Atenção: este texto contém revelações sobre o primeiro episódio de "Santiago", a série que chega à plataforma de streaming OPTO esta sexta-feira, 21 de outubro.
Género raro na ficção portuguesa, a nova série da plataforma de streaming OPTO junta mistério, thriller e algum terror. E o medo está presente ao longo do primeiro episódio, quer seja pela fotografia, quer pela banda sonora, que culmina com uma fantasmagórica versão de "Creep", dos Radiohead, cantada por um grupo coral de crianças, que nos faz adivinhar que não vem aí coisa boa.
Logo nos primeiros minutos ficamos logo a perceber que o casamento de Anna (Lúcia Moniz) e Pedro (Ivo Canelas) já viu melhores dias. Anna vê Pedro a beijar outro homem. Finge que não sabe de nada e, depois, o casal tem daquelas conversas em que a mentira é de cortar à faca. #tenso
Apesar disso, Anna, uma fervorosa católica, consegue mobilizar as filhas, já adultas, e o marido para fazer o Caminho de Santiago. De Londres vem Carmen (Bárbara Branco), que se junta aos pais e à irmã mais nova, Lourdes (Leonor Vasconcelos). A família parte alegremente (mais ou menos, vá) para o Porto, onde verá o seu caminho cruzar-se com peregrinos de várias partes do Mundo. Todos com o mesmo objetivo, chegar a Santiago de Compostela, mas cada um com propósitos muito diferentes. E nem todos nobres.
Lúcia Moniz e Ivo Canelas estão absolutamente brilhantes no papel de um casal profundamente infeliz. Há muitos silêncios, há cenas muito constrangedoras (sobretudo para Anna, desesperada por salvar a relação, apesar de saber a verdade) e há 'a' cena do primeiro episódio que nos deixou — literalmente — de queixo caído. Não revelando tudo, mas quase tudo, envolve Ivo Canelas, pouca roupa e um plano de costas.
Pode ver uns instantes da cena no trailer
"Santiago", escrita por Inês Braga, Pedro Goulão e Pedro Varela, e realizada por Pedro Varela, traz-nos à memória sensações de produções como "Sei o que fizeste no Verão Passado" ou "Parasitas". Assim que conhecemos os companheiros de caminho da família de Anna, que vêm de destinos tão díspares como a Coreia, a Alemanha ou o Brasil, ficamos com a familiar sensação de que todos são, de alguma forma, suspeitos. Até Anna.
Percebemos também desde o início (e porque a SIC já o divulgou) que há um serial killer à espera de peregrinos incautos e também percebemos logo quem é a primeira vítima. Devíamos ter ficado tristes quando, no final do primeiro episódio, Rosário, a peregrina vinda de São Paulo, Brasil, cai no chão... mas não ficámos. Isto porque Rosário consegue ser aquela típica pessoa chata que, numa viagem, mete conversa e, aquilo que podia ser um diálogo fugaz, acaba por ser um monólogo de 3 horas (com direito a confissões de infância).
Os espectadores mais céticos, sobretudo aqueles que regozijam com a prática de apontar defeitos às produções portuguesas, vão ter grandes dificuldades com "Santiago". Desde pormenores como a chegada da família de Anna e Pedro à estação de comboios de São Bento num urbano (depois de terem partido num Intercidades de Lisboa que, como sabem os utilizadores dos serviços da CP, só vai até à estação da Campanhã), até ao facto de as mochilas dos peregrinos parecerem mesmo estar carregadas, a série da OPTO tem um nível de detalhe de produção e perfecionismo pouco comuns na ficção portuguesa.
"Santiago" é uma produção da 313features e da OPTO SIC em associação com a Blanche Filmes. César Mourão é um dos criadores da série.
