A Nova Zelândia é o sétimo país que visito nesta longa viagem pelo mundo, que estou a fazer com o meu namorado, Nuno. Se têm estado a acompanhar esta minha jornada, já sabem que foi na Austrália que me deixei encantar pelas viagens de caravana. Como seria de esperar, este foi, uma vez mais, o meio de transporte escolhido para desbravar as ilhas Norte e Sul deste país incrível.
Ao longo desta viagem, tenho ouvido várias vezes a pergunta: “qual é o país de que mais gostaste até agora? Qual te surpreendeu mais?” Tem-me sido sempre difícil responder, porque todos os países têm proporcionado experiências únicas. De qualquer forma, tenho dito sempre que a resposta está entre Vietname e Indonésia, por sua vez quase empatados com o Camboja.
Só que agora que estive na Nova Zelândia, muda tudo. Este é, sem dúvida, o país mais bonito onde já estive na vida.
Aqui é tudo muito organizado, bonito, limpo, acolhedor. É ainda melhor do que nos filmes. Aliás, agora compreendo o que motivou o realizador Peter Jackson a gravar aqui as trilogias d'"O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit", mas já lá vamos.
Antes de aqui chegar, nevou muito, mas tive a sorte de apanhar quase sempre céu limpo, muito sol e muita neve nas montanhas. A Nova Zelândia é ainda cheia de zonas verdes, lagos muito azuis, e dispõe de cenários amplos e maravilhosos para grandes caminhadas, no meio da natureza, entre cascatas, ovelhas, e um silêncio terapêutico, só interrompido pelo som emitido pelos inúmeros e lindíssimos pássaros que passam por nós.
A biodiversidade tão rica também me deixou sem palavras: devido ao isolamento biogeográfico, a Nova Zelândia apresenta um elevado número de espécies endémicas, ou seja, que só existem aqui.
Dá para acreditar que vi pinguins Fiordland? Têm sobrancelhas amarelas e estão em vias de extinção. Tive também o grande privilégio de presenciar kiwis, e não estou a falar do fruto (que por acaso também adoro). A título de curiosidade, foi precisamente esta ave da Nova Zelândia a dar o mote para a designação do fruto kiwi, como o conhecemos. “Mas que ave é essa afinal?”, perguntam vocês. Eu explico. Os kiwis têm o tamanho de uma galinha e, tal como os pinguins que referi antes, estão também em vias de extinção. As suas penas castanhas e cinzentas assemelham-se a pelos eriçados, dispõem de um bico longo, e não têm asas.
Vi ainda focas no seu habitat natural, lamas, uma variedade imensa de pássaros e muitas, mas mesmo muitas ovelhas. Na Nova Zelândia é bem maior o número de ovelhas do que o número de pessoas: a população é de, aproximadamente, cinco milhões de pessoas. Já o número de ovelhas ronda os vinte e seis milhões.
A Nova Zelândia situa-se no designado Anel do Fogo do Pacífico, uma zona de grande atividade sísmica e vulcânica, responsável por cerca de 90% dos sismos do mundo. Se este aspeto, por um lado, impõe respeito, por outro, é mais um dos muitos fatores a contribuir para a magia deste país. Aqui é imensa a atividade geotérmica, por isso, é imperativa a visita aos parques termais.
O intuito da publicação de hoje é partilhar convosco o mais imperdível desta viagem rica em experiências fora da caixa, que tive a grande sorte de poder viver pela primeira vez. Confesso que foi um enorme desafio fazer esta seleção, porque sinto, de facto, que tudo merece destaque. Como não posso escrever sem limites, ainda que a muito custo, não tive outra hipótese se não fazer escolhas. Vale a pena consultar a fotogaleria no final do artigo, para poderem chegar mais perto de tudo aquilo que vivi. Prontos para embarcar comigo nesta aventura?
Christchurch. Passeios pela cidade harmoniosa
Esta é a maior cidade da Ilha Sul na Nova Zelândia, e a terceira mais populosa do país. Foi aqui, não que só dei a início à viagem, como também que começámos a aventura de caravana. Mas só depois de cinco dias a conhecer esta cidade harmoniosa, repleta de prédios neogóticos e igrejas restauradas. A Nova Zelândia é uma ex-colónia inglesa e esta é considerada a cidade “mais britânica” de todo o país.
