É difícil traçar um roteiro dos Açores quando há tanta coisa que tem de fazer parte de um itinerário do arquipélago. O melhor é ir por partes, por isso, depois de darmos a conhecer Santa Maria, um cheirinho de São Miguel e assinalar sete paragens obrigatórias na ilha Terceira, chegou a vez de traçar um roteiro na ilha do Pico.

O Pico é uma das "ilhas triângulo" — Pico, Faial e São Jorge — que fazem parte das vistas de alguns dos locais que sugerimos neste roteiro. A natureza está por toda a parte, seja quando vai dormir num dos alojamentos únicos junto ao mar, num trilho, ou nos restaurantes, como o fascinante Cella Bar. Mas há uma forma vivê-la ainda mais intensamente.

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Uma vez que a montanha do Pico é a mais alta de Portugal, é quase obrigatório subir, sendo que há vários níveis para quem está em maior ou menor forma física. Pode ir até à Furna Abrigo, à Cratera e ao Piquinho, com partida e fim na Casa da Montanha, entidade gestora dos percursos (a partir de 5€).

É provável que depois de subir a montanha vulcânica precise de uns minutos para assimilar a experiência e pode fazê-lo em jeito de continuidade numa prova de vinhos vulcânicos (20€) da Azores Wine Company. A prova inclui vinho branco, rosé e tinto que resultam de plantações em solos de lava. Se é mais de comer, a Azores Wine Company tem também degustações de faca e garfo, cujos detalhes revelamos de seguida.

Com este roteiro completo, só tem de marcar a viagem.

Onde ficar

Casa d'Avó Amélia

São vários os alojamentos do Pico que não foram criados de raiz e resultam da recuperação de casas antigas. Um dos exemplos é a Casa d'Avó Amélia, alugada por uma super anfitriã da plataforma Airbnb, onde será recebido como na casa de uma avó: daquelas que só não oferece aquilo que não pode. E esta avó consegue coisas inacreditáveis. Uma delas é a vista sensacional para o mar ao acordar (isto logo depois despertar com o som do galo).

A casa típica tem paredes de pedra por fora e por dentro uma decoração que contrasta completamente com o exterior: é moderna, azulejos estilosos e imobiliário em madeira. Escolhemos esta casa simples não só por ser perfeita para descansar à noite e beber um vinho na varanda, como também pelo preço. Uma noite para duas pessoas custa a partir de 45€ em setembro. Pode fazer a reserva na plataforma Airbnb.

Adega do Fogo

No Pico há mais uma casa de pedra, embora mais complexa e recente do que a anterior. Chama-se Adega do Fogo e diz respeito à casa com 200 anos, recuperada, onde continua a funcionar uma destilaria. Atualmente, a destilaria fica ao lado da sala de refeições — na qual é servido o pequeno-almoço, sempre com produtos da região, como queijos do Pico, salada de frutas, ovos, bolo, pão de milho e trigo e bolo lêvedo.

"Da minha experiência com os hóspedes, não pode faltar e as pessoas ficam altamente viciadas", disse a proprietária Benedita Branco à MAGG, também responsável pelo projeto Lava Homes, na altura da abertura do alojamento. A casa, de frente para a montanha do Pico, tem um total de seis quartos de decoração elegante e chique e se for nas próximas semanas — enquanto ainda não faz muito frio — pode descansar o corpo nas espreguiçadeiras em torno da piscina de água salgada e aquecida.

A estadia na Adega do Fogo custa desde 2 mil euros por noite (preço por noite pela propriedade completa, com capacidade até 12 pessoas. Reservas para estadia mínima 5 noites), com pequeno-almoço incluído.

Atlantic Heritage Luxury Villa

Faltava algo menos rural e mais sofisticado na lista e aqui está: o Atlantic Heritage Luxury Villa, uma villa em Canada Nova, na ilha do Pico, que é alugada por inteiro. Tem quatro quartos decorados de forma luxuosa e tudo o resto acompanha o conceito: tem direito a uma piscina privada de borda infinita localizada ao ar livre mas aquecida para que não tenha frio, jacuzzi e ainda vistas panorâmicas para a ilha do Faial. Os quartos têm cozinha equipada e uma varanda para ver as estrelas à noite a olho nu ou através do telescópio disponibilizado no alojamento. Uma noite para duas pessoas custa a partir de 499,20€, com pequeno-almoço incluído.

Natureza para ver, sentir e provar (e não só picar o ponto)

Podíamos traçar um roteiro pelo Pico só com os pontos mais imperdíveis — como a montanha do Pico, a mais alta de Portugal, com 2.351 m de altitude, a Paisagem Cultural da Vinha do Pico, classificada desde 2004 como Património Mundial da UNESCO e cuja vinha é cultivada em chão de lava preta, e a Gruta das Torres, um tubo lávico com cinco quilómetros de comprimento, classificada como Monumento Natural Regional — mas não era isso que queríamos. A melhor forma de ver o Pico é através das experiências de que lhe vamos falar e que incluem tudo isto: as montanhas que caracterizam a ilha, a atividade vulcânica e os vinhos.

