Vamos diretos ao ponto: nunca fui fã de "A Máscara", o programa da SIC apresentado por João Manzarra. Por isso, logo que as comparações começaram a ser feitas entre este formato e a grande aposta da estação de Paço de Arcos para o verão, "Cantor ou Impostor", que estreou-se este domingo, 17 de julho, torci o nariz. Independentemente disso, e porque aqui na MAGG somos pessoas de estar atentas às novidades, estava pronta para escrutinar a estreia musical.
E embora o programa me tenha conseguido surpreender, o arranque não podia ter sido mais confuso que as obras da Praça de Espanha (que parece que duraram duas pandemias e meia). Ok, temos uma apresentadora — Cláudia Vieira —, que embora linda de morrer e com uma forma física que encandeia as inimigas, parece que ia vestida para o combate de boxe mais fashion de sempre. Sim, porque as calças podiam ser feias, mas eram Celine (#rychas).
Mas espera, é Bárbara Guimarães que vemos ali no canto? É, mas não vem apresentar, mas sim jogar. Como? Ainda não sabemos. Ok, agora vemos João Manzarra, Rui Unas, Débora Monteiro e Rita Guerra. Só podem ser o painel de jurados, certo? Não, são influenciadores, seja lá o que isso significa neste contexto.
Então e os concorrentes? Bom, esses podem ou não ser cantores, podem ou não saber fazer playback, e podem ou não realmente ter a profissão com que são apresentados por Cláudia Vieira. E no meio disto tudo, a minha cabeça está mais baralhada que sei lá.
Sabem aqueles jogos de tabuleiro complicadíssimos de perceber ao início, mas que jogando lá vamos apanhando as manhas? É o que se passa com "Cantor ou Impostor": parece um imbróglio ao início, mas depois até vamos conseguindo acompanhar.
Resumindo, temos sete cantores mistério que podem ou não ser cantores profissionais. Temos um convidado semanal — sempre um rosto SIC, aqui com Bárbara Guimarães a inaugurar o painel — que deve ir eliminando concorrentes em todas as fases (que passam por assistir a vídeos, playbacks, interrogatórios), e ganha 1.000€ de cada vez que conseguir mandar embora um impostor. Pode contar com os palpites dos influenciadores e, no final, o cantor mistério que sobrar chega a um dueto com o influenciador convidado — no caso da estreia, Rita Guerra.
Se for cantor, o valor acumulado dobra e o convidado pode entregar o prémio a uma instituição à sua escolha. Se um impostor tiver chegado a esta fase, perde tudo.
Estamos a par? Ótimo. Depois de entendida a dinâmica do programa, dediquei-me à parte mais divertida: encontrar o melhor e o pior desta estreia. Vamos a isso?
O melhor
Bárbara, volta, estás perdoada
Quem por já cá andava nos anos 90 ainda se lembra da grande "rivalidade" entre Catarina Furtado e Bárbara Guimarães. Bárbara substituiu Catarina na condução do mítico "Chuva de Estrelas" e parece que, desde aí, Portugal era demasiado pequeno para duas apresentadoras mais ou menos da mesma idade, mais ou menos focadas no mesmo estilo. E se sempre fui "team Catarina" e também olhei de lado para a quantidade de vezes que Bárbara Guimarães trocava de vestidos nas galas dos Globos de Ouro, a verdade é que a apresentadora nasceu para estar na televisão.
É o à-vontade em palco, a interação com todos, de concorrentes a jurados (perdão, influenciadores), a voz, o sorriso. Deu gosto ver Bárbara de volta a estas lides — mesmo que apenas por uma emissão — e fiquei ali com vontade de meter um abaixo assinado ao cuidado de Daniel Oliveira para a fazer voltar a brilhar num qualquer formato.
Já que estamos numa de revivalismo, posso mandar o barro à parede para o regresso do "Chuva de Estrelas"? Ah, e já agora, vão buscar a Catarina e façam mais um "Caça ao Tesouro". Estou-te a dar ouro, Daniel, ouro.
O empregado de mesa
Carlos Carriço pode ser um impostor, mas arrisco a dizer que é o rei dos palybacks. Alguém reparou naquela mestria a "cantar" "Jardins Proibidos"? Ri alto com Carlos a dar tudo com o tema "És Tão Sensual", de Toy, e percebi que metade de uma atuação é mesmo performance — que de voz, Carlos Carriço tem pouco.
Ignoramos a vergonha alheia daquela dança demasiado prolongada com Bárbara Guimarães — com Cláudia Vieira a fugir do embaraço, chama-lhe esperta — , e só pela simpatia de Carlos, quero mesmo conhecer o restaurante alentejano onde trabalha e canta a ementa. É n'A Ribeira, em Montemor-o-Novo, e já estou a sonhar com as migas.
As vozes
Calmaaaaaaa! O "The Voice Portugal" continua no quentinho do meu coração — se bem que não sei o que pensar do spin-off que aí vem, "The Voice: Gerações", que eu sou mulher de versões originais —, mas confesso que fiquei surpresa com as vozes dos cantores. Principalmente quando o guarda-redes, depois de toda uma campanha de difamação liderada por João Manzarra, acaba eliminado e parte tudo com "Can You Feel the Love Tonight", de Elton John.
O programa também acabou em bom, com a jornalista a acompanhar Rita Guerra no dueto final. Podiam era ter escolhido outra canção, que a apoteose do momento estava mesmo a pedir um "Cavaleiro Andante", esse clássico incontornável dos bares de karaoke.
Agora, todos!
"Chega assim
Cavaleiro andante, louco e triunfante
Como um salteador
P'ra no fim
Nos deixar a contas
Com as palavras tontas
Que dissemos por amor"
O pior
O vestido de Débora Monteiro
Não fui eu que lhe chamei de couve, foi mesmo Bárbara Guimarães, mas há que dizer: o vestido de Débora era terrível. A cor, o corte, tudo. E só é mais grave quando a atriz é das mulheres com mais pinta da televisão, com personalidade a condizer, e arrasava com qualquer coisa mais arrojada. Porém, há que dizer que conseguiu dar a volta e bem à piada da couve, e só ganha pontos por isso.
Agora tudo tem de ser do digital
Vou tentar reduzir a minha faceta de velho do Restelo ao máximo, mas irrita-me que, hoje em dia, tudo tenha de ser jovem, e cool, e a par de novas tendências. É a única razão que me ocorre para chamar ao grupo de influenciadores isso mesmo. E antes que venham com "ahh, mas eles influenciam os concorrentes", poupem-me: a palavra é ali usada para apelar ao público do digital, que caso contrário existiam resmas de termos para os definir. Não tenho saco.
As caras dos cantores
Porque é que os sete cantores mistério eram obrigados a fazer a cara mais mal-humorada de sempre até atuarem? Sim, eu percebo que é um requisito da produção, mas caramba, também não é necessário tanto. É que fui só eu que achei que a vendedora de fruta podia sacar de um machado de dentro da caixa e recriar ali o "Shinning"? Me-do.
"Cantor ou Impostor" é exibido aos domingos, na SIC, depois do "Jornal da Noite".