Conhecer novos destinos, aproveitar promoções e marcar férias para 2018. Vai ser assim na sexta edição da Feira das Viagens, que arranca esta sexta-feira, 13 de abril, em Lisboa e Braga. No fim de semana a seguir muda-se para o Porto e Coimbra. Agências de viagens, destinos turísticos, revistas e jornais de turismo. Vão estar todos juntos no evento, que é de entrada livre.

Onde e quando

13 a 15 de abril

Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa
Museu Arqueológico D. Diogo de Sousa, Braga

20 a 22 de abril

Palácio da Bolsa, Porto
Pavilhão Centro de Portugal, Coimbra

O que nunca muda

Horário: 10h-20h
Entrada livre

A propósito da Feira das Viagens, a MAGG visitou na véspera do evento a Sociedade Nacional de Belas Artes. Rodeados pelas exposições dos artistas Ana Fernandes e Miguel d’Alte, falámos com a organizadora do evento, Rosário Louro, sobre o que está a mudar nas viagens dos portugueses e no turismo nacional. Percebemos como os jornalistas da "Forbes" e as nossas universidades contribuíram para o boom turístico, discutimos a guerra agências de viagens Vs. online e analisámos como os portugueses estão cada vez mais sofisticados — mas menos tolerantes.

Como é que surgiu a ideia de fazer a Feira das Viagens?
Um dia saí da BTL e achei que aquele formato, para um determinado público, estava esgotado — acabava por não ser nem uma feira de profissionais nem uma feira de consumidor final. Agora já está a mudar, mas naquela altura era assim. Passei à porta do Campo Pequeno, que tinha arrancado com um novo conceito de mercado (vinho, gourmet), e pensei: e se convertêssemos este conceito em serviços e viagens? Eles acharam a ideia interessante e fizemos a primeira feira, em plena crise, em 2013.

Como é que a ideia foi recebida?
Nem todos os agentes reagiram bem, mas houve um conjunto de agentes — onde se incluiu a Halcon Viagens, que foi patrocinadora — que aderiu. E a feira correu bem. A partir daí percebemos que o formato funcionava. No ano seguinte decidimos avançar para o Porto, e fizemos o evento no Palácio da Bolsa.

Mais um espaço imponente.
É o conceito da Feira das Viagens: escolher um local emblemático, de preferência em edifícios classificados, a que as pessoas estejam afetivamente ligadas; que fiquem em zonas centrais; que não sejam muito grandes e não tenham muito barulho. O evento direcciona-se para um público que não vai a uma feira como a FIL, que procura outro tipo de atendimento, mas que vê valor em ir a um espaço que lhe diz alguma coisa. Queremos que a Feira das Viagens seja também uma experiência: a experiência de visitar a exposição [no caso da feira em Lisboa], a experiência de visitar o edifício e a experiência de comprar a viagem num espaço em concorrência aberta.

A BTL junta público e operadores. A Feira das Viagens é só para o público em geral?
É só para o público. Não há inaugurações, ministros, secretários de Estado. A ideia é ser um evento muito prático para as pessoas que viajam terem um local onde trocam impressões, têm aconselhamento. Hoje em dia as pessoas compram muito online, mas o online não dá aconselhamento. Os agentes de viagens tornaram-se consultores, e no fundo este é um espaço de consultoria. E de convívio, ao mesmo tempo.

No segundo ano foram para o Porto, mas nesta sexta edição já vão estar em quatro cidades.
No Porto também correu muitíssimo bem, o público aderiu lindamente. No terceiro ano fomos para Coimbra, no edifico do Siza Vieira, junto ao rio. Também correu muito bem. No ano passado já tínhamos feito uma abordagem a Braga, mas acabou por não ser oportuno devido às eleições, mas este ano avançámos finalmente — vamos estar no Museu de Arqueologia, um dos mais importantes do período Paleolítico na Europa.

