Passam poucos minutos das 9 da manhã quando Jeff de Gouveia estaciona o seu Land Rover cor de laranja em frente ao hotel Belmond Reid's Palace, um dos muitos que habitam a zona a que carinhosamente (ou não) dei o nome de Algarve funchalense — os restaurantes, hotéis e turistas fazem-me recordar Portimão. Com um polo vermelho, uns óculos de sol bege e um grande sorriso nos lábios, pergunta-nos qual é o objetivo do artigo.
"Quer ver coisas mais turísticas, menos turísticas?", questiona-me. A resposta é óbvia: não quero ir para o meio da multidão, quero conhecer a verdadeira essência da Madeira. "Bem, se estiver preparada para um caminho sinuoso, posso levá-la àquela que é, para mim, a estrada mais bonita da Madeira". É para isso que cá estou, respondo. Para ver as coisas mais bonitas da Madeira.
Depois de nove dias em Nova Iorque, e ainda com o jet lag em cima, aterrei pouco depois das 21 horas na ilha da Madeira. Na noite anterior tinha deixado uma cidade dominada pelos arranha-céus, pelo frenesim de pessoas e turistas e pelos cafés a seis dólares para um "round two" de férias dedicado a bolo do caco e descanso.
Ou pelo menos era isso que eu pensava — a realidade revelou-se bem diferente, mas já lá vamos. Quero voltar a Jeff de Gouveia e à estrada mais bonita da Madeira.
Jeff nasceu na África do Sul, mas as suas origens são bem madeirenses — os avós eram da ilha, e foi por lá que passou boa parte das suas férias na infância. A ligação à Madeira era tão forte que, há uns anos, decidiu largar tudo para se mudar para aqueles 741 quilómetros quadrados. Foi por aqui que abriu a sua empresa de passeios (pouco) turísticos, a Hit The Road, que convida portugueses e estrangeiros a desbravarem a Madeira de jipe ou a pé.
Eu optei por ir de jipe. E ainda bem, porque subir à estrada mais bonita da Madeira a pé seria um verdadeiro desafio. De jipe também não foi particularmente fácil, mas Jeff sabe bem manusear o seu 4x4. Depois de atravessarmos uma floresta, subirmos a pique pedregulhos (pelo menos foi essa a sensação que nos deu) e de alguns pulos no banco, chegámos ao topo da montanha. E sabem que mais? Jeff tinha toda a razão. Era uma estrada linda, e a mais bonita que descobrimos na Madeira. E esta ninguém me tinha dito que existia.
Depois de nove dias em Nova Iorque, cinco noites na ilha da Madeira pareciam-me a receita perfeita para dar uns passeios por aqui e por ali, comer lapas num qualquer restaurante de esquina e dar uns mergulhos nas praias onde não há areal. Afinal, quantas coisas mais é que teria para ver numa ilha onde a largura máxima Norte-Sul é de apenas 23 quilómetros?
Podem cair em cima de mim, haters, eu mereço os vossos ataques fundados. A verdade é que negligenciei a quantidade de coisas que há para fazer na Madeira, e não demorei muito a perceber isso mesmo. Cada pessoa com quem me cruzava dava-me novas dicas de coisas para ver, fazer ou até comer. De repente, a lista no meu caderno tinha duplicado de tamanho e estava cheia de notas, parênteses e asteriscos.
"As pessoas chegam aqui com a sensação de que não há muito para ver, e depois percebem que estão enganadas", diz-nos uma das rececionistas do Belmond Reid's Palace, um dos hotéis onde estivemos alojadas. "Não é verdade. O meu conselho é sempre o mesmo: tirem um dia para passear e outro para descansar. E não venham apenas cinco dias — é pouco".
Lição aprendida. E porque os (bons) segredos são para ser partilhados, transformei o caderno que enchi de dicas de madeirenses e guias turísticos, neste manual rápido com 70 dicas de coisas imperdíveis para fazer na ilha da Madeira. Das novidades aos clássicos, veja o que é que não pode mesmo perder.