Adriano Silva Martins é já um nome indiscutível do social português. Com o dom da palavra assertivo, o olhar atento ao que se passa no mundo das celebridades e uma pontaria certeira quando o tema é polémica, o apresentador tornou-se num rosto familiar da televisão portuguesa para todo o público desde 2018, quando começou na TVI a fazer uma substituição, e desde aí nunca mais parou. Com os seu próprio programa no canal V+ e a comentar o "Big Brother Verão", Adriano Silva Martins está mesmo, como afirma, onde devia estar.

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Mas a sua carreira não começou só agora, mesmo que uma geração mais nova pense que sim. Adriano Silva Martins esteve quase duas décadas em Espanha, onde construiu uma carreira sólida no jornalismo internacional cor-de-rosa. Contudo, decidiu voltar a casa e mergulhar de cabeça no mediatismo nacional o que, até agora, tem dado frutos.

Começou por entrar na TVI24 para fazer uma substituição, mas foi na CMTV que conquistou o público em "Noite das Estrelas". Em pleno auge, onde era presença regular em horário nobre, decidiu que precisava de mais, e abraçou um novo desafio: o"V+ Fama".

No entanto, este não é um programa qualquer para Adriano Silva Martins. Este é o "telejornal" do social, onde o apresentador quer aplicar todo o conhecimento que adquiriu em Espanha e fazer diferente em Portugal - e tem-no feito bem, uma vez que o programa ocupa agora o dobro do espaço na grelha que tinha no início.

Assim, mais do que uma mudança de canal, esta é uma nova fase para Adriano Silva Martins. Com mais liberdade e mais exposição, o apresentador e comentador não é de jogar pelo seguro e, nesta entrevista, falámos sobre o passado em Espanha, os bastidores da televisão portuguesa, as polémicas que vê como medalhas e os objetivos que ainda tem por concretizar. Entre elogios e farpas, uma coisa fica clara nesta entrevista: Adriano Silva Martins não veio para ser mais um, e garante que não existe ninguém como ele.

Leia a entrevista.

A carreira do Adriano como jornalista começou em Espanha, e faz 20 anos de carreira este ano. Depois de duas décadas, que é que ainda lhe dá adrenalina no jornalismo?

A imediatez. É saber que tenho uma história entre mãos, ser o primeiro a dar ou pôr-me pelo menos a trabalhar para tentar ser o primeiro a dar. Porque no jornalismo nós não damos só notícias, nós contamos histórias. E, portanto, quando nós encontramos uma via para chegarmos a um ponto que ainda não é conhecido, somos os primeiros a descobrir alguma coisa. E isso é aquilo que me dá mesmo muita adrenalina. 

O que eu mais gosto no “V+ Fama” é o facto de ser um programa em direto, e eu todos os dias tenho que encontrar conteúdos diferenciados, pontos de vista diferenciados, novos detalhes ou, inclusive, novos exclusivos para me diferenciar do resto. E, portanto, o que me dá gozo, o maior gozo nesta profissão, é mesmo contar histórias às pessoas, dar-lhe as novidades.

E como é que tudo começou? Desde que momento é que o Adriano percebe que é jornalismo que quer fazer para o resto da vida?

Eu comecei na rádio da Universidade de Navarra há 20 anos, que era a universidade onde eu estudava Direito, mas percebi no segundo ano do curso que não era algo que eu quisesse fazer para o resto da minha vida. Queria ser jornalista, então apresentei-me na rádio da universidade e disse que queria colaborar. Comecei por fazer um programa sobre cinema, e esse foi o momento em que eu pensei “eu quero mesmo fazer isto para o resto da minha vida”. 

Aliás, eu sempre me interessei por celebridades, sempre comprei e consumi imensas revistas sobre famosos, e não falo só das do cor-de-rosa, também comprava a “Bravo” e a “Super Pop”. Eram uma via de escape para um jovem rural e homossexual como eu. E depois de terminar a licenciatura em direito fiz uma pós-graduação em jornalismo em Madrid, e entrei num estágio na agência Korpa, que é como se fosse a Lusa Cor-de-Rosa. A verdade é que não há jornalismo mais rentável em Espanha do que o cor-de-rosa, nem mesmo o jornalismo desportivo. 

