Chegar ao primeiro castelo do Vale do Loire, uma região no centro de França, a cerca de 130 quilómetros a sudoeste de Paris, é avassalador. Apesar do tempo chuvoso e do céu cinzento, é impossível olharmos para esta propriedade — Chambord, neste caso específico — e não nos sentirmos pequeninos perante tal imponente construção, ou questionarmos como é que a mesma se edificou numa altura em que a mão de obra humana era praticamente a única ferramenta disponível.

E se estar perante a fachada é uma sensação única, descobrir o interior destes castelos é ainda mais incrível: somos imediatamente transportados para o passado, não conseguimos deixar de imaginar que estamos a pisar o mesmo chão que reis e rainhas e, vá, quase que temos vontade de ignorar os avisos de que não devemos tocar em qualquer peça e sentir o que é dormir numa cama real.

Mas Chambord não é o único castelo do Vale do Loire, região considerada património mundial pela UNESCO: com mais de 300 castelos, sendo cerca de 90 visitáveis e abertos ao público, cada um é mais bonito do que o outro. Estão recheados de história e curiosidades — e a MAGG não resistiu ao convite para conhecer sete destas maravilhosas propriedades.

Acompanhe-nos nesta viagem e descubra mais sobre este imponente universo dos castelos do Vale do Loire. E aqui é necessário um pequeno aviso: se em Portugal chamamos castelos às fortalezas referentes à época medieval e palácios às propriedades mais habitáveis e recheadas de luxo, em França a designação "château" é aplicada aos dois tipos.

Assim sendo, apesar de a tradução literal da palavra ser castelos, pense sempre que todas as propriedades referidas neste artigo se assemelham mais aos nossos palácios.

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1. Chambord, o maior castelo do Vale do Loire

O castelo de Chambord é o segundo mais visitado na França, a seguir a Versalhes

A primeira paragem da nossa viagem pelo Vale do Loire faz-se no castelo de Chambord, um imponente edifício cuja construção começou em 1519, a mando do rei Francisco I. Este é o maior castelo da zona do vale, bem como o segundo mais visitado em toda a França, sendo apenas ultrapassado pelo Palácio de Versalhes, em Paris.

Apesar de o projeto arquitetónico de Chambord ser atribuído a Domenico da Cortona, a verdade é que existe toda uma aura de mistério em relação ao verdadeiro autor da arquitetura do castelo, existindo poucos registos da construção. Mais: devido à relação de Francisco I com Leonardo Da Vinci — o rei francês pediu ao artista italiano para se juntar à corte em 1516 como pintor principal, arquiteto e engenheiro —, há quem veja influências do autor da "Mona Lisa" nas linhas de Chambord.

Uma dessas influências é a escadaria dupla em espiral mesmo no centro do castelo, que é também um dos grandes chamarizes de Chambord, que foi construído originalmente para servir de retiro de caça ao rei.

Devido à cultura nómada dos reis franceses na época, não espere encontrar mobília original ou divisões muito decoradas: por volta de 1500, os reis não viviam apenas num castelo, estando constantemente a mudar de residência, levando toda a mobília atrás. Como resultado, muitas das peças de mobiliário ficavam danificadas nas viagens entre castelos, sendo substituídas por outras. Quando o rei e a corte partiam, os castelos ficavam vazios.

Com a Transavia, pode viajar desde o aeroporto de Lisboa, Porto, Faro ou Funchal (através do Porto) até Paris (Orly) ou Nantes a partir de 29€ (voo de ida, preçários de verão 2019).

De ambas as cidades, pode alugar um carro até à zona do Vale do Loire ou recorrer a uma empresa de guias turísticos — algumas têm serviços que planeiam toda a sua estadia e o apanham no aeroporto. Saiba mais no site do gabinete de turismo da região.

Não é possível dormir no castelo, mas temos a segunda melhor alternativa: pode ficar alojado no Relais de Chambord, um hotel de charme de quatro estrelas na propriedade do castelo com uma vista incrível de Chambord. Membro dos Small Luxury Hotels of the World, este espaço está aberto aos hóspedes desde dezembro de 2017 e ainda tem um spa Nuxe, para que possa relaxar depois da visita. Nesta época do ano, os preços por noite em quarto duplo são a partir dos 216€.

O castelo está aberto aos visitantes durante todo o ano, à exceção dos dias 1 de janeiro e 25 de dezembro. Os bilhetes custam 14,50€ por pessoa e são gratuitos para os menores de 18 anos.

2. Cheverny, o castelo que inspirou o autor de Tintim

Os proprietários de Cheverny residem na ala direita do castelo, interdita a visitantes

Construído no início do século XVI, o castelo de Cheverny, à exceção de um breve período em que foi adquirido pela coroa francesa, marca a diferença por ser propriedade privada há vários séculos — aliás, há mais de seis séculos que pertence à mesma família, que ainda hoje vive na ala direita do castelo, interdita a visitantes.

Finalizado em 1650, Cheverny mantém até hoje o mobiliário e a decoração clássica do século XVI, bem como impressionantes tapeçarias. E se em Chambord as divisões estavam bastante despidas de decoração, aqui acontece exatamente o contrário, com os quartos e as salas a serem recriados ao detalhe.