Christchurch é plana e repleta de parques muito amplos, onde vi locais a fazer caminhadas, a correr, a jogar cricket, a apanhar sol, a fazer piqueniques, a andar de bicicleta. A cultura da cidade é muito focada no exterior, há sempre vida na rua. Os prédios não são muito altos e o jardim botânico tem das flores mais bonitas que já vi. Está também sempre a passar pelas ruas um elétrico, que me remeteu a Lisboa, a minha cidade natal.
Christchurch é ainda altamente segura e as pessoas são também muito amáveis. Mostraram-se sempre disponíveis para ajudar, e também muito curiosas por saber de onde somos. Sorriram-me sempre muito ao saberem que venho de Portugal e agradeceram-me por estar aqui. Sem dúvida, a ternura deste lugar começa nos espaços e estende-se às pessoas. Quanta hospitalidade.
Christchurch. Boutique Hotel The Mayfair
Nestes primeiros dias de viagem em Christchurch, ainda sem a caravana, fiquei alojada no hotel The Mayfair. É certo que a caravana que alugámos é altamente confortável, mas, inevitavelmente, este tipo de viagem é mais exigente fisicamente e, por isso, mais cansativo. Como já tínhamos estado bastante tempo em caravana na Austrália, e estaríamos mais vinte e um dias no mesmo registo pela Nova Zelândia, sentimos necessidade de garantir o máximo conforto nos dias que antecederam a aventura.
Este é o mais recente boutique hotel de Christchurch. A estética é moderna e minimalista, e a atenção ao detalhe é evidente por toda a parte. O quarto onde ficámos é super espaçoso e o pequeno-almoço, não só é delicioso, como é servido num espaço muito acolhedor e bonito. Bebi aqui os melhores capuccinos da minha vida, com raspas de chocolate de leite por cima da espuma, a derreter.
Este hotel de luxo tem também muito boa localização. Fica a cinco minutos a pé do Parque Hagley - o meu preferido da cidade -, e também muito perto do imperdível Museu Quake City, que conta as histórias dos terramotos ocorridos na região de Canterbury, da qual Christchurch é sede. The Mayfair disponibiliza ainda bicicletas elétricas aos hóspedes, e eu, que nunca tinha andado numa, fiquei fã. Esta foi, sem dúvida, a experiência de que precisava para recarregar baterias e começar a viagem de caravana no meu melhor.
Mount Cook. Voo de helicóptero com aterragem num glaciar
Eu própria às vezes ainda não acredito que isto aconteceu realmente, mas a verdade é que, sim, eu fiz mesmo uma viagem de helicóptero sobre o famoso Mount Cook, a montanha mais alta da Nova Zelândia. A experiência tem a duração de cinquenta minutos e é do outro mundo.
No helicóptero, além do piloto, ia só eu, o Nuno e uma família de quatro pessoas. Fizemos uma primeira viagem de vinte minutos, a partir do aeroporto de Mount Cook, e com aterragem no Glaciar Tasman. Já no Glaciar, deslumbrei-me com a magia da paisagem.
Aqui o silêncio é absoluto, não há nada em volta, a não ser montanhas e muita neve. Ficámos aqui dez minutos, a a absorver a beleza do cenário, aos trambolhões e consecutivas gargalhadas, porque é muito desafiante caminhar em cima desta “nuvem gelada”. Fizemos também bolas de neve e, sobretudo, procurámos eternizar este momento irrepetível. Por fim, retornámos ao helicóptero, para mais uma viagem de vinte minutos, agora de regresso ao aeroporto, de onde partimos.
O helicóptero abana bastante e voa mesmo muito perto das montanhas, mas fui capaz de abstrair-me e de desfrutar do cenário de sonho que tinha diante dos meus olhos. A incrível Costa Oeste da Nova Zelândia, o mar da Tasmânia, os icebergues esculpidos do Lago Tasman, o Mount Cook… Enfim, absolutamente inacreditável.
