21 de fevereiro, de 1965. Malcolm X, o ativista e líder afro-americano, preparava-se para falar para mais de 400 pessoas em Nova Iorque, nos Estados Unidos, quando começou uma confusão enorme na plateia que obrigou o ativista e os seus guarda-costas a intervirem na tentativa de acalmar os ânimos.
Era a distração perfeita e foi precisamente nesse momento que um homem surgiu de caçadeira em riste e disparou uma vez sobre o peito de Malcolm X. Depois do primeiro disparo, surgiram mais de outros dois homens com armas semiautomáticas. O óbito de Malcolm X foi declarado às três da tarde e a autópsia revelou 21 perfurações no peito, ombro esquerdo, braços e pernas.
Quem tinha acabado de matar um dos rostos da defesa pelos direitos dos afro-americanos que, durante grande parte da sua vida, tentou consciencializar para a os crimes cometidos contra a população negra?
Os suspeitos eram vários e os condenados pertenciam à Nação do Islão, um movimento religioso fundado em 1930 direccionado aos muçulmanos afro-americanos nos Estados Unidos. Apesar disso, historiadores e especialistas argumento que a teologia do grupo assenta na ideia da superioridade dos negros face aos brancos e numa retórica anti-semita e anti-LGBT.
A relação entre Malcolm X e a Nação do Islão foi tudo menos pacífica e culminou com a sua saída por divergências nos ensinamentos da organização, mas também devido a um conflito maior com Elijah Muhammad, que temia que a popularidade do ativista pudesse eclipsar a sua presença mediática. Ao sair, Malcolm X foi considerado um traidor — crime punível com a morte e a ostracização social.
Talvez por isso os suspeitos encontrados pela polícia pudessem, à primeira vista, fazer todo o sentido. Só que os condenados garantiram sempre estar inocentes e, sabe-se agora, pode estar para breve a reabertura da investigação ao homicídio do líder afro-americano.
Segundo escreve a revista "The Daily Beast", há novas provas que confirmam que dois dos homens condenados nunca poderiam estar na palestra onde Malcolm X foi assassinado. Essas provas são reveladas na nova série documental chamada "Quem Matou Malcolm X?", que se estreou esta sexta-feira, 7 de fevereiro, na Netflix.
Ao longo dos seis episódios, a série aponta o dedo a quatros homens da Nação do Islão. Segundo o realizador, todos os envolvidos no caso sabiam do envolvimento do grupo, mas nunca ninguém quis aprofundar a investigação.
"A maioria das pessoas brancas disseram que aquilo se tratava de um crime de negros sobre negros e, talvez, de negros extremistas contra negros extremistas", revela David Garrow, historiador.
Mas a verdade é que, à data da morte de Malcolm X, o ativista foi considerado um traidor nos Estados Unidos, foi espiado pelo FBI por suspeitas de ligações a grupos comunistas e foi declarado "digno de morte" pelo atual líder da Nação do Islão.