Em 1922, foi um dos primeiros castelos privados a abrir as portas ao público, e é bastante provável que a fachada de Cheverny lhe pareça familiar, especialmente se for fã de banda desenhada: o artista belga Hergé, criador da personagem Tintim, inspirou-se neste castelo francês para criar o Château de Moulinsart, a casa de campo da família do Capitão Haddock, na ficção.

A fachada de Cheverny na ficção

Devido a esta curiosidade, existe na propriedade uma exposição permanente dedicada ao Tintim, apelidada de Os Segredos de Moulinsart, capaz de fazer as delícias dos mais novos, mas também dos fãs dos livros de banda desenhada — para além de muitos artigos de merchandising na loja do castelo.

O castelo está aberto aos visitantes durante todo o ano, à exceção dos dias 1 de janeiro, 1 de maio e 25 de dezembro. Os bilhetes custam 16,50€ por pessoa (com acesso à exposição do Tintim) e são gratuitos para os menores de 7 anos.

3. Blois, o castelo onde Joana d'Arc foi abençoada antes de partir para a guerra

Nesta imagem, podem-se identificar os quatro estilos arquitectónicos do castelo de Blois

A construção deste castelo começou no século XIII, terminando apenas quatro séculos depois, em XVII. Recheado de história, Blois é também uma verdadeira pérola arquitetónica, dado que consegue englobar quatro estilos — medieval, gótico, renascentista e clássico —, fruto da construção demorada ao longo dos anos.

Com o decorrer dos séculos, Blois foi residência de sete reis e dez rainhas francesas, e foram muitos os acontecimentos marcantes de que o castelo foi palco.

Em 1429, Joana d'Arc foi aqui abençoada pelo arcebispo de Reims, antes de partir para a batalha pela conquista de Orleães aos ingleses. Foi aqui também que o rei Henrique III, que viveu no castelo entre 1576 e 1588, mandou assassinar Henrique I, duque de Guise, devido às guerras religiosas da época.

Uma visita guiada pelo castelo pode ser o ideal para se manter a par da história, mas existe uma alternativa mais dinâmica: até 29 de setembro, o castelo de Blois tem um espetáculo de projeção de luz e som todas as noites, dobrado em nove línguas (incluindo português) onde pode conhecer a história do castelo em cerca de uma hora — está-se a recordar dos eventos de videomapping no Terreiro do Paço? Segue a mesma lógica.

O espectáculo decorre até dia 29 de setembro

O castelo está aberto aos visitantes durante todo o ano, à exceção dos dias 1 de janeiro e 25 de dezembro. Os bilhetes custam 19,50€ por pessoa (com acesso ao espetáculo de luz e som) e são gratuitos para os menores de 6 anos.

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4. Amboise, o castelo onde está sepultado Leonardo Da Vinci

Leonardo Da Vinci está sepultado em Amboise

Construído por volta do século IX, o castelo de Amboise, mesmo no centro da vila com o mesmo nome (apesar de elevado a uma altura de 81 metros), foi confiscado pela monarquia no século XV, alvo de uma grande remodelação e tornou-se numa das residências oficiais preferidas dos reis franceses.

Junto ao rio Loire, Amboise foi também o local onde o rei Francisco I foi criado, tendo este castelo atingido o seu pico de glória nos primeiros anos do reinado do monarca. Depois de chegar a França a convite do rei Francisco I, Leonardo Da Vinci frequentou Amboise, apesar de a sua residência oficial ser Clos Lucé, outro castelo nas imediações — e existe um rumor de que, na época, existiam túneis subterrâneos que ligavam os dois locais.

O artista italiano organizou vários eventos festivos no castelo de Amboise, incluindo um casamento real, e acabou mesmo por ser sepultado na capela do castelo, em maio de 1519. Esta foi destruída no final do século XVIII, sendo reconstruida num novo local dentro da propriedade, e o corpo de Leonardo Da Vinci transladado para a nova capela, onde permanece até hoje.

O artista italiano morreu em maio de 1519

Se visitar o castelo de Amboise, não deixe de recorrer ao Histopad (com versão traduzida em português), um tablet que o acompanha durante toda a visita e onde lhe mostra projeções do castelo quando este era habitado pelos reis franceses, bem como várias informações e curiosidades sobre este monumento histórico, designação oficial que ganhou em 1840.

Depois de visitar o castelo, não deixe de dar uma volta por Amboise, uma pitoresca vila francesa que nos remete para o universo da aldeia de Bela no filme "A Bela e o Monstro", e aproveite para beber um chocolate quente numa das várias esplanadas espalhadas pela vila.

O castelo está aberto aos visitantes durante todo o ano, à exceção dos dias 1 de janeiro e 25 de dezembro. Os bilhetes custam 12,80€ por pessoa e são gratuitos para os menores de 7 anos.

