Este foi um restaurante que chegou a servir 100 almoços e 100 jantares, todos os dias. Desses tempos áureos pouco resta e Paulo Carlos, o proprietário, enfrenta agora uma sala vazia, contas por pagar e ordenados em atraso.
Sem encontrar uma solução para o Solmar Canas, o restaurante com mais de 35 anos e que há dois está sob o seu comando, Paulo chama o chef Ljubomir Stanisic para que o ajude a voltar ao que era.
Ljubomir assume uma postura mais calma do que a habitual, o que não evita alguns confrontos com Paulo, conhecido pela pouca paciência com clientes e funcionários.
Numa luta de galos e feitios complicados, ainda não sabemos quem saiu vencedor. É que se, por um lado, Ljubomir conseguiu mudar a decoração e a carta, no dia da visita da MAGG percebemos que Paulo rapidamente esqueceu as indicações que o chef tinha dado.
Mas é do programa de domingo que falamos e aqui a análise é exaustiva. Melhores e piores momentos, quantos palavrões diz Ljubomir, momentos violentos, momentos fofinhos. Contamos-lhe tudo.
O pior do restaurante
O estado do fogão. Os grelhadores estão partidos e Paulo tem que usar um alicate para ligar o fogão. A gordura na zona onde são preparados os pratos é tal que Ljubomir Stanisic é atingido por umas gotas que caem do exaustor.
Depois da intervenção da equipa do chef, tudo fica limpo, mas avisa: "Esteve ali um homem durante sete horas a limpar".
O melhor do restaurante
O sabor da comida. É certo que há falhas na confeção e — mais grave do que tudo — na qualidade dos produtos. Mas a verdade é que os clientes não se queixaram do que lhes era servido e o próprio chef não usou palavrões para descrever os sabores, coisa que já aconteceu muitas vezes. Relembremos uma das frases do programa da semana anterior: “Se comida de cozinheiro sai assim, p*ta que pariu o cozinheiro”, disse o chef.
No dia da visita da MAGG, o prato do dia era feijoada de chocos e saímos de la mais do que satisfeito. Aliás, não só deu para almoçar, como para trazer para casa. E toda a gente sabe que feijoada sabe ainda melhor reaquecida.
De quem é que gostámos mais
Do Paulo. É certo que os clientes se queixam do seu mau feitio e que há quem o ouça a gritar com os funcionários, mas nota-se no proprietário uma vontade genuína de aprender e melhorar.
De quem é que gostámos menos
Da Ana, ainda que estejamos aqui com um sentimento dúbio. A Ana deu ao programa alguns dos poucos momentos cómicos, muito graças ao pouco jeito para a matemática do bacalhau à Brás, mas, por outro lado, é incapaz de defender o patrão.
Mal Ljubomir entra na cozinha, Ana começa a apontar para as máquinas que não funcionam, a comida que não está em condições e ainda goza quando ouve o chef a criticar Paulo. "Eu disse que hoje me ia fartar de rir", diz, entredentes.
Ljubomir aperce-se desta má relação e culpa os salários em atraso. Mas pede a Ana para ser mais moderada nas críticas. "Devias olhar paraele como um filho que precisa de ajuda."
O prato da polémica
O caril de camarão. Em comparação com o que tem acontecido nos últimos programas, o sabor da comida não foi o maior problema. O chef reconhece alguma qualidade nas técnicas de Paulo, mas não deixa de criticar a forma de confeção do caril de camarão. "Aposto que isto leva natas", diz, enquanto prova. Lá dentro vê-se Paulo a espremer um pacote de natas para a frigideira. "Isto sabe a caril em pó e natas, mais nada", garante. Ainda assim, o proprietário diz que é um dos pratos preferidos dos clientes. "Eh pá, tens que rever o teu tipo de clientes", alerta.
O momento mais WTF
A receita de bacalhau à Brás. Isto porque não há forma de Ana decorar quantos ovos leva cada prato. "Ana, parte-me nessa tigela seis gemas e dois ovos. Vamos fazer duas doses", pede Ljubomir. Ana começa a fazer contas de cabeça e quando o chef olha já vai nos dez ovos na taça.
Ljubomir Stanisic insiste. "Ana, três ovos e uma gema por cada bacalhau", diz, várias vezes seguidas. "Desculpe chef, eu baralho-me toda", admite Ana.
O chef escreve a receita na parede e faz, literalmente, um desenho. Numa folha em branco pôs a imagem de uma posta de bacalhau+um ovo+três gemas. "Assim já não me engano", garante Ana.
"Ana vamos fazer bacalhau para dez pessoas. Quantas gemas são precisas?", arrisca Ljubomir. Ana avança com uns 180. O chef leva as mãos à cabeça e responde: "Trinta mulher. 180 dava para fazer bacalhau para uma multidão".
Mas há outro momento WTF a envolver Ana e um ovo. Quando os clientes pedem para passar melhor o bitoque, a solução da cozinheira é meter o prato no microondas. Laryssa, a ajudante de cozinha, salva o prato. "Oh Ana, ao menos tira o ovo".
O momento mais violento
Curiosamente, nenhum. Tudo decorreu sem grandes confrontos e até o chef admite no final que devia ter sido mais exigente com Paulo.
O momento mais fofinho
Há um momento em que Paulo quebra e cede à pressão. Com a voz trémula, admite a Ljubomir: "Estou cansado de mim próprio. Não tenho nada, até durmo em casa do meu pai".
Ljubomir Stanisic sente empatia com a dor do proprietário e, no dia seguinte, fala com ele junto à praia, prometendo que o vai ajudar a melhorar a situação que passa, principalmente, por saldar as dívidas que vão já nos 90 mil euros
O que falha na higiene do restaurante
O armazenamento da comida. Paulo conseguiu a proeza de juntar nas arcas frigoríficas as seguintes quantidades: 30 quilos de carne, 30 quilos de tamboril, 44 quilos de miolo de camarão e sacos e mais sacos de jaquinzinhos. "O que tens aqui dava para comprares um carro", garante Ljubomir Stanisic.
O chef encontrou molhos a cheirar mal, caixas abertas sem etiqueta e podemos dizer que quase salvou a vida — ou pelo menos a digestão — de uma grávida que estava prestes a comer iscas estragadas. Ao ver o prato a ser servido, lança-se na mesa da cliente e avisa-a que o prato não está em condições.
A carne estava no frigorífico há cinco dias, quando, segundo o chef, não duram mais de 48 horas. "Não sabia", admite Paulo.
Quem disse mais palavrões?
Ljubomir Stanisic, claro. Contámos 26 palavrões.
As frases mais engraçadas
"Já descobri como podemos enriquecer?", diz Ljubomir Stanisic a fingir um telefonema com a mãe, "vamos vender jaquinzinhos". Isto depois de ver que Paulo guarda centenas de peixes no congelador.
"Isto é o quê? Para tirar as espinhas do peixe", diz Ljubomir com o alicate na mão que Paulo usa para abrir os bicos do fogão.
"44 quilos de camarão no congelador? Não há supermercado que tenha esta quantidade à venda", diz Ljubomir Stanisic.
"Bata no patrão, c*ralho, não bata no alho", diz Ljubomir Stanisic, depois de ver a forma agressiva como Ana corta o alho.
"De boca, só mamadas", diz Ljubomir a Paulo, quando o vê a fazer pedidos em voz alta, em vez de escrever.
"Quando cheguei aqui no primeiro dia apetecia-me partir-te a boca", diz Ljubomir a Paulo.