Voei com a empresa Southern Lakes Helicopters, que recomendo mesmo muito. Explicaram-nos que, mediante as condições atmosféricas pode haver alterações no voo, mas foram-me sempre deixando a par de tudo, para garantirem que eu estava tranquila.
Queenstown. Viagem de barco a jato
Comecei o artigo a falar de Christchurch, mas é Queenstown a minha cidade preferida na Nova Zelândia. Rendi-me aos restaurantes, às gelatarias frente à praia, às lojas de rua, até ao parque de campismo onde fiquei. Rendi-me, na verdade, ao estilo de vida e senti-me em casa.
A cidade é pequena, por isso, pede mesmo que façamos tudo a pé. É ainda vibrante e colorida, com muitos mercados de rua a decorrer e ainda música ao vivo. O facto de ser pequena faz com que todo este reboliço fique muito concentrado, por isso, instala-se a sensação de estarmos em ambiente de festa.
Como se tudo isto não bastasse, Queenstwon é ainda mundialmente conhecida como a capital dos desportos radicais. Aqui somos constantemente estimulados, ou a saltar de pára-quedas, ou a fazer bungee jumping, ou a fazer ski, ou a praticar ciclismo de montanha, ou a fazer mergulho, e outras loucuras que tais. A agitação é geral e fica a sensação de que os convites irrecusáveis estão mesmo por toda a parte.
No centro da cidade, reparei numa fila enorme, e fiquei curiosa. Aproximei-me e foi óbvio para mim: “não vamos perder este passeio de barco a jato”. Comprámos bilhetes e aventurámo-nos. A experiência tem a duração de uma hora e é interessante porque o barco atravessa o incontornável Lago Wakatipu e desce os famosos rios Kawarau e Shotover. São 45 quilómetros de pura adrenalina, porque, não só o barco dá voltas inesperadas de 360 graus, o que pressupõe travagens bruscas, como chega a atingir os 95 quilómetros/ hora. Além disso, passa ainda muito perto das margens do rio, o que deixa a falsa sensação de estarmos na iminência de nos despistarmos a qualquer momento. Foi uma experiência diferente e muito divertida, numa paisagem maravilhosa.
Fiz a marcação com a empresa K Jet Queenstown-New Zealand , que opera aqui há mais de 60 anos, e recomendo muito. Eles disponibilizam colete e garantem todas as medidas de segurança.
Queenstown. Pelos cenários da trilogia d'"O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit"
Referi no início deste artigo que o realizador Peter Jackson escolheu a Nova Zelândia como principal cenário da trilogia “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit”. O que eu não disse, é que eu própria estive em muitos dos locais onde os filmes foram gravados.
Foi na receção do parque de campismo em Queenstown, que reparei num panfleto que dizia Pure Glenorchy, Excursões Cénicas do Senhor dos Anéis. Daí até reservar bilhetes foram, no máximo, dez minutos. Por sorte, havia vaga para o dia seguinte.
O guia chama-se Francesco e veio buscar-nos de carrinha. Éramos ao todo seis turistas e a excursão durou à volta de quatro horas. O Francesco é um apaixonado por este universo, e sabe de cor todos os detalhes. Levou-nos a conhecer muitos dos cenários onde decorreram as filmagens, ao mesmo tempo que nos contava inúmeras curiosidades sobre os bastidores.
Esta experiência é uma verdadeira viagem de fantasia pelas profundezas da Terra Média, sempre em cenários deslumbrantes, no meio da natureza. Estivemos, por exemplo, em Amon Han, na Floresta Lothlorien, nas Montanhas Nebulosas, em Ithilien e na Estação Arcadia do Vale Paraíso, onde a casa de Isengard e Beorn foi construída para a trilogia “O Hobbit”.
Parámos também na cidade de Glenorchy, onde o guia surpreendeu com chocolate quente, bolachas e bolos típicos da Nova Zelândia para o lanche.
Grande parte destes cenários é parte integrante do Parque Nacional Mount Aspiring, considerado Património Mundial da UNESCO, e composto por uma floresta imponente, bem como rios, lagos e vales cheios de neve.
