Elvis está a dar voltas no túmulo — e não me venham com teorias psicadélicas, o Elvis está mesmo morto. É que nem nos tempos dos Onda Choc se via uma adaptação de música tão mirabolante como pegar num "A Little Less Conversation, a Little More Action" e transformá-lo num "Ensina-me a ser poeta, quero descontrair". E sabem a parte do "Satisfy me", que todos cantamos em falsete? "Segue o teu instinto". É esta a frase que devem pôr a substituir se a ideia é voltar a uma novela transformada em musical.

Estamos em 2009 e os "Morangos com Açúcar" acabam de estrear a sua sétima temporada. É verdade, já passaram onze anos desde que vimos umas sobrancelhas grossas a aparecer em televisão sem medo, isto numa altura de linhas finas. Primeiro Malu Mader, depois Lourenço Ortigão. A Sara Matos já era gira, rais a partam, mas nem ela sabia que ia ter que rebobinar a cassete uns anos para sacar o seu protagonista dos Morangos.

Tenho para mim que a novela foi criada em formato musical para animar os ânimos de um ano difícil. Em 2009, morreu Michael Jackson e Raúl Solnado, o FC Porto foi tetracampeão e estávamos no auge da gripe A. O que agora até dá vontade de rir.

Os jovens desta novela montaram uma espécie de Broadway ali nos estúdios de Vialonga e tudo era motivo para mais uma canção. Onze anos depois, sentámo-nos no sofá e fizemos uma espécie de regresso a um passado que, de tão surreal, nem parece tão próximo.

Os gadgets, ou a falta de deles

Os bolseiros Margarida (Sara Matos) e João Pedro (Rui Andrade) estão em Londres a preparar o próximo ano de estudo e, em Lisboa, as aulas terminam e começam os dias de praia.

Lourenço Ortigão, ou melhor, Rui, não aguenta as saudades e, com medo de perder Margarida, apanha um avião (17 anos e poder de compra, uau — pronto, vendeu uma guitarra, vá) e vai visitá-la. Numa encruzilhada de ciúmes, manda-lhe mensagens num ecrã sem emojis nem sequer fotografias. Escrevia-se "daki" e "Bjs" porque ninguém queria pagar por caracteres que transformassem uma mensagem em duas. Dez cêntimos era dinheiro, ok?

E se um telemóvel não dava sequer para mandar um smile que não fosse feito por dois pontinhos e um parênteses, muito menos para tirar uma fotografia. Os de Londres, é vê-los cada um com uma máquina fotográfica na mão sem hipótese de se verem nas selfies. Muito duplo queixo em imagem sai do início dos anos 2000.

Ah, e repararam na T-shirt do João Pedro? Dizia "LOL", quando as pessoas ainda diziam mesmo aquele "LOL" irritante para substituir o riso. E para elucidar os pais que assistiam à série e lutavam para perceber porque é que os filhos passaram a rir-se com siglas, debaixo de LOL, o significado: Lots of Laughs. E mal sabíamos nós que onze anos depois íamos voltar à TeleEscola. Visionários, é o que vos digo.

E o estilo de 2009?

Calças tingidas, óculos Arnette, tops com peças metalizadas porque #rock, vestidos tie dye porque #shanti e tops de desporto para sair à noite porque #nãofaçoideia. É certo que estou de quarentena há um mês, mas a última vez que fui ao Cais do Sodré, a única roupa interior que vi, além da minha quando consegui fintar a multidão até chegar à casa de banho do Viking, foi a da Mónica durante o strip.

E os cabelos, amigos? Quando a crista do Zé Milho não é o que nos deixa a revirar os olhos, é porque a coisa é grave. 

Passávamos pela fase de cabeleireiro fixe que achava que modernidade era sinónimo de franja torta. Não passei por isso, mas fotografias com os meus amigos datadas de 2009, quase que têm que ser analisadas numa rotação de alguns graus, caso queiram pôr a linha do cabelo consonante com a do horizonte.

Na novela, são poucos os escaparam ao tal corte do "parece que não quero saber, mas passei duas horas a fazer isto". Namorada de Zé Milho, o professor de canto, a Papoila (a sério?) e Mariana que, coitada, incorporou a Avril Lavigne em madeixas e cabedal.

Palhinhas de plástico, ainda se lembram?

Usei este subtítulo a puxar à ecologia, mas a ideia é analisar todo um comportamento de início de milénio.

Portanto, em 2009 "granel" era só barulho e levar tupperwares para encher nos restaurantes era coisa de pobrezinho. E, por isso, não admira que Inês Folque, que faz de nova rica, apareça a beber o seu sumo de laranja não com uma, mas com duas palhinhas de plástico. Provavelmente, aquelas que apanhei da areia este verão na praia de Carcavelos.

E já que é para ser picuinhas, o pequeno-almoço da família de Lourenço Ortigão é Nesquik e pão com fiambre. Nesquik-e-pão-com-fiambre. De repente pensei que me tinha enganado e estava a ver o "Conta-me como Foi". Mas não faz mal, o ator ainda foi a tempo de construir músculos à base de abacate e papas de aveia. Está tudo bem.

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