Arcos do Cachorro

Um dos sítios a que tem de ir é aos Arcos do Cachorro, um conjunto de formações rochosas de origem vulcânica na zona Cachorro, no concelho da Madalena do Pico. Como o nome indica, entre as formações rochosas vai ver uma que se assemelha a um cachorro que foi acidentalmente esculpido pela natureza. Além de admirar as figuras, pode dar um mergulho nas águas cristalinas, mas apenas quando o mar estiver calmo porque a zona balnear pode ficar mais agitada no inverno.

Gruta das Torres

De seguida, visite a Gruta das Torres, percorrendo a cavidade ao longo de 450 metros, num percurso que dura cerca de uma hora e durante o qual ser-lhe-ão explicados os tipos de lava e as diversas formações geológicas, como lava balls e paredes estriadas. Até 31 de outubro, as visitas são feitas das 10h às 18h, com partida no Centro de Visitantes da Gruta das Torres. O bilhete custa 8€ para adultos.

Faltava aqui um trilho não faltava? E se em vez de um trilho for um roteiro completo pelo parque natural do Pico, com duração de 72 horas? Vai ficar a conhecer a ilha de uma ponta à outra, passando pelos sítios de maior interesse: Casa dos Vulcões, Centro de Visitantes da Gruta das Torres, Casa da Montanha e Sant’Ana. Só o último ponto é que inclui um trilho, os restantes são visitas ao centro (descanse, não será exigente fisicamente).

Adega "A Buraca"

Para abrandar o ritmo, a Adega "A Buraca", em São Pedro do Pico, tem programas especiais. Um deles é dedicado às vindimas e decorre até setembro, o que significa que não pode adiar a viagem durante muito tempo. A participação nas vindimas tem um custo de 45€ por pessoa e inclui transporte do hotel para as vinhas e regresso e uma refeição preparada na própria adega, segundo receitas e hábitos antigos — começa com vinho aperitivo e termina com digestivo e pelo meio há entradas, prato de peixe e carne e sobremesa. A adega tem ainda outras propostas, como prova de aguardentes, doces e licores produzidos pela Adega e por outros produtores dos Açores (3,50€), almoço ou jantar "entre as garrafas e no meio das barricas" (preço sob consulta), e degustação de petiscos (enchidos, queijo do Pico e pão tradicional) por 12€.

Do caril de lula ao lemonesso, o Pico é de picar e chorar por mais

Georgette Restaurante

O Pico não é a maior ilha do arquipélago dos Açores — esse título pertence a São Miguel — mas cabe sempre mais um novo espaço. Um dos últimos a abrir portas foi o Georgette Restaurante, em Foros, na Calheta de Nesquim, restaurante de um francês e uma franco-britânica que levaram para a ilha um conceito de gastronomia que junta também cultura.

O restaurante tem livros e vinis em redor, um aperitivo para a música que começa a tocar quando os pratos chegam à mesa. A ementa varia todas as semanas consoante os ingredientes locais e da época, com tamanhos que parecem irreais. Os pratos têm todas as cores do arco íris e pela carta já andaram invenções como flan de curgete, caril de lula com coco e tagliatelles caseiras e nougat gelado, com molho de chocolate preto e neveda nas sobremesas.

Taberna Do Canal

A Taberna Do Canal, na Avenida Padre Nunes da Rosa, Madalena, é também de passagem obrigatória quando for ao Pico. As paredes parecem as vacas dos Açores que vai ver enquanto percorre a ilha e toda a decoração acompanha com o que é mais típico na região. Ambiente à parte, quem vai aqui é para comer e não faltam opções da gastronomia local: lapas grelhadas, bife de atum, caldeirada de lulas, polvo da casa e uma tarte de mel muito elogiada no Tripadvisor — plataforma que em agosto distinguiu o restaurante como a escolha dos viajantes do Tripadvisor em 2021.

Cella Bar

Tínhamos também de falar do Cella Bar que é já conhecido pela estrutura surpreendente. É como uma bolha com janelas que oferecem vistas para a ilha do Faial e para os ilhéus Deitado e Em Pé. O espetáculo panorâmico é uma das razões para visitar o Cella Bar, bem como a carta que implica que fique boas horas à mesa para provar tudo. Pão de alho com chouriço picante (4,50€), filete em azeite e algas (8€), gambas salteadas (13€), linguiça do Pico (9€) e moqueca de legumes (14€) são algumas das opções. Para beber — essencial para acompanhar um pôr do sol na ilha — há mojito de amora ou maracujá ou um lemonesso, café com limonada.

Azores Wine Company

Para uma experiência completa nos Açores, eis menus de degustação para não ficar indeciso sobre o que escolher numa ementa. No restaurante da Azores Wine Company vai encontrar três, todos com seis pratos e vinhos a acompanhar. O menu mais em conta, chamado Rock & Raw, fica por 95€ e serve seis pratos que são harmonizados com quatro vinhos a copo: Verdelho O Original, Arinto dos Açores, Vinha Centenária e a Proibida. Se preferir uma degustação mais leve, a de tapas é ideal. Tem cinco à escolha e direito a uma sobremesa (30€).