O sonho do jornalismo praticamente nasceu com ela. Não se lembra de querer ser outra coisa que não jornalista, e mesmo quando não entrou no curso que desejava, Mónica Martins não baixou os braços. Aos 29 anos, a algarvia faz parte da nova geração de pivôs da SIC Notícias. É um dos rostos da "Edição da Manhã", mas o percurso no pequeno ecrã começou com um programa para as comunidades portugueses que vivem fora do País.
Formada em Educação Social (o mestrado na área de comunicação social, já em Lisboa, aconteceria depois), a jornalista está na estação de Paço de Arcos desde 2016. À MAGG, conta-nos tudo sobre o caminho percorrido até chegar à televisão e relembra os principais desafios de estar a apresentar as notícias durante um dos momentos mais singulares da História recente.
Quando terminou o estágio, achou que era uma hipótese ficar na SIC?
Quando escolhi o estágio, na altura do mestrado, pensei logo na SIC. Como sempre tive o jornalismo, em especial o televisivo, como foco, a SIC sempre foi a minha referência e a primeira hipótese no estágio. Quando entrei aqui, foi uma espécie de sonho tornado realidade e que se foi prolongando no tempo.
Quando terminou o estágio e lhe propuseram ficar, como foi?
Foram seis meses de estágio. Depois tive duas semanas de férias, pensando eu que já não voltava e que tinha de começar a organizar a minha vida. Mas depois ligaram-me a perguntar se eu estava disponível para fazer a baixa de uma colega. Aproveitei a oportunidade, claro. Fiquei muito contente. Foi voltar, mas de uma forma mais profissional. E depois foi acontecendo, até que surgiu a oportunidade de integrar um programa, o "Notícias de Portugal" [SIC Internacional] e aí foi o ponto de viragem. Enquanto não comecei esse programa, fiz várias coisas. Estive em várias edições, cheguei a fazer produção. Experimentei várias coisas dentro da redação. Depois do “Notícias de Portugal”, a “Edição da Manhã” [SIC Notícias] e aí tenho continuado.
Ter tido a experiência de fazer um noticiário para a comunidade emigrante deu-lhe uma perspetiva diferente de um País que, apesar de não estar dentro das fronteiras do País, também é Portugal?
Sim, completamente! Fazer aquele jornal era uma coisa muito específica. Tinha de ser mesmo pensado para as pessoas que estavam fora, o que é que lhes interessava saber sobre o nosso País, o que era importante para elas, o que é que gostavam de sentir de Portugal e, de alguma forma, matar algumas saudades, Os alinhamentos eram feitos sempre a pensar nisso.
Rotineiramente, a SC escolhe um grupo de pessoas para integrar uma formação de pivôs. Quando a propuseram para essa formação, como é que reagiu?
A formação começou propositadamente por causa do “Notícias de Portugal”. Além de coordenar, alinhar, editar, também tinha de apresentar, e fazia isso em conjunto com outra colega. Quando comecei a ter formação, foi muito nesse sentido. Mas era um programa gravado, não era em direto. Foi a primeira formação que tive com o Rodrigo [Guedes de Carvalho]. Essa formação intensiva que outros colegas meus tiveram, eu não tive, porque passei do “Notícias de Portugal” para a SIC Notícias. Houve uma baixa nas apresentações da manhã e foi assim quase imediato. O Rodrigo dá umas formações incríveis e nem é preciso ser pivô para as ter. Todos os jornalistas da redação deviam passar por ali.
Quando é que se estreia nas manhãs?
Foi no penúltimo fim de semana em Carnaxide, em janeiro de 2020. A “Edição da Manhã” foi dois ou três meses depois.
Quando começa rotineiramente na “Edição da Manhã”, apanha logo o início pandemia.
Sim. Comecei a fazer a “Edição da Manhã” num horário um bocadinho difícil, para crescer e para aprender. Mas foi muito bom para ganhar alguma estaleca, para ir aprendendo a desenvencilhar-me, a ganhar alguma experiência. A pandemia foi uma grande responsabilidade.
Estar à frente de um noticiário num canal como a SIC Notícias já é uma responsabilidade, mas fazê-lo durante este período específico ainda mais. Houve momentos difíceis, não só a nível emocional mas também pelo facto de ser um elo de ligação entre o telespectador e a realidade?
Nós aqui sentimos muito essa responsabilidade. Era uma situação nova, ninguém sabia como lidar com aquilo, e todas as informações que nós passávamos estavam constantemente a mudar. Tínhamos de tentar ser o mais rigorosos possível, com as fontes mais científicas possível, para tentar desmistificar e passar as informações mais corretas. Mas, emocionalmente, também foi muito pesado.
A dada altura, eram só números, mas não nos podemos esquecer que, atrás dos números, estão as pessoas. E dar mais mortes aqui, mais mortes ali, e tudo somado, havia dias em que eram mais 200... Se pensarmos, só num terramoto é que há estas vítimas todas. Era como se todos os dias houvesse um terramoto. E isto pesa, não é? Tentar não cair na banalidade de aquilo serem só números todos os dias é um exercício muito difícil. Essa é a parte mais pesada de dar notícias sobre a pandemia.
E vocês estavam a trabalhar em bolha, as equipas eram estanques.
