da forma como a maioria das pessoas o sentiram."
Neste ano, Marco deu também as boas-vindas ao segundo filho, Francisco. "O Francisco nasceu no meio do caos, mas ajudou-me a não estar no caos. Estar durante uma pandemia com a dor do desaparecimento da minha mãe, com o trabalho condicionado, e ter o Francisco numa altura destas pareceu quase uma compensação."
A Manuel Luís, o cantor confessa que ser pai sempre foi um sonho e que, neste momento, não há amor maior do que aquele que sente pelos filhos.