Vivemos com algum receio de que as tradições se percam, até porque algumas já vemos desaparecer, como é o caso das trabalhosas mantas e tapeçarias que eram atividade principal em Belver e hoje em dia estão somente em exposição no museu no centro do município. Por outro lado, há outros saberes e sabores que continuam (e até a ganhar mais força), como é o caso do pão — que ganhou outra importância no primeiro confinamento da pandemia.

Mais do que recordar alguns dos saberes ancestrais, o essencial é tentar recuperá-los e passar o bichinho para os mais novos de modo a que continuem o legado. 

TASTE@QMdO. O vinho é português, a comida do Japão, e a degustação faz-se à lareira
TASTE@QMdO. O vinho é português, a comida do Japão, e a degustação faz-se à lareira
Ver artigo

Se a arte de trabalhar o vime e transformá-lo em cestos ou mesas está em risco de perder-se na ilha de Santa Maria, nos Açores, em Aveiro é pouco provável que se perca mão de obra para trabalhar o doce mais tradicional da cidade, os ovos moles, até porque enquanto houver gulosos, haverá pasteleiros a pôr as mãos na massa.

O que não falta são workshops e programas para aprender os ofícios de antigamente e nós selecionámos alguns.

Fazer queijos tradicionais da Beira Baixa

Queijaria Cabeço do Carvão
Queijaria Cabeço do Carvão créditos: facebook

Caros amantes de queijos, fazer este workshop é um desafio à resistência a tirar um pedaço de queijo antes de estar pronto. Em miúdos ficávamos impacientes com os bolos que não arrefeciam e em adultos a inquietude passou para gostos mais requintados que normalmente envolvem queijo, pão e vinho.

Neste workshop vai ter de esperar até esse momento, porque antes é altura de ficar a saber como são feitos os queijos tradicionais da Beira Baixa, mais precisamente os da Queijaria Cabeço do Carvão, cujo workshop consiste na preparação de um queijo de ovelha amanteigado, outro queijo de pasta dura e de derivados do leite como o requeijão.

O workshop custa 25€ para uma criança e um adulto e 12€ por participante adicional. Pode reservar por telefone ou e-mail (967 167 173/ casaagricolacabecocarvao@gmail.com).

Aprender a fazer sabão artesanal

Sabão artesanal 
Sabão artesanal  créditos: experimentaveiro

O sabão que mais conhecemos é o líquido, aquele que sai de um dispensador junto à torneira da casa de banho e a que damos pouca atenção, mas em tempos esse lugar foi ocupado por uma saboneteira, com um sabão feito pelas gentes da terra e mais tarde por fábricas que os faziam chegar à mercearia. E como é que cada um era feito? É precisamente o que vai ficar a saber no workshop de sabão artesanal da Experiment Aveiro.

Durante 40 minutos vai aprender as diferenças entre a produção artesanal e a produção industrial do sabão, conhecer a evolução da produção até aos dias de hoje e pôr os conhecimentos em prática. Para casa leva o mini sabão que fez e a aptidão para fazer mais e começar a reduzir a compra de embalagens de supermercado.

Custa 2€ por pessoa e pode reservar através dos contactos da Experiment Aveiro (reservas@experimentaveiro.com ou 910 516 933).

Workshop de ovos moles de Aveiro

Workshop de Ovos Moles
Workshop de Ovos Moles créditos: oficinadodoce

Já que andamos por Aveiro, seguimos com ovos moles do workshop organizado pela empresa aveirense Oficina do Doce. A ideia é conhecer a história e método de produção do qual também fará parte quando lhe pedirem para encher as formas e, depois de cozidos, o corte final antes de levar à boca um dos ícones da doçaria conventual portuguesa.

Existem cinco tipos de workshops, um indicado para adultos (3,90€), outro para crianças (2,90€), um para fazer em família (10,90€) e ainda outros dois mais completos: o que inclui o workshop ovos moles de Aveiro e visita às salinas de Aveiro (8,90€) e outro que além de workshop integra uma viagem no tradicional Moliceiro (59€).

Pode reservar online ou através dos contactos (loja@oficinadodoce.com/ 234 098 840).

Trabalhar barro num workshop da Bolota

Bolota
Bolota créditos: instagram

Não precisamos de lhe dar muitas razões para fazer um workshop cerâmica. Basta entrar no Instagram do atelier de cerâmica contemporânea Bolota, nas Caldas da Rainha, para querer tudo o que ali está. Antes de adquirir uma das peça de autor, é importante saber o valor que têm e é para isso que serve o workshop no qual aprende a trabalhar barro e fica a perceber quanta dedicação é precisa para chegar a formas como as que são criadas pela ceramista Isabel Claro.

Para provar a famosa Torta da Arrelia, oferecida no final da sessão, tem mesmo de fazer o workshop, que deve marcar junto do atelier Bolota através do telefone (965 292 391).

Cerdeira – Home for Creativity

Cerdeira – Home for Creativity
Cerdeira – Home for Creativity créditos: Cerdeira – Home for Creativity

Há uma aldeia do Xisto que não deixa a região cair no esquecimento nem as atividades que a caracterizam. É Cerdeira, que serve de berço ao projeto Cerdeira – Home for Creativity, com seis experiências criativas inspiradas em técnicas tradicionais.