Milford Sound. De Catamarã pelo Fiorde mais conhecido da Nova Zelândia
Não podia faltar uma passagem por Milford Sound. É parte integrante do maior Parque Nacional da Nova Zelândia, o Parque Nacional Fiordland, e situa-se na costa sudoeste da Ilha Sul do país. É composto por catorze fiordes de uma beleza muito natural e selvagem. A sua localização remota contribui para que continue a manter-se intocável ao longo dos anos. O parque foi criado em 1952 para proteger este ecossistema frágil e único e é reconhecido pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade desde 1990.
Dos catorze fiordes existentes nos limites do Parque Nacional Fiordland, Milford Sound é, sem dúvida, o mais acessível e conhecido. É o resultado de milhões de anos de processo de glaciação e traduz-se em vales profundos, penhascos íngremes, vales suspensos e cascatas de grande dimensão. Trata-se de, aproximadamente, 17.5 quilómetros de um cenário de filme, ao qual só é possível aceder de barco.
Marquei viagem com a empresa Pure Milford e foi incrível. Eles têm o único catamarã com teto de vidro a cruzar Milford Sound, o que pode fazer toda a diferença nesta experiência. É que aqui, não só o mar é muito agitado, como as cascatas são muito íngremes e ativas, além de que é grande a probabilidade de chuva.
O passeio tem a duração de duas horas, ao longo das quais é disponibilizado chocolate quente, café e chá ilimitado a todos os tripulantes. O passeio é orientado por um guia, que vai dando contexto sobre o cenário que temos diante de nós. Explicou, por exemplo, que numa das áreas pelas quais passámos ocorrem terramotos todos os dias, e referiu, também, que já houve ondas de 41 metros de altura numa das zonas de mar mais revolto por onde passámos.
Todo o cenário de Milford Sound surpreende pela imponência e exuberância, e chega até a ser comovente testemunhar tamanha grandiosidade da natureza. Mas confesso que tudo ganhou ainda mais magia quando inesperadamente apareceram focas e golfinhos a acompanhar o barco.
Parque Nacional Abel Tasman. Caiaque Marítimo
Este parque situa-se a noroeste da Ilha Sul da Nova Zelândia, está rodeado de montanhas arborizadas, repleto de baías, praias de areia dourada e águas cristalinas. São estas relíquias naturais as responsáveis pela sua popularidade, que por sua vez justifica que sejam inúmeras as opções aqui disponíveis para a sua exploração.
Desde caminhadas, a cruzeiros, a stand-up paddle e muito mais.
Optei pelo caiaque marítimo, por ser uma experiência diferente do habitual, e porque encontrei uma empresa que dispõe de caiaques duplos, ou seja, com dois assentos.
Achei piada à ideia de poder conduzir um caiaque no mar a meias com o Nuno. Wilsons Abel Tasman Park é o nome da empresa com a qual me aventurei.
Éramos um grupo de oito pessoas, duas em cada caiaque. A experiência começou às 9h30, com um briefing por parte do guia, e terminou às 16h30.
Estivemos um total de três horas a conduzir o caiaque, mas, claro, com muitas pausas. Parámos em diferentes praias, observámos focas no seu habitat natural, conduzimos o caiaque contra o vento, mas também a favor dele e, nessas alturas, deixámo-nos simplesmente levar, enquanto desfrutávamos da paisagem.
A caravana onde vivi ao longo destes 21 dias de viagem
Fiz esta viagem numa caravana que aluguei à empresa Travellers Autobarn. Aqui está ela; é muito semelhante àquela em que viajei na costa oeste da Austrália. Como é mais recente, acabou por ser ainda mais confortável e até espaçosa.
As caravanas têm muita qualidade e a empresa dispõe de várias opções, que podem ser consultadas aqui. Nós levantámos a caravana na cidade onde aterrámos, Christchurch (Ilha Sul), e pudemos devolvê-la na garagem de Auckland (Ilha Norte), onde terminámos a viagem.
A empresa opera na Austrália e também nos EUA.
Espero que tenham gostado de me acompanhar ao longo desta aventura. Resta-me agora desejar-vos boas viagens e, já sabem, caso tenham alguma dúvida ou sugestão, podem e devem contactar-me via e-mail ou mesmo pelo Instagram, onde estou também a partilhar sobre esta minha aventura.