Rui Maria Pêgo foi o convidado do programa "Conta-me", o formato de entrevistas da TVI conduzido por Manuel Luís Goucha, deste sábado, 31 de outubro. Numa conversa sempre descontraída e sem filtros, o radialista, apresentador e ator falou abertamente da sua família, da sua homossexualidade e da importância de usar a sua voz enquanto figura pública para que outras pessoas se revejam e não se sintam invisíveis.
Falando da sua vida meio caótica, "na medida em que todas as vidas têm uma dose de caos", o apresentador recordou um dos momentos mais importantes da sua vida quando, em 2016, na sequência do tiroteio em Orlando, nos EUA, numa discoteca frequentada pela comunidade LGBTQ+, assumiu publicamente a sua homossexualidade através de um texto nas redes sociais.
"Esse [o momento em que, anos antes, se assume aos pais] foi lapidar. Mas quando escrevo aquele texto [em 2016, após o ataque em Orlando], fi-lo porque sabia da importância daquelas palavras. Senti que tinha de fazer aquilo, porque o simples gesto torna reforça a tónica da visibilidade. Porque há quem se sinta invisível por ser como é. Estarmos aqui os dois, a falar disto em canal aberto, é importante. Ainda hoje há casais homossexuais que querem arrendar casa e não conseguem por serem como são. É inaceitável que as pessoas sejam perseguidas por serem quem são", começa por explicar.
E continua: "Quanto mais nos normalizarmos, menos isto é tema. A ideia, por isso, de que as paradas gay não são importantes, é mentira. Não há uma maneira certa de ser."
E ainda que Rui Maria Pêgo sempre se tenha sentido livre em casa, na escola o contexto era outro. "Venho de um contexto católico, muito conservador, de um contexto lisboeta muito opressor em si mesmo e sofri muito. Ainda hoje há quem ache um crime dizer-se encarnado em vez de vermelho, como há essas linhas de diferenciação para com o outro" refere.
Sobre o momento em que se assumiu aos pais, conta, a reação de ambos foi de medo — embora já soubessem. "Medo sobre o que me poderia acontecer", explica. Medo dos outros. "Nunca tiveram uma atitude conservadora, embora eu saiba que eles são de outra geração e, portanto, precisaram de um período de adaptação. Lembro-me que a certa altura, num jantar, fiz um piada [sobre a sua sexualidade, explicou a Manuel Luís Goucha] e eles não gostaram. Nessa altura, disse-lhes: 'Ou vocês se riem comigo, ou vou passar a rir sozinho.'"
O tema do preconceito e da homossexualidade serviu de mote para que a ascensão da intolerância e do fascismo fosse abordada na conversa. Isto numa altura em que Manuel Luís Goucha, enquanto apresentador de "Você Na TV!", foi alvo de várias críticas por dar palco a discurso de ódio no seu programa — tendo até entrevistado Mário Machado, líder da Nova Ordem Social e várias vezes condenados por crimes de ódio racial.
"Não achas que essas ideias devem ser combatidas no espaço público?", perguntou Manuel Luís Goucha, procurando alguma validação por parte de Rui Maria Pêgo que, face à pergunta, foi assertivo.
"Deve ser combatido no espaço público, mas nos sítios certos. Num contexto informativo, faz sentido [em resposta à pergunta: 'Alguma vez te sentarias à conversa com André Ventura?']. Em daytime, não. Jamais entrevistaria o Mário Machado e assusta-me muito a ascensão do fascismo e do populismo", respondeu.