Depois da saída de Cristina Ferreira da SIC, Ricardo Costa, diretor de informação do grupo Impresa, critica a estratégia de Mário Ferreira, o mais recente acionista da Media Capital, considerando que este segue "uma lógica de tentativa de destruição da concorrência". E revela também que a saída da apresentadora era inevitável, muito porque o caminho que esta tem vindo a traçar é "incompatível com uma estrutura empresarial de uma televisão", revela em entrevista exclusiva ao jornal "Público".
Com o alvo virado para Cristina Ferreira, Ricardo Costa concede que embora a sua saída não seja uma boa notícia, "acontece num bom momento". "O que aconteceu mostra que, mais tarde ou mais cedo, acabaria por sair da SIC, provavelmente a 31 de julho. Saiu à pressa porque foi apanhada como alguém a comer doces da despensa", refere.
E aponta o caminho da apresentadora como incompatível com aquela que é "a estrutura empresarial de uma televisão". "A Cristina Ferreira é uma pessoa importantíssima na televisão em Portugal, que não haja discussão alguma sobre isso. Mas o caminho dela — e que provavelmente mais ninguém o consegue neste País — é o de ser uma marca própria."
Mas o diretor de informação da Impresa diz ainda que, embora a saída provoque problemas sérios à SIC, com "danos imediatos", no meio e longo prazo talvez seja melhor porque, caso contrário, "ficaria dependente de uma pessoa, o que não faz sentido numa empresa". Mas vai mais longe: "Não sei se os próximos acionistas da Media Capital não acabarão por descobrir que são acionistas de uma [empresa] unipessoal da Cristina Ferreira."
No entanto, além de Cristina Ferreira, a TVI assegurou também a contratação do pivot Pedro Mourinho. Embora tema que a TVI possa continuar a roubar figuras à sua equipa, considera que se trata de uma estratégia "pouco inteligente". Isto porque "o trabalho principal de uma direção de Informação, para além de manter uma linha editorial, é tentar puxar o mais possível pelos valores internos de uma redação". E recorda algumas das saídas do canal.
"Em 2016, tivemos muitas saídas — o António José Teixeira, a Ana Lourenço, e mais tarde o Anselmo Crespo — e resolvemos tudo internamente com pequenas exceções. Faz-me confusão essa tentação primária de ir buscar pessoas à concorrência direta. Não conheço o Mário Ferreira [o mais recente acionista da Media Capital], mas há aqui uma lógica de tentativa de destruição", diz.
E continua: "Vamos usar as palavras corretas. Não é enfraquecer. Há uma tentativa de destruição da concorrência que é a lógica do Catão, em Roma, de apagar Cartago do mapa. Se fosse a ele, pensava um pouco porque às vezes estas situações não são Cartago e são, afinal, o Inverno Russo de Napoleão: há grandes sucessos militares, e outras que são a destruição das próprias tropas."
O regresso de Cristina Ferreira à TVI marcou o dia de 17 de julho. A decisão apanhou toda a SIC de surpresa, mas sabe-se agora que as negociações entre a apresentadora e a TVI decorriam há um mês, num processo que terá tido o aval de toda a administração da Media Capital, avançou o "Diário de Notícias".
As negociações, que foram realizadas na "absoluta discrição", terão contado com Cristina Ferreira e os seus representantes, bem como Nuno Santos que muito recentemente foi apontado como o novo diretor-geral da estação.
As reuniões para formalizar o regresso à TVI, sabe-se agora, foram aumentando o interesse na mudança, até porque a apresentadora ambicionava duas coisas: "Por um lado, ter uma posição na administração e, por outro, ter mais responsabilidades efetivas na área do entretenimento", revela fonte próxima do processo ao mesmo jornal.
Esse último, aliás, era um dos pontos fundamentais que terá aliciado Cristina Ferreira a trocar a TVI pela SIC há dois anos. No entanto, essa terá sido uma experiência que "não terá corrido como esperado", revela fonte da TVI à mesma publicação.
A notícia apanhou toda a SIC de surpresa. Mas já ao longo do dia desta sexta-feira circulavam em Carnaxide rumores que davam conta de negociações entre a apresentadora e a TVI. Cristina Ferreira não deu hipótese ao canal liderado por Daniel Oliveira de apresentar uma contra-proposta e anunciou que iria sair da SIC, embora esteja ligada contratualmente ao canal até final de 2022.
Esta decisão deverá terminar em tribunal. O canal pode exigir o pagamento de, pelo menos, quatro milhões de euros pela saída "abrupta e surpreendente", revela o jornal "Expresso", que pertence ao mesmo grupo que a SIC.