Buzinas. A primeira coisa que se ouve quando se chega à ilha de São Tomé são buzinas. Não que haja muito trânsito, aliás não são muitos os que têm carros, mas é algo recorrente e que acontece dezenas de vezes ao dia. Levar a mão à buzina é um movimento replicado por todos os condutores da ilha. Mas porquê?

Se visitar São Tomé e Príncipe, vai reparar que os animais andam à solta. Cães e galinhas são os mais comuns, mas também há porcos, cabras e até burros. Esta última espécie esteve quase extinta nos últimos anos. Sabia?

Quem vai para São Tomé e Príncipe não procura só as praias paradisíacas com águas quentes ou boa comida, peixe fresco e uma boa dose de calulu – prato típico do país feito com peixe ou carne seca com tomate, quiabos, batata-doce, espinafres e óleo de palma. Quem vai para São Tomé parte em busca de uma cultura diferente, com histórias e curiosidades que merecem ser descobertas. Exatamente como a história das buzinas e dos burros.

Contamos-lhe tudo.

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1. As buzinas que substituem o travão

Se for à ilha de São Tomé, não se assuste com as buzinas: os condutores usam-nas a toda a hora com o intuito de evitar acidentes. Como os travões dos carros não são suficientes para prevenir um acidente rodoviário, os são-tomenses usam a buzina. Se entrar numa estrada estreita, há buzinadela, se tiver intenções de parar, há buzinadela. Animais no meio da estrada? Buzinadela, claro. O apito serve também para avisar as pessoas que estejam à beira da estrada que existe um veículo a passar. O lema da ilha é “mais vale o apito do que o travão”.

2. Kadafi liderou uma roça

O líder da Líbia liderou a roça Monte Café até à sua morte. Nela era produzido “café de ouro”, uma expressão que usava para falar do café produzido ali. Jejé Lima, habitante da roça, explica à MAGG que antes de 2011 (altura em que a roça passou do governo líbio para as concessões de terra dadas a pequenos agricultores), as pessoas viviam melhor. Havia um rigor mais apertado, mas em troca eram oferecidas melhores condições de vida à população. Hoje em dia a roça está dividida em pequenas parcelas que foram atribuídas às famílias que cuidam e cultivam o café.

3. Os burros da ilha foram um presente e quase acabaram extintos

Antes de 2013 não havia burros na ilha. Os cães, as galinhas, os porcos e as cabras faziam parte (e continuam a fazer) da paisagem da ilha, mas os burros tinham-se extinguido após a época colonial. Em 2013, a Angola ofereceu um carregamento de burros ao país, mas contrariamente do que se esperava os animais começaram a morrer. Os são-tomenses não faziam ideia de como tratar o animal, o que levou a que muitos acabassem mortos.

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Foi então chamado à ilha o veterinário italiano Tiziano Pisoni, para que tratasse dos burros e assistisse na sua reprodução. Segundo o guia turístico Osvaldo Boa Morte, em menos de cinco anos o veterinário conseguiu duplicar a população de burros. Hoje em dia, se passear pela ilha já poderá ver estes animais.

4. Existe um miradouro para ver baleias

Passando para outro tópico, mas ainda ficando dentro dos animais: é possível ver baleias em São Tomé e Príncipe. Para isso terá de se deslocar até ao ilhéu das rolas e procurar o miradouro das baleias – que deve o seu nome aos animais de água salgada que por lá passam. Segundo Leny Marques, animador do hotel Pestana no ilhéu, a época boa para se verem estes cetáceos é entre setembro a dezembro.

5. 75% das pessoas da ilha têm menos de 25 anos

Quem vai descobrir a ilha vai reparar que existem muitas crianças. A correr, a pedir atenção, a brincar – a ilha paradisíaca está repleta de miúdos. Tanto assim é que, segundo o guia turístico Osvaldo Boa Morte, 75% da população da ilha de São Tomé são crianças. Ainda que a esperança média de vida esteja situada nos 63 anos para os homens e nos 66 anos para as mulheres, as crianças são a maior parte da população.

6. Almada Negreiros nasceu na roça Saudade

Almada Negreiros foi uma das figuras mais importantes no contexto artístico de Portugal no século XX. As vertentes como escritor, dramaturgo ou artista plástico foram exploradas até à exaustão. Mas o que provavelmente não sabe é que o escritor nasceu numa roça em São Tomé, no distrito de Trindade. O pai, António Lobo de Almada, foi para a ilha governar a roça da Saudade, em 1893.

Almada Negreiros acabaria por nascer naquele mesmo sítio. Hoje existe um restaurante e uma casa museu nesta mesma roça em honra ao escritor. No museu pode encontrar alguns artigos que fizeram parte do espólio da família do escritor enquanto viveram na roça da Saudade. O escritor, uma vez em Cascais, não visitou mais a ilha onde nasceu.

*A MAGG viajou para São Tomé a convite da Soltrópico, da TAP Air Portugal e do grupo Pestana.