Há cinco anos, qual era o perfil da pessoa que vinha à Feira das Viagens?
A partir do segundo ou terceiro ano começámos a fazer inquéritos, e nessa altura identificámos algumas características de quem nos visita. Em primeiro lugar, as feiras têm de facto um perfil regional. As pessoas que vêm à Feira das Viagens em Lisboa, por exemplo, não são pessoas do Algarve, mas são de Lisboa, Cascais, Sintra, eventualmente do Alentejo, mas está sobretudo circunscrito a este espaço. Em segundo lugar, são normalmente pessoas habituadas a viajar e que sabem o que querem. Hoje em dia as pessoas chegam à Feira das Viagens e já sabem o que procuram. No primeiro ano não, vinham ver o que é que havia para vender, como é que as coisas funcionavam. Depois, são normalmente pessoas com ensino superior, com algum poder de compra e com idades compreendidas entre os 25 e os 50 anos.

Os grupos de viagem que o levam a viver experiências diferentes pelo mundo
Os grupos de viagem que o levam a viver experiências diferentes pelo mundo
Ver artigo

Continua a ser este o público da Feira das Viagens?
Penso que o público tem sido cada vez mais elitizado. É o que me dizem os agentes. Há realmente neste momento um público fidelizado à Feira das Viagens, possivelmente aquele que decide se vai a uma feira ou a outra. Na Feira das Viagens não temos brindes para oferecer, não temos sacos. É de facto um conceito diferente. Temos viagens para vender.

Este ano a Feira das Viagens em Lisboa saiu do Campo Pequeno.
Nesta edição a ambição foi um bocadinho diferente. Quisemos uniformizar o espaço da feira, para ter um ar mais seleto, e ao mesmo tempo associar-nos a uma exposição de arte e ao trabalho do pintor Miguel d'Alte, tão importante no universo do modernismo português.

O que é que acha que está a mudar na forma como viajamos?
No primeiro ano da Feira das Viagens só vendemos praia. E praias baratas: Algarve, Açores, Madeira. As pessoas estavam sem dinheiro. No segundo, percebemos que as pessoas estavam à procura de outros destinos, nomeadamente na Europa. No terceiro ano, começaram a pedir destinos que não se venderam noutros anos: Peru, Rússia. E agora, no quarto e no quinto, as pessoas estão a voltar novamente à praia. Acho que os destinos de praia continuam a ser os preferidos dos portugueses.

No ano passado, 40% das pessoas que visitaram a Feira das Viagens compraram um pacote. Em 2016, foram 32%.

Mas destinos de praia low cost?
Não, não. Tailândia, República Dominicana, Malásia. Mas destinos de praia. No ano passados os mais vendidos foram a Tailândia, República Dominicana, Marrocos, Cabo Verde e Baleares. Foram os cinco destinos mais vendidos. Os valores de venda subiram: no ano passado situaram-se entre os mil e 1.500€, no ano anterior tinha sido até aos mil euros. Preço médio por pessoa.

Acha que a tendência de preço vai manter-se este ano?
Sim, acho que as pessoas estão com um bocadinho mais de dinheiro. E os portugueses precisam de viajar. Faz parte do nosso ADN.

Estamos a viajar mais?
Sim, hoje em dia vai-se à Tailândia por 900€. As pessoas já não têm grandes limitações para onde é que vão — podem ir à Tailândia, podem ir à República Dominicana onde há viagens a mil euros. As pessoas esta mais abertas e com vontade de conhecer novos sítios.

Quem vem à Feira das Viagens está à procura de grandes viagens?
Não, não vêm forçosamente à procura de grandes viagens. Vêm à procura de viagens de acordo com aquilo que querem. Já perceberam que podem comprar viagens tailor-made na Feira das Viagens: têm os pacotes, mas podem fazer tailor-made e mesmo assim têm normalmente descontos. Não. Há muitas pessoas que vêm à procura de viagens em Portugal (Madeira, Açores), muito Algarve também. O turismo do Centro também tem vindo a ganhar terreno. O Douro e o Porto também estão muito na moda. A CP também vende muitas viagens nos comboios históricos. Neste momento o público compra tudo, não vai à procura só de grandes viagens.

