Este sábado, 3 de abril, Sónia Araújo foi a convidada de Manuel Luís Goucha no programa "Conta-me". Duas décadas depois de o apresentador da TVI ter deixado a RTP1 e o programa "Praça da Alegria", Sónia e Manuel esclarecem que, ao contrário do que muito se falou, nunca estiveram chateados.
"Não fiquei nada zangada porque acredito, para já, que tenha sido uma decisão muito solitária para ti", começou por referir a apresentadora. "Nós trabalhávamos já há sete anos juntos e fiquei surpreendida de não me teres dito nada, isso eu fiquei. Acho que deve ter sido uma decisão muito difícil para ti porque te sentias muito bem onde estavas, eras muito bem tratado, estávamos em casa. Eu sei também o que é ser convidada para outra estação e ter de tomar essa decisão. Por muita gente que consultemos, a última decisão é nossa. Acredito que não o tenhas feito de animo leve. Fizeste o que achavas que era melhor para ti e é isso que tem de ser feito. Surpreendeu-me só o facto de saber por outras pessoas e não por ti", esclareceu.
Sónia Araújo e Manuel Luís partilharam durante sete anos as manhã do canal público, mas Sónia apenas apresentava pequenos momentos e reportagens exteriores, tal como a própria mencionou em entrevista. Foi com a saída de Manuel que Sónia teve de assumir o comando do programa — dia que Manuel Luís aponta como o começo de uma grande carreira de apresentadora. "Naquele momento nasceu a apresentadora. Não era mais a colaboradora, a assistente, o que quer que fosse", diz Manuel.
Quando recebeu a notícia de que tinha de assumir, sozinha, o programa "Praça da Alegria" na manhã seguinte, assume que não hesitou, mas que foi uma decisão que fez com que nem dormisse nessa noite. "Tive de ser eu a dar a notícia aos telespectadores e não foi fácil. Fiz esse programa quase sem rede. Nesse dia, quando acabou o programa, tinha os meus colegas todos atrás das câmaras a darem-me força. Foi muito comovente", recordou.
2o anos depois deste dia, Sónia refere que não sentiu o tempo passar. "A 'Praça da Alegria' continua a ser um programa excelente. O que tem sido ótimo é que a RTP também me tem dado a liberdade de abraçar outros projetos. Gosto muito de fazer a 'Praça da Alegria', mas gosto de ter a liberdade de ir abraçando, por exemplo, Danças do Mundo, a Verdade do Vinho, o Cosido à mão."
Apresentadora revela segredo para continuar a parecer uma jovem
Apesar de ter já 50 anos, Sónia assume que não sente o peso da idade e revela ter ainda muitos projetos. "Acho que quando deixarmos de ter objetivos, arrumamos as botas e vamos para casa e eu não quero isso", diz, acrescentando que gostava ainda de pegar em novos projetos ou voltar a alguns que já tinha feito.
"Há muito a ideia de que, a partir dos 50, há um declínio na vida da mulher. Não tem mais o direito de ser atraente, mãe, esposa, dedicada, e de conseguir fazer tudo o que fazem as outras mulheres. Eu não sinto nada isso, eu não sinto o peso da idade e espero não sentir tão cedo. Mas também porque me mantenho ativa. Acho que é tão importante continuar a praticar exercício físico e ter cuidado com a alimentação. Eu continuo a ter os mesmos cuidados que tinha aos 20/30 anos", assume.
Questionada por Manuel Luís se há alguma coisa proibida, Sónia afirma que não. "Eu como de tudo. Tenho a sorte de gostar muito de coisas saudáveis: de adorar saladas, legumes e frutas. Não sou viciada em doces. O que tento é de segunda a sexta ter alguma regra e ao fim de semana cometer asneiras. É isso que eu faço", revela referindo que o que a assusta na velhice é perder faculdades
Sónia Araújo é mãe de três filhos, Carolina, de 17 anos, e dos gémeos, Tomás e Francisco, de 11 anos, fruto da relação de mais de 20 anos com Vitor Martins. Quanto à relação duradoura, Sónia explica que o segredo é saberem respeitar o espaço um do outro. "Ele quando me conheceu eu já tinha este trabalho público e, a partir dai, nada mudou."
Em relação aos filhos, a exigência maior que sente é gostar de estar sempre presente e acompanhar os filhos em tudo, algo que nem sempre é possível devido à profissão. Mas Sónia refere ainda a incerteza quanto ao futuro é algo que a assusta. "Não é fácil ser adolescente no mundo em que estamos. Muito menos em pandemia. [Preocupa] a incerteza do que eles querem para o futuro. Os pais tentarem orientar o caminho, mas deixando-os com alguma margem para errarem. É assim que eu vejo. Os meus pais sempre me deram essa liberdade de poder fazer as minhas escolhas, mas sabendo que se errasse era responsável pelos meus atos."
"Custar-me-ia fazer algo que explorasse a desgraça humana"
Sónia conta com uma longa carreira no mundo da televisão e assume que o que mais a encanta é conhecer novas histórias todos os dias e poder ajudar pessoas ao divulgar essas histórias. Contudo, durante a entrevista, Manuel perguntou que tipo de projeto Sónia recusaria e a apresentadora não hesitou na em dar a resposta.
"Custar-me-ia muito fazer algo que explorasse a desgraça humana em troco de audiências. Há limite. Não quer dizer que não o expomos ou damos a conhecer, mas estar 20 ou 30 minutos a falar disso e a fazer sofrer alguém para alguém que está do outro lado da câmara também ganhar algo com isso, isso custar-me-ia muito".
"É mais tranquilo quando se trabalha numa estação para a qual a audiência não é assim tão importante?", pergunta Manuel Luís. "Se calhar é mais tranquilo não ter no final de cada programa alguém a pressionar-nos porque aquilo não correu como estava prevista ou, no dia seguinte, porque não teve a audiência prevista e, nesse aspeto, nós, realmente temos mais tranquilidade", assume.
A conversa entre os dois apresentadores tocou em vários pontos e, mesmo antes de se despedirem, Manuel voltou a frisar: "Nós nunca nos chateámos". "O público não sabe isto. Nós não estamos fisicamente um com o outro, mas vamos mantendo contacto por mensagem e quando cada um de nós tem um projeto novo gostamos de o felicitar e eu fico feliz quando tu estás feliz", remata Sónia.