Mão contra o peito e, depois, braço direito estendido, mão com os dedos unidos. O gesto usado por Elon Musk para saudar a multidão que, na noite desta segunda-feira, 20 de janeiro, se reuniu na Capitol One Arena para celebrar a tomada de posse de Donald Trump está a gerar indignação e polémica por ser semelhante à saudação usada nos regimes fascistas italiano e alemão do século XX.

Veja o vídeo completo do discurso de Musk

O homem mais rico do mundo, dono da Tesla, SpaceX e da rede social X, não reagiu diretamente às acusações de que terá feito um gesto associado aos regimes de Adolf Hitler e Mussolini, mas fez um 'gosto' numa publicação no X onde se pode ler: "podemos, por favor, reformar as pessoas que estão a chamar a isto uma cena nazi? Não funcionou durante as eleições, não funciona agora, é cansativo, aborrecido e está gasto. Vocês esgotaram o efeito, as pessoas já não se sentem chocadas".

O homem, que desde esta segunda-feira, 20, lidera o Departamento de Eficiência Governamental do executivo de Donald Trump, partilhou também um vídeo do seu próprio discurso, comentando "o futuro é entusiasmante!".

Independentemente da intencionalidade do gesto, o movimento do braço direito de Elon Musk é conotado com um gesto usado no Terceiro Reich para fazer uma saudação oficial ao líder, Adolf Hitler. O movimento, acompanhado por expressões como "Heil Hitler!" ("Salvé Hitler"), "Heil, mein Führer!" (Salvé, meu líder!"), ou "Sieg Heil!" ("Salvé a vitória!") está intrinsecamente associado ao regime nazi e o seu uso é proibido na Alemanha, Áustria e Eslováquia. Em Itália, o seu uso também é crime, mas apenas quando feito para exaltar o extinto Partido Republicano Fascista ou promover a ideologia associada ao regime de Mussolini.

Embora seja muitas vezes apelidada de saudação romana, não existem quaisquer registos de que, na Roma Antiga, usassem esse gesto como saudação, militar ou civil. A forma de cumprimento mais comum, quer em Roma quer na Grécia, seria o estender da mão direita ao antebraço da pessoa que se queria cumprimentar. O movimento estava também associado a um gesto de benevolência ou poder, mas nunca com o braço esticado e a mão com os dedos unidos.

De acordo com o livro "The Roman Salute: Cinema, History, Ideology", do académico norte-americano Martin M. Winkler, "não existe uma única obra de arte romana - escultura, numismática ou pintura - que exiba qualquer saudação semelhante à usada nos regimes fascistas e ideologias similares". O autor, conhecido por ter estudado o impacto deste gesto na política e cultura popular no século XX, explica também que não há na literatura romana nem em obras de historiadores antigos, qualquer menção ao uso deste gesto na Roma imperial.

"O Juramento dos Horácios", de Jacques-Louis David

Segundo Winkler, a origem da "saudação romana" data do século XIX, quando peças de teatro recriando histórias passadas na Roma Antiga começaram a tornar-se populares. A pintura "O Juramento dos Horácios", de Jacques-Louis David, apresentada ao público em 1785, reúne consenso como sendo uma das mais influentes na divulgação deste gesto. A obra, atualmente em exibição no museu do Louvre, em Paris, é uma das mais populares do neoclassicismo, movimento artístico inspirado na Grécia e Roma antigas.

O uso do movimento começou a ser usado ainda no século XIX, no Juramento da Bandeira, nos Estados Unidos, gesto esse inspirado pela peça de teatro "Ben-Hur", mais tarde adaptada ao cinema. O movimento chegaria depois a vários filmes italianos do início do século XX, como "Cabiria", que viria a ser a inspiração decisiva para o gesto adotado pelo Partido Nacional Fascista em Itália.

O partido nazi liderado por Adolf Hitler começa a usar o gesto para saudar o seu líder no início da segunda década do século XX. Com a chegada de Hitler ao poder, a saudação nazi passou a ser obrigatória. Primeiro apenas para funcionários públicos, militares e, progressivamente, para toda a população civil, incluindo crianças, havendo penas para quem se recusasse a fazer o gesto.

Após o final da II Guerra Mundial, o gesto foi ilegalizado em vários países. Na Alemanha, fazer a saudação nazi é um crime punível com até três anos de prisão.