Disse-me que começa a ganhar expressividade o Centro, o Douro… e o Algarve, perde com isso?
Não, o Algarve continua a ser um destino importante para os portugueses.

As pessoas que vêm à feira procuram primeiramente um destino de praia. 80% diria que procura destinos de praia"

Que destinos é que os portugueses estão a procurar mais agora?
Da minha experiência, normalmente os destinos que estão na feira conseguem influenciar fortemente as escolhas dos portugueses. Este ano temos a Polónia, Republica Dominicana, Tailândia, turismo do Centro. Vamos ter o Brasil no Porto.

Serão então essas as tendências.
Sim, mas também podem não ser, uma vez que depende do que os agentes de viagens vão trazer. Se trouxerem oportunidades espetaculares para as Baleares, Cuba ou México, as pessoas podem entusiasmar-se. Mas como lhe disse, acho que as pessoas que vêm à feira procuram primeiramente um destino de praia. 80% diria que procura destinos de praia.

Que outras modas é que se começam a afirmar? Retiros espirituais, experiências vegan
Não sentimos isso tanto dentro da feira, mas eu que trabalho destinos turísticos sinto isso. Acho que o nosso público está cada vez mais sofisticado. Principalmente os mais novos. Há várias tendências: os miúdos entre os 20 e os 25 anos querem fazer viagens para a Ásia. Mochila às costas, três semanas no Sudoeste Asiático. Não procuram tanto praia, procuram conhecer experiências e a cultura. As pessoas mais velhas estão a fazer uma grande combinação de destinos, e a querer misturar praia e cultura. A Tailândia é um bom exemplo, mas verifica-se noutros sítios.

As pessoas não querem só fazer uma coisa.
As pessoas começam a associar a viagem a qualquer coisa que elas também gostam de fazer. Compras, desporto, mergulho, golfe, passeios de elefante, turismo ativo. As luas de mel, continuam a ser dos produtos mais vendidos em Portugal. As pessoas usam a lua de mel para fazer a viagem de sonho delas.

Estamos também a fugir dos destinos mais massificados ou nem por isso?
Ainda não. A Tailândia é um destino de massas, e apesar de estarmos a tentar que as pessoas se desloquem dos sítios mais massificados, elas acabam sempre por procurar muito os locais para onde vai toda a gente. A oferta turística também é maior e os preços são mais baratos. Quando começam a ir para outros sítios não há pacotes tão fáceis de encontrar. Mas já encontro pessoas que dizem que não querem ir para o meio da confusão, que pedem um destino mais calmo.

Os portugueses procuram um serviço mais exclusivo e personalizado?
Sim, as pessoas são cada vez mais exigentes. Hoje em dia pagam mas estão à espera de ter o paraíso.

São menos tolerantes?
Sim. São menos tolerantes, e são menos tolerantes com os aeroportos também.

E por cá? O que é que está a mudar na hotelaria e turismo portugueses?
Nós melhorámos imenso, não há comparação. Estamos nitidamente a ajustar-nos para sermos um dos grandes destinos mundiais. Estamos na moda, quem vem a Portugal adora, sente que é bem-recebido.

Quando é que se deu o boom turístico em Portugal?
À medida que Lisboa foi melhorando em termos de imagem. Nós tornamo-nos numa cidade extremamente cosmopolita, hoje em dia temos vida à noite, concertos, a Baixa foi revitalizada de uma maneira fantástica. Nós não nos lembramos, mas há cinco anos não havia ninguém na Baixa. A Baixa estava morta. A revitalização foi um dos grandes passos que nós demos. A Expo 98 também foi um marco para pôr o País no mapa. Lisboa e Porto estão cidades muito procuradas, e penso que Coimbra e Braga também estão a chegar lá, a seguir o exemplo.

Disseram-me que uma das razões foi porque muitos jornalistas da “Forbes” foram viver para Portugal. Pelo menos nos EUA, isso transformou o turismo."

Estamos na moda.
Eu estive em Nova Iorque em setembro. Contactei uma série de agências de comunicação, e em todas onde entrei — mas todas, sem exceção —, disseram-me: “Portugal está na moda de uma maneira impressionante. Não há uma revista que não tenha um artigo sobre Portugal.”