Exemplo disso foi quando dei as primeiras férias do Cayetano Rivera, o ex da Maria Sequeira Gomes, com a mulher da altura, Eva González, onde os fotógrafos ganharam 600 mil euros com a venda dessas fotografias. Em Portugal, isso é absolutamente impensável. Aquilo é uma indústria brutal e eu quando entro então na agência Korpa entro como estagiário, como repórter de rua, e os repórteres lá são autênticas estrelas da televisão. E pronto, estive lá 17 anos, 12 a trabalhar. Depois voltei para Portugal em 2017.

No que é que isso moldou a sua visão como jornalista? Sentiu que começou do zero ao regressar?

Eu tinha o “know-how”, agora no resto eu comecei absolutamente do zero. Eu regresso a Portugal com 34 anos, com uma carreira boa em Espanha, e chego aqui e não conheço absolutamente ninguém, nem do meio, e, portanto, não foi fácil. Mas acabei por começar e foi na TVI, em 2018, a fazer uma substituição no programa “Cinebox” que havia na antiga TVI24, com a Maria João Rosa e o Vitor Moura. 

Eu sabia que tinha um grande trunfo, porque vinha de uma escola que vai mil passos mais à frente da portuguesa em termos da imprensa cor-de-rosa, e portanto, sabia que só precisava de ter algumas oportunidades para que começasse a crescer também em Portugal, e foi o que aconteceu. Durante a pandemia eu fazia uns diretos com a atriz Marta Taborda no Instagram, e a Marta trabalhava na altura na CMTV, e o Duarte Siopa viu as nossas mensagens e percebeu que eu sabia muito sobre social, principalmente sobre a realeza espanhola. 

Então convidou-me para ir comentar ao programa que ele tinha na altura, que era o “Manhã CM”, e fui lá uma vez, depois na semana a seguir voltei, e fui ficando, e acabei por ficar três anos no canal, também a comentar no “Noite das Estrelas”.

E foi precisamente nesse programa onde ganhou visibilidade, protagonismo e também fez parte de algumas polémicas. Alguma delas o marcou de forma especial? Alguma lição dura que o moldou como comentador?

Passa-me absolutamente ao lado o que os outros possam pensar. Se for uma crítica construtiva, até aí tudo certo. Agora, polémicas, sinceramente, todas as polémicas das quais me envolvi na CMTV ou em qualquer canal de televisão no qual trabalhei, para mim, são medalhas de ouro. Porque quando tu causas uma polémica é porque incomodaste alguém. E o jornalismo só faz sentido se incomodares. 

Claro que temos que informar, e nem todas as notícias têm o mesmo alcance, nem todas as notícias incomodam da mesma maneira, mas têm de nos fazer pensar. Se não, que sentido é que isso faz? Eu tenho ótimas lembranças da minha etapa na CMTV. Gostei imenso de lá trabalhar e estou muito agradecido às pessoas com as quais lá trabalhei. E se agora estou noutra etapa, é por ter passado lá também e com todas as polémicas. 

A mudança para a TVI parece ter sido um salto de fé. O que é que o fez virar a página e começar um novo capítulo nesta história? Sentia que era o que faltava?

O lema do V+ é “O Canal que Faltava”. Portanto, para mim, era o que me faltava. Honestamente, eu estava há três anos na CMTV, vinha de um ano muito duro de trabalho porque estava a fazer também às sextas-feiras um programa espanhol na Telecinco, e estava a alcançar uma dimensão em que eu precisava crescer. E portanto, quando recebi o convite do Grupo Media Capital para integrar este novo projeto, em que me dão a oportunidade não só de ser apresentador, o que já é um salto porque eu antes só era comentador, mas também o diretor do meu próprio programa, eu aceitei.