5. Clos Lucé, o castelo com réplicas de invenções famosas de Leonardo Da Vinci

Atualmente, Clos Lucé é um museu dedicado a Leonardo Da Vinci

Também na vila de Amboise, Clos Lucé é outro castelo com uma grande ligação a Leonardo Da Vinci, que aqui viveu nos últimos anos da sua vida. Construído em 1471, este castelo francês era encarado como uma residência de verão dos reis, e era um dos preferidos de Carlos VIII.

Clos Lucé acabaria por ser a última residência de Leonardo Da Vinci em vida, oferecido ao artista pelo rei Francisco I, que tinha uma grande ligação com o italiano. Na famosa pintura em óleo "A Morte de Leonardo Da Vinci", o monarca é retratado no leito de morte de Leonardo, embora tal não corresponda à realidade.

Hoje em dia, e desde 1815, Clos Lucé é um autêntico museu dedicado a Leonardo Da Vinci, com várias divisões do castelo a retratarem momentos da vida do artista, desde a sua sala de trabalho ao estúdio.

Espalhadas pelos jardins, estão várias réplicas de invenções do artista italiano

Os jardins são também um grande chamariz deste castelo, com várias réplicas de invenções famosas do artista e engenheiro italiano, desde o moinho de água à ponte de dois níveis.

O castelo está aberto aos visitantes durante todo o ano, à exceção dos dias 1 de janeiro, 2 de maio e 25 de dezembro. Os bilhetes custam 16€ por pessoa e são gratuitos para os menores de 7 anos.

6. Chenonceau, o castelo das mulheres

Chenonceau é conhecido como o castelo das mulheres

É um dos castelos mais conhecidos do Vale do Loire e também um dos mais visitados. Construído junto ao rio Cher, Chenonceau chama a atenção pelo imponente edifico à beira da água, mas também pelos seus belos jardins, que nos fazem sentir no meio de um romance renascentista.

Sendo uma mistura dos estilos gótico e renascentista, Chenonceau foi construído entre os anos 1514 e 1922, e é conhecido como o castelo das mulheres, dado que foram estas as suas principais proprietárias e que dedicaram o seu tempo à propriedade.

Entre as mais ilustres donas podemos encontrar Diana de Poitiers, a amante do rei Henrique II, que lhe ofereceu o castelo em 1547. Diana ficaria muito ligada a Chenonceau, sendo famosas as histórias dos banhos que tomava no rio, completamente despida, sem medo dos olhares indiscretos.

Diana de Poitiers acabaria por abandonar o castelo a mando de Catarina de Médicis, mulher de Henrique II, que a expulsou após a morte do marido em 1559. Catarina tornou-se regente de França até ao filho assumir a coroa, e gastou uma fortuna nas renovações do castelo e em festas espetaculares no mesmo, sendo a responsável pela construção dos jardins.

A herdeira Marguerite Pelouz foi a última proprietária do castelo, que o vendeu em 1891 depois de entrar em falência. Mas Marguerite continua a estar presente em Chenonceau, de certa forma — se fizer a vista com recurso ao guia de áudio (um tablet com uma visita guiada traduzida em 12 línguas, incluindo português), é dela a voz que o acompanha enquanto descobre a história e os segredos desta incrível propriedade.

Esta é uma das deliciosas sobremesas servidas na Orangerie

Caso visite Chenonceau, não deixe de almoçar na Orangerie, o restaurante de fine dining localizado na Estufa Verde, que lhe traz o melhor da culinária francesa.

O castelo está aberto aos visitantes durante todo o ano. Os bilhetes custam 18,50€ por pessoa (com a visita através do guia de áudio incluída) e são gratuitos para os menores de 7 anos.

7. Villandry, o castelo que pertenceu à família de Napoleão Bonaparte

O castelo é propriedade privada

Terminamos a nossa viagem pelo Vale do Loire em Villandry, um castelo construído no século XVII cujos jardins são o grande cartão de visita. Para além de um labirinto todo feito em vegetação, um campo de ténis completamente natural no meio dos arbustos, entre várias outras espécies, a joia da coroa de Villandy são os jardins hortícolas, com tomates, alfaces e toda uma panóplia de ervas aromáticas, entre muitas outras coisas.

Propriedade privada, este castelo pertence à família Carvallo, depois de ter sido adquirido por Joachim Carvallo em 1906, que investiu muito dinheiro e tempo na criação dos famosos jardins. Até hoje a família reside na propriedade, num edifício separado do principal, aberto aos visitantes.

Antes disso, Villandry chegou a pertencer à família de Napoleão Bonaparte: no inicio do século XIX, o imperador francês comprou a propriedade e ofereceu-a ao irmão, Jérôme Bonaparte.

Atualmente, este é um dos castelos mais visitados em França, chegando a atingir as 330 mil visitas anuais. E se visitar este castelo, não sai de Villandry de mãos a abanar — os produtos hortícolas são oferecidos aos visitantes, caso estejam prontos para consumo.

O castelo está aberto aos visitantes durante todo o ano. Os bilhetes custam 11€ por pessoa (com acesso aos jardins) e são gratuitos para os menores de 7 anos.

A MAGG viajou a convite da Transavia e do Turismo do Vale do Loire