Já sabíamos que a adaptação televisiva de “Codex 632”, um dos mais populares livros portugueses, ia dar que falar. Brasil e Portugal, uma história baseada num livro de José Rodrigues dos Santoss, relações extraconjugais e Betty Faria? Sim, queremos tudo isso. Para não falar que Paulo Pires é o protagonista da série, o que faz com que os olhos estejam ainda mais colados ao ecrã.

Apesar de as gravações terem terminado em 2022, é nesta segunda-feira, 2 de outubro, que “Codex 632” estreia na RTP1. A sinopse é muito clara: Tomás de Noronha é um professor de História na Universidade Nova de Lisboa que é convidado por uma fundação italo-americana a continuar o trabalho de investigação sobre a verdadeira identidade de Cristóvão Colombo e as questões sobre a época dos Descobrimentos.

"Codex 632" está quase a chegar à RTP. Conheça a história desta aventura entre Portugal e Brasil
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(continue a ler por sua conta e risco, que há spoilers a caminho)

Até aqui, tudo bem. No entanto, com a visualização do primeiro episódio, as voltas trocaram-se e parecia que estávamos a assistir ao começo de um filme. Ambiente escuro, chuva, fuga, morte. Estes foram os primeiros quatro elementos a surgir no começo da antestreia, onde a MAGG viu o primeiro episódio, o que deixou todos na sala sem reação.

Quem morreu, como se percebe no trailer, foi um historiador brasileiro, que carregava com ele uma pasta com documentos importantes sobre Cristóvão Colombo e a descoberta do Brasil. Tomás de Noronha, interpretado por Paulo Pires, é convidado pela Fundação Américo Vespúcio para dar continuidade ao trabalho do historiador, que ficamos a saber ter sido mestre de Tomás.

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Paulo Pires no papel de Tomás de Noronha créditos: RTP

Começam as luzes, a cidade de Lisboa, a Universidade Nova, os jardins e os edifícios típicos portugueses a aparecer e a familiaridade com o cenário encheu o público. O trabalho de Sérgio Graciano, realizador da série, foi realmente muito bem feito: os ângulos utilizados, as ruas detalhadas e a história portuguesa são visíveis no ecrã, quase como se tivessem sido feitos com um propósito cinematográfico.

E não se engane. Apesar de José Rodrigues dos Santos ter escrito o livro “O Codex 632”, foi Pedro Lopes o guionista da série. O jornalista da RTP1 — que teve direito a um cameo — esteve na antestreia e disse à comunicação social que apenas esteve presente num dia de filmagens, sabendo que a adaptação do seu livro iria sofrer consequências quando chegasse ao ecrã.

E dizemos isto porque a linguagem utilizada pelos atores até nos deixou entusiasmados. Ana Sofia Martins, que interpreta uma professora colega do protagonista, a dizer “ganda cena” e Leonor Belo, a filha de Tomás de Noronha, a ser uma estrela do TikTok deixou-nos empolgados sobre o que vinha a seguir, e é claramente uma aproximação às gerações mais jovens.

Ora, já sabemos quem é Tomás, sabemos também que tem uma filha e aparece ainda a sua mulher, Constança, interpretada pela atriz brasileira Deborah Secco. Assim que aparecem os três no ecrã, o desconforto entre o casal é visível. Presos por um fio, o casamento de Tomás de Noronha com a mulher está prestes a ceder. No entanto, a relação com a filha é carinhosa e segura, uma relação que Paulo e Leonor também têm na vida real.

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Tomás de Noronha e Constança, casal interpretado por Paulo Pires e Deborah Secco créditos: RTP

É por esta altura que aparece Betty Faria, a derradeira personagem que irá ajudar Tomás mesmo sem ela própria perceber. A verdade é que a personagem de Betty é a viúva do historiador brasileiro que morreu logo no início do episódio, que vimos a descobrir que se chama Martinho, mas é uma personagem que sofre de demência, pelo que esta doença é bastante retratada em “Codex 632”.

No entanto, é neste momento que as histórias se comecem a baralhar. Para quem não leu o livro – que é o nosso caso –, as personagens são totalmente novas e a história diferente de todas as que já assistimos. Assim, a quantidade de elementos envolvidos no drama podem, no início, dar algumas dores de cabeça, especialmente quando são faladas duas línguas: português e a variante português brasileiro, e italiano.

A meio do episódio, chega a personagem que trocará as voltas ao coração de Tomás (na nossa opinião, claro). Interpretada por Bia Wong, Elena é uma estudante com tese de mestrado em cartografia que vem de Macau. No primeiro episódio não é totalmente perceptível a relação que os dois vão ter, mas o trailer já revelou cenas picantes que envolvem atirar material para o chão para se deitarem os dois aos beijos na mesa do professor – se isto não é mesmo à filme, então não sabemos o que pode ser.

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Beijo entre Tomás de Noronha e Elena, estudante interpretada por Bia Wong créditos: RTP

As condições que vemos neste primeiro episódio são aquelas que hoje, 2023, ainda são a realidade para a maioria dos portugueses. Um divórcio que não pode ser executado devido à falta de dinheiro prende Constança a Tomás e uma garagem que é impossível fazer com que o protagonista se desfaça dela também está presente.

É num Renault Clio que Tomás de Noronha chega à reunião com o Presidente da Fundação Américo Vespúcio, Savigliano, interpretado pelo ator Marcello Urgeghe. Aqui, vai descobrir o que querem realmente dele: ajuda para continuar o trabalho do historiador brasileiro.

E se a relação de Tomás e Constança já estava por um fio, é quando ele aceita a proposta da fundação para ir ao Brasil que esta se torna quase inexistente. No entanto, Tomás tem um ombro amigo, Victória, interpretada por Ana Sofia Martins.

Ana Sofia Martins interpreta o papel desta personagem carismática na perfeição, e neste primeiro episódio não temos nenhum ponto negativo a apontar à atriz. Também fazem parte do elenco José Mata, Miguel Nunes, Matamba Joaquim e João Bettencourt.

Mais para o fim, Luísa, nome da personagem de Betty, entra num táxi e parte na aventura de encontrar Tomás para falar sobre o seu marido. Nunca esquecendo que a viúva tem demência, os pormenores que Sérgio Graciano e Pedro Lopes quiseram expor na série estão excelentes: desde esquecimentos casuais a post-its em tudo o que é lado, é possível ver e sentir a maneira como Luísa vive os seus dias.

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Betty Faria no papel de Luísa, viúva do historiador brasileiro Martinho créditos: RTP

O primeiro episódio de “Codex632” acaba num verdadeiro cliffhanger, e é preciso esperar mais uma semana para ver o que se segue. As dicas estão lá todas, mas só os mais observadores vão perceber o que se está a passar.

O veredicto final é positivo: o primeiro episódio da primeira série coproduzida entre a RTP, a Globoplay e a SPI está de parabéns. O ambiente cinematográfico, a sonoplastia, as filmagens bem conduzidas e os espaços utilizados criam um envolvimento por parte do telespectador que o fará ansiar por mais. O suspense à volta do drama/romance e todas as histórias envolvidas conseguiram ser bem conduzidas.

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No entanto, este primeiro episódio de “Codex632” só peca na utilização de muitas narrativas ao mesmo tempo. Num espaço de 15 minutos são mostrados três acontecimentos em três espaços diferentes que podem confundir o espectador.

Para além da exibição na RTP1, a série de seis episódios irá também estrear no dia 19 de outubro na GloboPlay, com todos os episódios disponíveis na plataforma brasileira. Em Portugal, a estreia faz-se às 21 horas na RTP1 desta segunda-feira, 2 de outubro.