Não é com frequência que observamos os nossos pés, até porque como se costuma dizer, longe da vista, longe do coração. Podemos até encaixar o dedo grande (ou o hálux, para sermos mais precisos) e o segundo dedo numas sandálias com bom suporte para o arco do pé ou calçar uns sapatos ortopédicos, mas esses cuidados não significam que a saúde dos pés está assegurada.

Limpou-os bem depois do banho? Já pensou consultar um médico para mostrar o calo que tem na planta do pé? É que tudo isto, numa situação agravada, pode levar a doenças que nunca ninguém imaginou. Contudo, há quem as tenha presenciado e até tratado. É o caso de Bradley Shaeffer e Ebonie Vincent, médicos cirurgiões americanos da área de podologia, que estão prestes a mostrar como resolveram vários casos complicados na série "My Feet Are Killing Me" do canal TLC, que estreia esta sexta-feira, 28 fevereiro, às 20 horas.

A MAGG falou com o Brad Schaeffer, que tem já uma longa experiência na podologia, da qual fazem parte quatro anos na clínica da Faculdade de Medicina Podiátrica da Temple University School of Podiatric Medicine, em Filadélfia, Estados Unidos. Ainda assim, a experiência não foi suficiente para deixar de ficar surpreendido com alguns casos. "Há uma situação que foi a coisa mais louca que alguma vez vi pessoalmente. Foi muito chocante", revela Shaeffer à MAGG.

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Se para o médico cirurgião alguns casos são chocantes, já podemos prever que ao assistir aos episódios de "My Feet Are Killing Me" vamos desviar o olhar de vez em quando — principalmente aqueles que são mais sensíveis. Mas com melhores ou piores cenários, o objetivo do programa não é fazê-lo ficar nauseado.

"Muitas pessoas não sabem que estas doenças podem acontecer e que existem cirurgiões que tratam estas áreas abaixo dos joelhos. Por isso, para mim o programa é um grande feito porque muitas pessoas não conhecem os tratamentos que podem ser feitos. O programa consegue mostrar isso", diz Bradley Shaeffer.

Fomos então perceber que doenças existem e como é que um dos médicos que vai dar a cara no novo programa do TLC conseguiu devolver a vida àqueles que sofrem com problemas nos pés há anos.

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Brad Schaeffer examines David Thompson’s feet. créditos: divulgação

O que é que pode levar a uma patologia nos pés e tornozelos?
Muitas coisas. Fungos, bactérias que levam a uma infeção ou até amputação e também a genética. Podemos nascer com diferentes deformações que precisam de ser corrigidas. Como calos nos pés ou joanetes. São coisas comuns entre o público e que podem ser tratadas de uma forma apropriada. E essa é umas das razões pela qual eu estou aqui e mostro estes problemas no programa.

Qual foi problema mais grave que encontrou no programa?
Há uma situação que foi a coisa mais louca que alguma vez vi pessoalmente. Foi muito chocante. Um indivíduo que tinha os dedos dos pés pretos há três anos, um problema que agora estava muito avançado, e tinha calos por baixo dos pés. Realmente não sei como é que ele conseguia andar. Mas eu sei que lhe doía, era doloroso e a juntar a isso ele tinha perdido uma pessoa. E quando se tem um trauma ou uma situação complicada na vida, talvez a pessoa acabe por se descuidar. E no caso deste jovem, ele desleixou-se com o cuidado dos pés. Foi dos problemas mais sérios do programa.

Mas tudo é tratável através das cirurgias?
Sim. Contudo, infelizmente o sangue não estava a retornar aos dedos dos pés de uma rapariga jovem e isso trouxe algumas complicações. É o chamado “dedo branco”. Na última fase o dedo ficara negro, o que significa que estava completamente a morrer. Mas antes disso consegui trazer de volta a saúde do dedo, apesar de ter demorado mais tempo do que alguma vez tinha visto.

Como é que a saúde dos pés pode limitar uma pessoa?
Muitas coisas começam com os pés. Se os estão a magoar não consegue andar, fazer exercício físico e não consegue ter um estilo de vida saudável. Quando temos dores nos pés, temos dores em todo o corpo. Todos os passos são diferentes, porque tenta compensar a dor que sente. Então acho que é essencial que os observe, faça check-ups e volte, literalmente, colocar a vida no caminho certo.

Qual é a patologia mais comum?
Provavelmente fungos estranhos que as pessoas ganham nas unhas e depois levam a patologias improváveis que influenciam a forma como andamos, o estilo de vida. Deve ser tratado cirurgicamente. Representa 79% dos casos.

O tempo de recuperação é longo?
Dependentemente do tratamento, a recuperação pode ser longa. No caso dos fungos e coisas semelhantes, por vezes podem levar um ano porque as unhas crescem muito lentamente. Pode levar dez meses ou mais a voltar a crescer e os resultados não são imediatos. Mas geralmente são bastante rápidos. Muitas cirurgias levam cerca de quatro a seis semanas. Quando envolve os ossos, é mais ou menos o tempo de recuperação. Um osso demora quatro a seis semanas a recuperar.

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Em que casos tem de operar os ossos?
Muitos. Desde traumas de desportistas, aos tornozelos que por vezes têm de ser tratados. Às vezes as pessoas têm joanetes, pé plano e temos de nos certificar que elas têm o melhor apoio, porque isso é determinante. E todos esses casos vêm até nós.

Que cuidados devem então as pessoas ter com a saúde dos pés?

Use calçado de caminhada apropriado. Certifique-se de que limpa e seca os pés apropriadamente. Certifique-se também de que muda os seus sapatos sempre que eles já não estão em condições. As bactérias e fungos sobrevivem em ambientes sujos e frios, como os sapatos velhos, e isso depois tem influência nos pés. Deve ainda visitar o seu podologista sempre suspeita de que alguma coisa se passa lá em baixo. Basta ir e fazer um check-up, tal como vai ao dentista ou a outros médicos. Vá e garanta se está tudo bem com os seus pés.

O que representa para si participar neste programa?
Além de ser muito educativo para o público, tive a oportunidade de conhecer histórias de pessoas realmente inspiradoras apesar daquilo que passam, da forma como nasceram e da sua condição, enfrentando situações limitadoras e de dor.

Recorda-se de alguma em particular?
Um rapaz jovem que tratei chamado Jeffry. Ele tinha algo que se chamava síndrome de Proteus e apenas algumas pessoas no mundo têm essa doença. E ao conhecê-lo, ver o quão otimista é, o amor que a mãe tem por ele — a cuidar dos seus pés todos os dias — inspirou-me para ser uma pessoa melhor ao ver aquela família unida. Então para mim este programa é inspiracional, não apenas num nível pessoal.

O que é que as pessoas podem esperar da estreia de "My Feet Are Killing Me"?
Acho que realmente educa as pessoas sobre a generalidade dos pés. Pode ser nojento, mas também bonito. Quando se trata de problemas nos pés, poderá ser um fator "uau" para muitas pessoas porque tratámos pessoas com seis dedos, pessoas que não olharam para os pés durante três anos. Por isso, vamos ter muitos momentos chocantes e um grande fator "uau". Mas a beleza do programa é acompanhar estas jornadas individuais, o que realmente as levou até este ponto e até ao programa.