Sim. Eu tinha contacto com a minha equipa da “Edição da Manhã”, mas não tinha com praticamente mais ninguém. Havia muita gente em casa, o que dificultava muito o trabalho, porque o trabalho de redação é estarmos uns ao lado dos outros, a tirarmos dúvidas, a aprendermos uns com os outros. Isso também foi muito difícil de ultrapassar, especialmente numa altura em que eu sinto que ainda estou a crescer como jornalista e que preciso muito da colaboração dos meus colegas. Por isso é que, há pouco, dizia que fazer a “Edição da Manhã” na pandemia e assumir o jornal foi uma tarefa complicada e que me fez crescer. Estando sozinha e não tendo ali todos os colegas à volta para dizer ‘devias fazer assim, não devias fazer assim’, essa falta de comunicação foi muito difícil também.
Consegue lembrar-se de um momento que tenha sido particularmente difícil?
Acho que todos os dias são um desafio. Todos os dias, quando nos sentamos naquela cadeira e a câmara se liga, é sempre um desafio porque nunca sabemos o que vai acontecer. E há sempre vários momentos marcantes. Mas talvez o primeiro dia do ano, da morte de Carlos do Carmo. Eu estava no ar, aquilo aconteceu, e depois foi uma grande dualidade entre os foguetes da passagem de ano e a morte de um artista muito importante para o nosso País. Fazer esse jogo entre os festejos e uma notícia tão pesada é muito difícil. Para além das peripécias que acontecem todos os dias: um teleponto que salta, um direto que cai, que não tem som, todas essas barreiras que temos de ir contornando tornam cada jornal especial.
"[A CNN Portugal] é uma ótima oportunidade para nós também crescermos "
A sua geração de jornalistas televisivos tem uma particularidade que as anteriores não têm. Hoje em dia tudo está disponível nas redes sociais. Pesquisei o seu nome no Google e as primeiras entradas que aparecem são “Mónica Martins SIC Notícias idade”, “Mónica Martins SIC Notícias namorado”; “Mónica Martins SIC Facebook”. Que reação é que isto lhe desperta?
Eu não sou uma pessoa que partilha muita coisa nas redes sociais. São todas privadas, nem vou muito às caixas de pedidos de amizade. Sou muito desligada das redes e tudo o mais. Claro que as uso em trabalho mas não sou muito de partilhas, a verdade é essa (risos). Sinto que, quando estou no ar, há mais pedidos de amizade ou até no Linkedin, mas não vou ver. Não é uma coisa a que ligue muito.
A parte de ser pivô traz aquilo que muitos jornalistas não têm, que é a exposição pública.
Eu não sinto muito isso. Primeiro, porque toda a gente me diz que eu na televisão tenho um metro e qualquer coisa e, aqui, sou muito pequenina (risos)! Raramente me reconhecem, principalmente com a história das máscaras. Eu sou mais conhecida na aldeia da minha avó (risos)! Lá toda a gente me conhece, toda a gente adora, fica fascinada com a televisão, especialmente ela, mas é só isso! Não passa dali. A exposição, para já, não me afeta em nada.
O sonho de ser jornalista vem da infância? Teve o incentivo dos seus pais?
Eu não me lembro de dizer que queria ser outra coisa a não ser jornalista. Normalmente as miúdas dizem que gostavam de ser bailarinas, professoras… Os meus pais, quando falamos sobre isso, dizem que eu sempre quis ser jornalista, que ficava sempre agarrada à televisão. Eles nunca puseram nenhum entrave em eu vir para Lisboa, mesmo da primeira vez. Sempre me apoiaram, nunca viram um problema ser em Lisboa, longe do Algarve.
Como é que vê o nascimento da CNN Portugal, um canal que vai ser concorrente da SIC Notícias?
Acho que é uma ótima oportunidade para nós também crescermos e fazermos o que continuamos a fazer todos os dias: o trabalho, da melhor forma que fazemos. Ter concorrência à altura é sempre bom. É um desafio.
Quem são, aqui em Portugal, as pessoas que admira?
Essa pergunta é muito difícil. Como eu sempre vi televisão e sempre tive a SIC como referência, estar aqui na redação, levantar a cabeça e ver os jornalistas que eu sempre vi a fazer televisão, que me inspiram. Estar aqui com eles é logo a primeira coisa que agradeço sempre e que acho que é uma oportunidade mesmo muito boa. Mas nós falamos sempre das gerações mais antigas. Além do Rodrigo, da Clara [de Sousa], da Teresa Dimas, que tenho como grandes referências aqui, até há bem pouco tempo tínhamos aqui uma das melhores pivôs que eu acho que Portugal tem, a Sara Pinto. Tenho muita pena que ela se tenha ido embora. Assim, de uma geração mais nova, a Sara Pinto é uma grande referência. Depois, acho que também nos esquecemos de referir pessoas que são da nossa geração. Tenho uma grande admiração pela Sara Tainha. Acho que ela é uma miúda incrível e vai ser a próxima Clara de Sousa. Tenho a certeza. Ela é muito inspiradora e gosta muito de partilhar. Ensina muito sem impor esse ensinamento.
Quem é que gostaria de entrevistar?
Não tenho aquela que pessoa que gostava de entrevistar, porque acho que cada tema, cada assunto, cada pessoa tem uma história.