Há quatro anos no ar, "Isto É Gozar com Quem Trabalha" já recebeu praticamente todas as principais figuras da política portuguesa, exceto André Ventura. Ricardo Araújo Pereira voltou a ser questionado sobre os motivos pelos quais faz questão de não convidar o líder do Chega.

"Isto é Gozar com Quem Trabalha" volta a ser diário antes das legislativas. André Ventura é incógnita
"Isto é Gozar com Quem Trabalha" volta a ser diário antes das legislativas. André Ventura é incógnita
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No mais recente episódio do podcast "Despolariza", o anfitrião Tomás Magalhães perguntou se "moralmente, não há um dever para com a população de representar todos os partidos", uma forma indireta de abordar a ausência do Chega de "Isto é Gozar com Quem Trabalha". “Nem que eu estivesse num canal público eu tinha esse dever. Vim para esta profissão para não ter deveres nenhuns. A irresponsabilidade é o que se valoriza”, responde Ricardo Araújo Pereira.

Quanto ao partido Chega, o humorista afirma que “não há nenhuma representatividade naquilo”. “Houve partidos com assento parlamentar que eu não convidei, só que ninguém chora por eles, ninguém vai fazer queixa à ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social]. O programa tem duas partes. Na primeira eu rio-me deles, na segunda eu rio-me com eles. Eu acho obsceno rir-me com o André Ventura, ele é de facto diferente. O PCP tem gravata na língua, o Ventura não”, salienta.

Regulador dos media já alertou SIC para "desequilíbrios"

Não é a primeira vez que a estrela da SIC é questionada sobre nunca ter convidado o líder do Chega para o seu programa. Em setembro de 2020, Ricardo Araújo Pereira participou no programa da Rádio Renascença “As três da manhã”, ainda o Partido Chega tinha apenas 1% de representatividade no parlamento português. Foi questionado sobre o tema, tendo respondido que “esse quadrante tem mais dificuldade em que alguém ria dele”.

À época, Ventura era candidato à presidência da República. O humorista afirmou ainda: “não vai porque eu não quero, até seria desagradável para ele porque cada vez que falamos dele, vai para o Twitter aos gritos dizer 'aleijaram-me', aquelas coisas de atirar-se para o chão agarrado a uma perna. Seria desagradável para ele convidá-lo porque parece uma flor muito delicada”.

Já em 2022, em entrevista à RTP1, voltou a falar sobre o motivo por que se recusa a convidar André Ventura. "Ele disse que eu não tinha coragem de o convidar para um debate, mas o programa não é um debate. É um programa de entretenimento e não de informação”. Assumiu, também, em declarações ao programa "E-Especial", da SIC, em janeiro de 2022. “André Ventura não vem porquê? Porque eu não quero. Na verdade, não é mais do que isto. Ele está sempre a resmungar que eu não o convido, como todos os grandes estadistas”.

Nesse mesmo ano, o regulador dos media analisou duas queixas contra o programa "Isto é Gozar com Quem Trabalha" devido ao facto de Ricardo Araújo Pereira não ter convidado André Ventura, recomendando que a SIC o compensasse noutro formato. O canal respondeu a esta recomendação, afirmando que “o humorista tem total liberdade para não querer dar espaço, num programa de humor da sua autoria, à defesa de ideias que, do seu ponto de vista atentem contra a dignidade humana, igualdade e direitos, liberdades e garantias”.

Também durante a campanha eleitoral para as eleições legislativas de 2023, a ERC recomendou à estação que compensasse o partido de André Ventura e os pequenos partidos sem assento parlamentar na “restante programação”, pelos “desequilíbrios gerados num determinado programa em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas”.

Ouvido pela Comissão Nacional de Eleições, o canal referiu que as participações recebidas pela comissão "têm um conteúdo ofensivo da imagem da SIC e dos seus profissionais, bem como um caráter persecutório", realçando que o programa em questão é de humor, "tratando-se do género de entretenimento e não do género informativo".