As histórias comuns de alojamentos de turismo rural começam com o sonho de tornar um pequeno refúgio num lugar que possa ser partilhado com outras pessoas. Mas não foi isso que aconteceu na HORTACASA. Apesar de ser também um pequeno refúgio no meio da natureza, foi a partir de uma produção de figos que nasceu este alojamento no Alentejo.

"Tudo começou quando o meu namorado me levou a ver as figueiras, porque eu adoro figos, e deparei-me com figueiras cheias e perguntei-lhe: 'Então, o que é que vais fazer com estes figos?'. Ele disse que 'são os pássaros que comem'. E eu pensei: 'Não. Vamos ter de arranjar aqui algum negócio'", conta à MAGG Mariana, 25 anos, formada em marketing, atualmente gestora de clientes numa empresa que trabalha com fotógrafos profissionais e, claro, apaixonada por figos.

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Basta fazer uma ronda pelos supermercados para perceber que os figos custam um balúrdio, o que, para Mariana (e qualquer um que preze esta fruta) não fazia sentido haver tantos figos nas árvores e serem os pássaros a comer. "Figos é aquele fruto incrível e a falar com outras pessoas percebi que havia interesse em comprá-los", refere.

Mariana e o namorado, Pedro, 29 anos, engenheiro agrónomo, começaram então a vender este fruto há cerca de dois anos e, entretanto, dessa produção passaram para a batata doce e para as nozes. Depois de muitos quilos de figos vendidos e mais umas inovações na terra, nasceu um fruto maior: o alojamento local. Este começou a ser construído durante a quarentena, mais precisamente num dia simbólico: 1 de maio, Dia do Trabalhador.

HORTACASA
créditos: HORTACASA

Pedro, o dono da quinta, continuou a trabalhar durante a quarentena e Mariana esteve em layoff, o que lhe dava mais tempo para se dedicar ao novo projeto que começou a ser planeado após os caseiros que viviam na casa terem saído. "Decidimos fazer uma mudança na casa para transformá-la num alojamento local", conta Mariana.

O que ao início parecia ser uma renovação simples e rápida, acabou por ser mais complicado do que previam. "Achámos que íamos partir uma parede, mudar o chão e tudo aquilo que tínhamos pensado em termos de decoração, mas correu tudo ao contrário porque começamos a descobrir que a casa estava cheia de problemas". É o caso das paredes cheias de humidade e que mal começaram a ser partidas deixavam os tijolos à mostra.

Acabaram por ter de recorrer a um profissional para tratar das questões que exigiam mais técnica, mas tudo o resto teve única e exclusivamente a mão de Pedro e Mariana.

O novo antigo

Após três meses de trabalho a HORTACASA está pronta para receber novas histórias, mas as antigas permanecem. Pelo menos foi o que os proprietários tentaram fazer, uma vez que quase todo o recheio inclui peças antigas que ambos tinham em casa ou que lhes deram, sendo posteriormente restauradas.

"Queríamos uma casa que fosse muito ligada ao campo, que tivesse história, que pudéssemos dizer com orgulho que tinha sido feita por nós. Porque apesar de gostarmos de coisas modernas, temos uma veia rústica. Gostamos de coisas antigas e com um toque especial", destaca Mariana.

A decoração, que lembra séculos passados, remete então para histórias que estão marcadas em cada canto da casa. É o caso do armário que pertencia a um antigo caseiro, ou de uma coleção de chocalhos que já não se encontra e foi deixada por uma pessoa importante para a evolução daquilo que é a quinta hoje em dia.

HORTACASA
Coleção de chocalhos na HORTACASA créditos: HORTACASA

Com quase toda a casa decorada ao jeito antigo, mas restaurado, as únicas novas peças que os proprietários do HORTACASA compraram foi um sofá-cama, a cadeira de baloiço que está na zona que chamam de "leitura", o frigorífico, o lavatório, e a torneira.

Qualquer alojamento quer-se acolhedor, mas também com bom-receber e quanto a isso, Mariana e Pedro não pouparam esforços. "Quero realçar as portadas que deram um trabalhão gigante, mas ficaram incríveis. É o meu maior orgulho nesta casa", refere Mariana.

De portadas prontas e portas abertas, já pode passar uma noite no HORTACASA

O projeto é recente, foi aberto ao público apenas a 7 de agosto, mas as reservas já estão preenchidas até meio de setembro, há algumas para outubro e dezembro, e até para fevereiro do próximo ano.

"Como sou de marketing, fiz questão de fazer toda a análise da concorrência para perceber em que posição no mercado é que nós haveríamos de estar", refere Mariana, acrescentando que os preços atualmente praticados, muito abaixo do que pretendem no futuro, tiveram em conta o facto de a casa ter ficado pronta apenas no início de agosto, o que significou uma competição com outros alojamentos que estão já lotados.

Na HORTACASA cabe uma escapadinha de duas pessoas, ou umas férias de família, uma vez que a casa inserida na quinta em Santiago do Cacém tem um quarto com cama de casal e, na sala, um sofá cama também de casal.

O pequeno-almoço é só o início da estadia e o primeiro, nesta fase de lançamento, é oferecido pela HORTACASA. O mesmo é entregue de manhã à porta da casa e já pode prever as mais diversas iguarias do Alentejo (pelos menos as que cabem numa cesta): duas porções de sumo de laranja natural, pão regional do Alentejo, queijo e fiambre, requeijão da terra, compota, leite, cápsulas de café, e ainda uma grande popia alentejana (biscoito de azeite típico).

HORTACASA
créditos: HORTACASA

Fora o primeiro dia, os hóspedes podem preparar o pequeno-almoço na cozinha equipada do alojamento, recorrendo a produtos regionais comprados localmente, em Santiago do Cacém.

Quem aqui fica tem ainda acesso a toda a quinta — um total de quatro hectares — por onde além dos hóspedes andam pavões, um cavalo, e o Will, o cão pacato já com 12 anos que passa os dias deitado num primeiro degrau da casa.

Falta um pormenor (muito importante) num Alentejo feito de calor intenso: a piscina exclusiva aos hóspedes que reservaram a estadia. Depois de uma tarde de mergulhos, pode ainda fazer um churrasco, disponível para uso dos hóspedes.

HORTACASA
Mariana, Pedro e Bill créditos: HORTACASA

Apesar de se chamar HORTACASA, para já ainda não há atividades programadas para os hóspedes se envolverem com a produção agrícola, mas esse é um dos planos de Mariana e Pedro. Por agora, "é tentar beber um bocadinho da vida do campo, que na cidade não é possível.

Uma noite para duas pessoas custa a partir de 100€.