São elas workshop de figurado em cerâmica (figuras em barro tradicionais que retratam a vida do quotidiano), a iniciação à roda de oleiro no qual se produzem pequenas taças, a sessão para aprender a fazer chanfana cozinhada num forno tradicional a lenha, o workshop de compota caseira com fruta da época, de brinquedos em madeira e de casas de xisto em miniatura. Cada experiência dura 2h30 e custa 35€ por pessoa (crianças até aos 11 anos pagam 25€ se acompanhadas por um adulto pagante).

Com data marcada, a 29 e 30 de janeiro, há ainda um outro workshop dedicado à iniciação de talha em madeira e inclui estadia em residências partilhadas da aldeia de Cerdeira. Custa 240€ e pode reservar online.

Aprender a fazer pão de Mafra

Quinta dos Machados
Quinta dos Machados créditos: Quinta dos Machados

Pode até não ser de fermentação natural, com uma massa que fica a levedar durante mais um dia, mas este pão tem tudo o que é de mais natural, incluindo uma "elevada percentagem de água" e também "farinha de trigo tipo 80, farinha de centeio tipo 70, sal e levedura", refere a Câmara Municipal de Mafra.

É, por isso, um dos mais saudáveis por não ter aqueles "E's" indesejáveis que vemos nos rótulos dos pães de supermercado e pode ficar a saber exatamente como se faz neste workshop promovido pela Quinta dos Machados. A massa estará pronta, a única coisa que tem de fazer é rechear com ingredientes a gosto (como o chouriço da imagem ou mel e frutos secos) e esperar pacientemente que saia do forno de lenha.

Está apenas disponível gratuitamente para hóspedes do hotel da Quinta dos Machados, cujo valor por noite começa nos 85€ para duas pessoas, com pequeno-almoço incluído. Pode marcar no site ou através dos contactos (261 961 279/ quintamachados@quintamachados.com).

Workshop de Pintura de Azulejo

Workshop de Pintura de Azulejo
Workshop de Pintura de Azulejo créditos: acasadoazulejo

O azulejo é material que não caiu em desuso — ainda faz parte das paredes das nossas cozinhas e casas de banho — apenas já não é usual saber como são feitos. Sabia que há regras para aplicar as tintas e que depois da pintura o azulejo precisa de ser cozido? Vai aprender um pouco de tudo isto no workshop de pintura de azulejo, dedicada a pintar um azulejo tradicional português de 15×15 cm, organizado pela Casa do Azulejo, em Lisboa.

Logo no final da experiência de duas horas não é possível levar o azulejo para casa, uma vez que precisa de tempo para ser cozido, mas pode levantá-lo mais tarde ou pedir que seja enviado para casa. Seja de que modo for, vai ficar com esta recordação feita com a ajuda de Ana Dominguez.

Pode marcar o workshop (37€) diretamente no site.

Workshop de Agulha Mágica

Workshop de Agulha Mágica
Workshop de Agulha Mágica créditos: companhiadasagulhas

Primeiramente há que esclarecer o que é uma agulha mágica: "Agulha que permite bordar sobre uma superfície, puxando o fio pelo tecido, enquanto a agulha fica na superfície, formando-se loops. Podem ser criadas superfícies com várias texturas e formas. Esta técnica é usada para fazer tapetes, tapeçarias ou mesmo acessórios", explica a Companhia das Agulhas, situada em Lisboa.

No fundo, permite fazer os bordados em tela redonda que tornaram-se tendência nos últimos tempos e aprender uma parte da arte da tapeçaria para a qual o Núcleo Museológico das Mantas e Tapeçarias de Belver ainda não desenvolveu um workshop.

Na Companhia das Agulhas fica a saber, online ou presencialmente, coisas como montar o tecido no bastidor e fazer os acabamentos. O próximo, com duração de três horas, acontece já a 29 de janeiro e custa 65€. Pode inscrever-se online.

Voltar a levar legumes da horta para o tacho

Workshop Horta do Zero
Workshop Horta do Zero créditos: catarinafpb

Não se pode dizer bem que é uma tradição, mas é certamente um hábito que se foi perdendo com a urbanização: o de colher os legumes da horta e levá-los diretamente para a cozinha. Além de darmos mais valor ao que é semeado e colhido por nós, o sabor é inigualável comparativamente com alimentos do supermercado que muitas vezes levam adubos e químicos.

Mesmo que viva numa cidade pode ter a sua própria horta, só tem de aprender todos os passos para que cresça de forma saudável. O workshop horta do Zero dá uma ajuda ao ensinar quais os melhores vasos, que culturas escolher, como fertilizar e também como combater pragas. É um workshop online para principiantes e custa 12,30€. Pode adquirir aqui.

Aprender a trabalhar vime com Aida Bairos

Aida Bairos
Aida Bairos créditos: facebook

Cestas como estas já não se encontram com muita frequência e Aida Bairos esforça-se para que não desapareçam, razão pela qual vai realizando alguns workshops para ensinar esta arte. A MAGG já experimentou e apesar de exigir alguma técnica até começar a cruzar os vimes com destreza, é uma tarefa minuciosa e divertida que nos faz passar largas horas focados em conseguir a melhor base de tacho possível ou uma condessa (pequena cesta) quase perfeita.

Os valores começam nos 20€ e para saber quando são as próximas sessões basta estar atento ao Facebook de Aida, rede social na qual anuncia os workshops ou a experiência que habitualmente acontece entre fevereiro e março: acompanhar Aida no processo da apanha, cozedura (entre 2h30 a 3 horas) e descasque dos vimes.