A primeira vez que vi o programa daquilo que me esperava pensei: 'mas, afinal, numa viagem aos Açores não é só estar em cima de um monte quase em estado meditativo a apreciar a paisagem do azul do mar e a andar entre vacas felizes?' Pois, não, não é mesmo. Há muita aventura envolvida.
Depois da quarta zaragatoa nariz acima e zero COVID-19 até ao momento, lá me pus a caminho do aeroporto de Lisboa. A excitação de voltar a viajar, mesmo em tempo de pandemia, é real de tão surreal. Mas rumar aos Açores nesta altura tem as suas vantagens. Primeira: são só duas horas e pouco de máscara na cara. Segunda: apesar de uma situação pontual que obrigou a maiores restrições em São Miguel no início de abril, usufruir dos hotéis, passear e explorar a natureza não tem restrições.
Tal como eu estava entusiasmada por viajar, como turista, atrás de mim no embarque estava uma mãe e uma filha que não deixavam enganar: numa tamanha felicidade, iam de regresso a casa, não fosse o "mâe, ê aqui o lúgar" com sotaque carregado.
Para trás ficaram mais de meia dúzia de jovens que esperavam o amigo com problemas na validação do bilhete. Chamaram-me a atenção, não só pelo companheirismo, como pelas saudades com que fiquei de voltar a viajar com amigos. A olhar para aquele grupo parecia que tudo voltara ao "antigo normal".
Em Lisboa, o dia estava cinzento e chuvoso e quando o avião se alinhou na pista para levantar voo, surgiu um sol imenso que pintou o céu das cores do arco-íris, desta vez pela mão da natureza e não de crianças. Se isto não é um sinal de que "vai ficar tudo bem, não sei o que é.
Chegada a São Miguel, pude sentir quão real é a frase de abertura de noticiários "Noa noite. São 20h, uma hora a menos nos Açores". Contudo, em São Miguel era já hora de jantar e fui para a primeira refeição na ilha, no restaurante O Baco, do hotel Ponta Delgada. Não comendo carne, já ia a contar com um prato vegetariano. Antes de chegar a esse, fiquei rendida na entrada. Ovo biológico imerso em queijo da ilha com uma base de repolho.
Este é um prato que se come por passos: primeiro, cortar a gema do ovo, que escorre suavemente naquele cenário de food porn inconfundível. Depois, juntar o sabor leve do legume com o queijo da ilha e a magia acontece na boca.
Felizmente, a sala estava já quase vazia, porque foi inevitável conter o arregalar de olhos ao provar. Só um bom apreciador de queijo entenderá o prazer deste prato. Seguiu-se um à Brás de legumes com abrótea cozinhada em folha de bananeira.
Qual moda de sustentabilidade?! Aqui é assim que se faz, e bem. Já não consegui chegar ao tributo de biscoito de orelha de Santa Maria, mas é de ficar com água na boca.
A noite seguiu na cama do quarto do hotel de três estrelas que, verdade seja dita, de três estrelas não tem nada. Cláudia Faias, diretora executiva do Ciprotur Hotel Group, que detém o Hotel Ponta Delgada, revelou à MAGG que este hotel "foi remodelado ao longo dos últimos dois anos", quer no que diz respeito ao restaurante - cujo conceito de cozinha criativa com produtos regionais é, literalmente, de comer e chorar por mais, como com(provei) -, quer no lobby.
Aqui encontra-se um "painel de azulejos azul e verde que conta a lendas da Lagoa das Sete Cidades", diz Cátia, que conta a história de uma princesa e um pastor, de olhos azuis e verdes, respetivamente, cujo amor era proibido e quando se encontraram pela última vez nas Sete Cidades, choraram tanto que as lagoas ficaram com a cor dos seus olhos. Já nos quartos, a remodelação reflete-se nos tons nude e acolhedores.
Foi neste ambiente que cai redondamente no sono. Já de manhã, depois de uma noite agitada lá fora, a primeira coisa que fiz ao acordar foi encarar a ilha de frente.
Brindou-me com vento, alguma chuva e humidade, mesmo a mostrar que a força da natureza é para apreciar e respeitar. Deste momento, levo ainda o cheiro sem igual: não é mar, não é terra molhada, é como quando entramos numa estufa de flores e os aromas se misturam.
Depois de uma granola caseira no iogurte e da tiborna com queijo da ilha que ficou para uma próxima vez, demos uma volta por São Miguel até partir para o novo e célebre ponto da cidade: o hotel de quatro estrelas Senhora da Rosa.
Se andou atento à MAGG, recorda-se deste hotel que abriu a 16 de junho e que é o resultado de uma propriedade de família que já foi uma estalagem e agora é uma espaço de luxo e memórias.
As boas-vindas foram feitas à mesa do restaurante Magma, primeiro com um atum sem igual servido no ceviche com abacate e pimenta da terra. Se nunca provaram esta iguaria, nos Açores não há como fugir.
Está desde o couvert de manteiga com pimenta da terra para acompanhar o bolo levedo ainda quente, até ao arroz com pimentos que acompanhou a abrótea panada do prato principal.
Para rematar, uma espécie de piña colada em camada de texturas: na base, panacotta de coco, com pedaços de ananás marinado em lagido (vinho doce dos Açores) e no topo sorvet de limão - tudo polvilhado com crumble.
Peço desde já desculpa pela inveja, mas se quer provar um pouco de todos estes sabores locais e de apresentação sofisticada, o chef João Alves - além da carta com pratos a partir de 9€, como o ravioli de queijo e ervas com manteiga noisette e abobora caramelizada - tem menus de degustação com quatro, seis e cinco (vegan) pratos (a partir de 35€). Já ao almoço, há um menu executivo (25€).
A digestão foi feita a conhecer cada encanto do hotel e ao chegar aos cafuões - disponíveis para hóspedes dormirem e tomarem um banho na varanda - nem foi preciso tirar a máscara para sentir o cheiro da madeira virgem e da natureza que engole aquele espaço.
Para dois este é o cenário ideal, para para uma família há verdadeiros apartamentos (ainda maior do que o próprio T4 partilhado onde vivo).
E quanto à aventura de que falava no início, perguntam desse lado? Ainda não falei, mas vai chegar. Esperem para ver.
*A MAGG viajou a convite da Associação do Turismo dos Açores para a promoção da campanha “Açores, Seguro por Natureza”