Sou o editor de conteúdos, a pessoa que controla absolutamente e que escolhe tudo o que passa naquele programa. Sou eu que procuro os temas, sou eu que decido a linha editorial do programa, dão-me liberdade absoluta para o fazer. Isso foi muito apetecível para uma pessoa que quer fazer diferente, que quer fazer à sua maneira, porque eu não vim para cá para fazer igual aos outros. Eu vim para cá para revolucionar o panorama social português. E é aquilo que tenho feito durante este ano com a minha própria assinatura e com o meu próprio cunho.

E parece estar a resultar, porque a verdade é que o programa passou a ocupar o dobro do tempo que tinha na grelha do canal. Podemos assumir que é um sucesso? O que é que acha que potenciou isso?

O programa é um sucesso indiscutível. O V+ é um canal do cabo, generalista, que compete contra a SIC, a TVI e a RTP e, portanto, não é fácil aparecer um canal novo do nada e ganhar espaço de uma forma imediata. Mas o V+ tem vindo a crescer muitíssimo desde o início deste ano, todos os dias o canal é falado nos sites e nas revistas, e em parte ou em grande parte graças ao “V+ Fama”. O programa em si é um sucesso porque tem uns números fantásticos em termos de audiência. 

E, para mim, há um momento que eu vou recordar sempre, que é o dia em que eu dou o grande exclusivo do ano, pelo menos até ao momento, que é o escândalo financeiro da Notable. Nesse dia, essa notícia abriu telejornais não só na TVI como abriu na CNN, abriu na SIC Notícias, abriu na SIC. Uma notícia dada e referenciada em todos os canais foi dada pelo “V+ Fama”, um programa do social. E isso é a conquista do trabalho. 

Mas o que é que o Adriano quer, realmente, com o “V+ Fama”? Está a tentar aqui implementar algo como um conceito espanhol de jornalismo sobre celebridades?

O objetivo base é informar e entreter, mas o informar é muito importante. O “V+ Fama” é um jornal do cor-de-rosa, não é um programa de comentário social. Todos os programas da manhã e todos os programas da tarde têm e tiveram o seu espaço de comentário social, mas isto é um programa completamente diferente. Nós temos os nossos próprios conteúdos, as nossas próprias notícias, exclusivos, primeiras mãos e, portanto, é um trabalho de jornalismo que há por trás, que antes não se fazia.

Durante este ano, acho que ditámos a linha para os outros programas da concorrência em duas coisas: menos especulação e mais informação, e menos gritos e mais elegância. Todos os comentadores de todos os canais começaram-se a vestir melhor e a falar melhor, por exemplo. Alguns melhores que outros, porque cada pessoa está dentro das suas possibilidades que Deus nosso Senhor lhe deu. E quando eu digo menos especulação, digo isto com plena convicção.

O Adriano está também a comentar o “Big Brother Verão”, o que lhe dá ainda mais visibilidade sendo um formato que mexe com emoções e opiniões fortes. O que é que está a descobrir neste registo?

Estou a descobrir aqui um universo novo e um universo apaixonante. Obviamente faz todo o sentido eu estar a integrar o painel dos comentadores deste projeto, visto que se trata de um “Big Brother” com famosos e, portanto, para a primeira toma de contato com um reality show era assim que tinha que ser. É diferente ser comentador do que ser apresentador, mas é diferente o Adriano que está no “Big Brother” do Adriano que está no “V+ Fama”? Não é assim tão diferente.

Eu estou no “Big Brother” para fazer à minha maneira, não estou lá para imitar absolutamente ninguém. Não estou lá para entrar em dinâmicas e em tipo de posturas que já vi em outras pessoas, que respeito muitíssimo porque é o seu estilo e a sua forma de fazer televisão e a sua postura de estar na vida, mas não é a minha. E, portanto, se eu fui chamado para integrar o painel é porque queriam o Adriano. Acho que posso dizer, com alguma presunção ou com falta dela, isso que o público decida, que eu sempre fui pelo cuidado das palavras e pela educação. 