E porque é que isto acontece?
Eles disseram-me que uma das razões foi porque muitos jornalistas da “Forbes” foram viver para Portugal. Eles tanto vivem em Nova Iorque como em Singapura, é igual. Vocês vivem onde querem. Eles disseram que, pelo menos nos EUA, isso transformou o turismo. E eu senti isso também na forma como fui recebida. Há uns anos, dizer que era portuguesa e ser recebida pelas agências de comunicação de topo… provavelmente nem me abriam a porta. Senti que não só fui muito bem-recebida, como havia entusiasmo para saberem coisas sobre nós. Acabei por fazer uma parceria com uma das maiores agências de Nova Iorque que, pensava eu, nem saberiam que nós éramos.

Isso é impressionante.
Quando era miúda o meu pai vivia em Nova Iorque, por isso eu viajei imenso para lá. Ia todos os anos. Nessa altura era uma confusão, diziam: “Vocês são espanhóis”; ou perguntavam: “Onde é que é Portugal?”. Era muito desagradável. Agora não, toda a gente sabe que estamos na moda, que o Ronaldo é português, já cá vieram ou estão prestes a vir. Percebi como tínhamos evoluído nesta viagem a Nova Iorque. Nunca fui tratada assim. Abriram-me a porta de nove agências de comunicação, e algumas fizeram-me apresentações como se eu fosse a CEO da empresa mais importante da Europa. Isto não acontecia antes, antes era quase um favor.

Da minha experiência, a imprensa internacional contribui para o boom turístico. De repente estava toda a gente a falar de Portugal. É da mesma opinião?
Sim, mas houve outra coisa: as universidades. As nossas universidades estão nos rankings das melhores do mundo, e os miúdos querem vir para cá. Temos um país com um tempo fantástico, com universidades boas, que recebe pessoas de todo o mundo, que tem uma capacidade de falar línguas que não é fácil de encontrar e uma capacidade de relacionamento que é a história da nossa cultura — desde o século XV que o que fazemos é relacionar-nos com outros povos. Este conjunto de coisas estão a fazer com que os mais novos, que são quem faz as modas, queiram vir para Portugal.

E temos sabido adaptar-nos?
Na hotelaria sim, estamos a dar passos muito grandes. Também começamos a ter as cadeias internacionais todas cá, e temos de as acompanhar. Mas por exemplo no Alentejo temos turismos rurais fantásticos, que em qualquer parte do mundo são ótimos. Em termos de operadores turísticos e agentes de viagens, penso que temos um perfil ainda um bocadinho conservador. Mas para lá caminhamos, até porque há uma guerra muito grande com o online.

As agências de viagens têm sabido gerir essa guerra com o online?
As agências de viagens evoluíram e perceberam que vão ter deixar agências de viagens para serem condutores. E esse passo vai fazer com que as pessoas regressem às agências. Quando as coisas não correm bem, no online não há ninguém para ajudar. As agências de viagens também já perceberam que não podem vender viagens que se vendem online. Têm de oferecer mais qualquer coisa.

O que é que as agências de viagens podem dar mais?
Têm de dar serviço, têm de dar experiência, conhecer muito bem os destinos para poderem aconselhar as pessoas. Cada vez mais agências apostam na formação. Acho que estamos a caminhar para uma situação de equilíbrio. Não sou da opinião que as agências vão terminar, acho que estamos a caminhar para os 50/50. Ainda assim, os mais novos continuam a apostar muito no online. Têm pouco dinheiro e acham que o online é mais barato.

Acham? E não é?
Não necessariamente. Os agentes de viagem quando negoceiam, negoceiam condições que lhes permitem ser competitivos com o online. Se considerarmos que online temos de comprar o hotel por um lado, a viagem por outro, táxis… se fizermos a conta no final, se formos a uma agência de viagens compensa. Por exemplo, para a Tailândia as pessoas dificilmente conseguem ir por 800€ se não for através de uma agência de viagens. Se comprarem online, só o voo são mil euros.