
Uma das coisas engraçadas de se assistir ao "Casados à Primeira Vista", que estreou a quinta temporada este domingo, 9 de março, na SIC, é que todos podemos ser psicólogos de bancada. "Eh pá, isto não vai resultar"; "Como é que os especialistas acharam que estes dois podiam dar-se bem?"; "Estes duram uma semana". É um programa que traz cá para fora o melhor terapeuta de casais que há entre nós, tal como quando vemos a bola sentimos que sabemos muito mais do assunto do que o treinador da nossa equipa. Faz parte e dá graça à coisa.
Agora a outra parte: tal como acontece muitas vezes no futebol, acabamos mesmo por ter razão. Aquele defesa-esquerdo que andávamos a assobiar desde o verão é mesmo uma nódoa, e, obviamente, aquela pulga elétrica que os especialistas juntaram com o pachá que só quer sopas e descanso deu em divórcio ao fim de duas semanas.
Mas como é que foi mesmo a estreia desta nova temporada? Há aqui sumo? Este ano é que é, como diziam os sportinguistas nos anos 80 e 90? Vamos ver.
Milene Sofia e Ruben

Então vamos lá. Ele chama-se Ruben, ela chama-se Milene. Tem tudo para correr bem. Ela de Odivelas, ele de Alcochete. Match. Entendemos os especialistas. Não era preciso aquele terapeuta que pede aos noivos para colocar bonequinhos numa mesa virados para Júpiter para termos aqui uma pista forte de que uma Milene e um Ruben nasceram um para o outro. Aplauso.
Mas calma. É que depois ouvimos os amigos da noiva a dizer que ela gosta é de homens altos e espadaúdos, ouvimos a própria noiva a dizer que a altura "interessa um bocadinho", ouvimos mais convidados a insinuar que ela gosta é de negões — "para ela, ele tem um problema de melanina", disse um dos amigos sobre o noivo — e depois põe-lhe à frente no altar o pequeno Saúl de Alcochete mais pálido que o Pedro Nuno Santos quando percebeu que tem de ir a eleições sabendo que se perder tem de fazer as malinhas.
Mas como será que a noiva encarou isto? "Ele parece simpático, divertido". Só faltou dizer "é bom rapaz". Foi a machadada final. É como aqueles presidentes de clubes que dizem que têm total confiança no treinador dois dias antes de lhe colocarem uns patins.
Neste primeiro episódio não deu para ver grande coisa, apenas que isto jamais irá resultar.
Mas afinal quem são estes noivos. Então, o Ruben, tem 32 anos, gere alojamentos locais, é guia turístico e organiza viagens para grupos. Tem dois cães que "vêm com o pacote", como disse, não adora gatos (que é o animal preferido da noiva), e tem uma avó desbocada chamada Cacilda, que foi do melhor que se viu ontem à noite. É daquelas que dizem tudo como os malucos, o que anima qualquer casório. Ele tem "menos de 1,70m", como disseram os convidados, mas acha que é "mais ou menos da mesma altura que a noiva" se ela tirar os saltos. Não, rapaz, ainda te faltam para aí mais cinco centímetros. Pareceu ser um moço simples, de riso fácil e muito voluntarioso, um típico homem bom.
Problema é que do outro lado está a Milene, que tem todo o ar de gostar de bad boys safadões. Tem 26 anos, trabalha "em backoffice", seja lá o que isso for, e depois é modelo e influencer (tem 15 mil seguidores no Instagram). Pináculo de vida: foi eleita Miss Vale do Tejo, uh! uh! (e até tem o título na bio do Insta). Não sabe cozinhar — "sou ótima a mandar vir comida" — mas gosta de lavar a louça. Levou logo com a avó Cacilda a dizer "oh minha menina, ele tem máquina de lavar", como quem diz, vê lá se arranjas outra qualidade que com essa não te safas. Tem assuntos por resolver da infância com o pai, está solteira há três anos porque ainda não encontrou um homem que a valorize. Potencial para isso o Ruben parece ter. Mas terá tudo o resto que está na expectativa da influencer? O tempo o dirá (mentira, não tem, assunto arrumado, damos-lhes um mês) — viram como conseguimos ser terapeutas de casal de bancada?
Marta Cabido Sá e João Ricardo

Ora aqui estão dois concorrentes de peso. Isto no sentido em que ambos lutam boxe. Espera-se é que seja só fora de casa. Mas vá, temos aqui algum potencial. Algum, porque ela é uma mulher do norte, enraizada no Grande Porto, onde tem os seus negócios, e ele é um rapaz da Póvoa de Santa Iria, a 280 km, que trabalha como mecânico aeronáutico, que não é propriamente aquele trabalho que se faça em qualquer lado. Como é que vão aguentar um casamento à distância? Pois, é o calcanhar de Aquiles destes dois. De resto, percebe-se o porquê de os especialistas acharem que aqui algum potencial.
A Marta Cabido Sá apresenta-se assim, com três nomes, o que releva um tique de betice que de alguma forma se cola a ela, a par do sotaque da Foz. Mulher para a frentex (expressão muito geração X, bem sei, mas não somos tão sofisticados como a Marta), empresária, cabeça arrumada, bonita, e muito consciente. Andou a vida inteira numa relação (durou 16 anos) e viu o amor acabar porque ambos, que constituíam "um casal perfeito" aos olhos dos outros, se perderam "no processo", como disse. "É preciso continuar a alimentar o amor e a paixão", e isso terá deixado de acontecer. Típico. Há dois anos solteira, andou pelas apps de dating, mas nada de jeito. Quer um homem "com iniciativa e ambição", que seja homem de família, com valores certos, mas que também goste do seu pezinho de dança (não no sentido literal).
O João Ricardo tem muito disso, pelo menos pelo que diz. E vem com as expectativas certas para um programa destes: "Não procuro a mulher perfeita". Certo. Tem duas filhas (alerta, desafio!, alerta, desafio!), é todo mexido, anda de mota, é todo das velocidades e do ginásio, mas só quer "uma mulher simples, carinhosa, empática e com espírito de aventura" (quem não, João, quem não?).
O João só gostava mesmo era de uma coisa: uns olhos verdes. Ela tem. Chegará? Hum. A ver.