Vê-se a fazer um reality show novamente? O que é que o está a agarrar mais ao formato?

Quem disser que não tem curiosidade em ver o que é que os outros fazem é absolutamente falso. Todos temos essa curiosidade, e depois há pessoas em que essa curiosidade se transforma numa paixão e há pessoas que essa curiosidade é um mero rasgo da sua personalidade. Eu, como jornalista, se eu não fosse curioso, não poderia ser jornalista, e se não forem curiosos, não podem ser jornalistas. Sejam funcionários das finanças que também é um trabalho muito digno. 

O que mais me interessa aqui é ver como um grupo de pessoas que aparentemente não se conhecem convivem numa mesma casa, com carácteres completamente diferentes, todos com um grande sonho. Ou seja, aqui são 10 cães para um osso, a disputarem um osso para levar o seu sonho avante, e acho que isso é intrigante e que é apaixonante. E depois o facto de ser em direto, que haja um canal como a TVI Reality, que está quase 24 horas em antena, é fascinante. Para quem gosta de competir, eu acho que é apaixonante.

Uma vez disse que não existem comentadores como o Adriano. O que é que acha que o distingue? Sente que abriu portas para uma nova forma de comunicar celebridades em Portugal?

Eu sou o primeiro comentador que simultaneamente faz o mercado espanhol e português. Eu fui o primeiro a ter dois programas em antena simultaneamente nos dois países e a aparecer em antena simultaneamente e, portanto, por aí, começamos o primeiro passo. Depois, claro que, honestamente, eu acho que vim mudar um bocadinho o panorama, no sentido em que até eu aparecer havia comentário social, mas não havia um trabalho de pesquisa. Quer dizer, não estou a dizer que não houvesse, mas que não havia de uma forma tão continuada essa paixão.

Claro que os meios de comunicação são importantíssimos para um programa como o “V+ Fama”, mas nós vamos sempre tentar também ter o nosso próprio conteúdo. Vamos imaginar que há uma notícia sobre a Bárbara Guimarães e que eu tenho que comentar essa notícia. A primeira coisa que eu faço é ligar diretamente para a Bárbara Guimarães ou para uma fonte próxima, para ter uma reação em primeira mão da pessoa. Eu acho que elevámos a fasquia. 

E acho que eu nisso, sim, destaquei-me e continuo a destacar-me, porque o “V+ Fama” destaca-se pelo entretenimento e pela informação. E, portanto, quando digo à boca cheia que nunca houve um comentador do social em Portugal como eu, não houve. Respeito muito aqueles que vieram antes de mim, mas não houve porque era outro tipo de comentário social, muito diferente daquilo que nós fazemos hoje no programa que, como disse, é um jornal do cor-de-rosa. 

O Adriano faz precisamente 20 anos de carreira este ano. O que é que ainda lhe falta fazer?

Provavelmente, muitíssima coisa. Mas sabes uma coisa? Quando eu tinha 23 anos, eu queria tudo imediatamente. Queria já trabalhar em televisão, queria ter o meu próprio programa de televisão, queria tudo e tudo ao mesmo tempo. A idade trouxe-me uma grande serenidade e uma grande consciência do trabalho. E portanto, eu estou absolutamente focado naquilo que estou a fazer neste momento. Aquilo que me faltará fazer, que não sei o que será, virá e eu farei as minhas próprias escolhas como fiz até hoje.

As pessoas perguntam-me sempre “Gostavas de apresentar o ‘Big Brother’?” ou “Gostavas de apresentar algum formato?”, e eu digo sempre a mesma coisa: não gostava nem desgostava. São coisas com as quais eu não penso. Quando chegar a altura tomarei a decisão. Agora, que me falta muita coisa por fazer, claro que falta. Para começar, fazer da imprensa cor-de-rosa em Portugal uma indústria de verdade. Essa é a minha máxima meta. Eu sou tão absolutamente feliz a fazer o “V+ Fama”, que é um programa exigente, que acho que seria desonesto para o projeto pensar noutras coisas. A ganância não nos leva a lado nenhum.