Enquanto estamos aqui, a bater o dente de frio, em Marraquexe estão uns agradáveis 20ºC. A MAGG visitou recentemente a cidade marroquina a convite da easyJet que, desde 1 de novembro, tem voos diretos a partir de Lisboa.
E é como se, em menos de duas horas, a magia acontecesse: do frio e da chuva, passámos para o calor e sol. Isto tudo num cenário digno de filmes de Hollywood ou, se quiser uma referência mais concreta e atual, a série da Netflix "Inventing Anna" (mas já lá vamos).
Com uma cultura tão diferente e, no entanto, tão próxima da portuguesa (a cidade foi fundada durante a dinastia Almorávida, que governou a parte sul da Península Ibérica), Marraquexe (ou a Cidade Vermelha, devido à cor ocre dos edifícios) é o destino perfeito para uma escapadinha de quatro dias. Os voos partem de Lisboa à sexta-feira e o regresso acontece sempre à segunda-feira. O tempo ideal para conhecer esta cidade cheia de História, cultura, gastronomia, exotismo e o destino perfeito para quem gosta de pechinchas, achados e compras em geral.
1 - Visitar o Jardin Majorelle (e o museu Yves Saint-Laurent)
Começamos pelo Jardin Majorelle porque é onde vai ter de perder mais tempo se quiser tirar "aquela" fotografia perfeita, com as paredes azul-profundo, que contrastam com o verde dos cactos, o amarelo e o vermelho-ocre dos vasos.
A Villa Majorelle foi comprada em 1980 pelo criador francês Yves-Saint Laurent, que ali viveu com o companheiro, Pierre Bergé. A visita à propriedade (que é protagonista de uma das cenas mais icónicas da série da Netflix "Inventing Anna", sobre a burlona Anna Sorokin) inclui também o Museu Pierre Bergé Des Arts Berbères, uma mostra absolutamente fabulosa de artefatos, joias e trajes do povo berbere, e da forma como, aqui, confluíram ao longo dos séculos, crenças cristãs, judias e muçulmanas.
O Museu Yves Saint Laurent, onde estão expostas algumas das criações mais marcantes do designer, está encerrado de 30 de janeiro até 3 de março, para a renovação das exposições, mas se se apressar, ainda consegue ir a tempo de uma visita. O bilhete combinado para os dois espaços custa 300 dirhams (cerca de 27€) e pode ser reservado antecipadamente aqui.
2 - Aprender a fazer tajine no Musée de l’Art Culinaire Marocain
Tajine (ou tagine, embora a forma mais correta, em Marrocos, seja tajine) é, simultaneamente, o nome de um prato e do recipiente onde este é confeccionado. É um estufado onde se misturam vários vegetais, muitas especiarias, os indispensáveis limões em conserva (que conferem um sabor salgado e ácido inesquecível), uma proteína, geralmente frango ou borrego, mas também pode ser feita sem carne.
E como é que sabemos isto tudo? Porque, durante a visita ao Musée de l’Art Culinaire Marocain, pusemos as mãos na massa e, na moderna cozinha do Palácio da Bahia (um magnífico edifício do século XIX, construído em estilo riad), tivemos uma aula de culinária com Bouchra, uma 'dada' (palavra que significa segunda mãe) e chef responsável da escola que também existe no museu.
O espaço, aberto ao público desde abril de 2022, é uma viagem fascinante pela história da gastronomia marroquina, pela forma como sabores vindos do Médio Oriente (e em particular a influência judaica), moldaram o que se come em Marrocos. Além de ficarmos a saber que os caracóis são a street food de eleição por estes lados (onde é que nós já vimos isto?), aprendemos também que não há pai para os marroquinos no que toca a petiscar, dos pickles às tapenades, passando pelas conservas às saladas.
Depois da aula (que incluiu, além do tajine, a preparação de uma deliciosa tapenade de beringela e tomate e da sobremesa, pastilla au lait, um doce feito com finas folhas de massa crocante e um creme de leite, aromatizado com água de flor de laranjeira), pudemos provar os frutos do nosso trabalho no rooftop do museu. O workshop custa 600 dirhams (55€) por pessoa e pode ser marcado aqui. Se museus não forem a sua onda mas não quer passar ao lado da parte mais cultural de Marraquexe, este é o sítio a visitar.
3 - Chegar à praça Djemaa el Fna e ficar só ali, a contemplar
A mesquita Koutoubia, a mais importante da cidade, impõe-se com o seu minarete de 69 metros de altura. Com quase 900 anos, vigia a zona velha de Marraquexe, mantendo-se impávida e serena perante o corrupio de carros, motas, gentes a pé, vendedores, turistas e gente dali, que vai ou vem do trabalho.
Nas suas costas fica a praça Jemaa el-Fna (Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO desde 2008), aquela que conhecemos das fotografias, dos feeds de Instagram, com as suas tendas, vendedores, edifícios vermelho-ocre. Antes de partir para a medina e gastar mais do que devia, contemple em silêncio o ruído da cidade. É estranho, é estrangeiro, é familiar, é mágico.
4 - Fazer compras (e regatear) na medina
O que é, afinal, uma medina? Um aglomerado de construções, rodeado de muralhas. Dentro dos 14 quilómetros das muralhas que circundam a zona histórica de Marraquexe, há um rendilhado de ruas, ruelas, becos, com centenas de lojinhas, bancas e vendedores. O objetivo aqui é mesmo perder-se porque, a não ser que tenha memória fotográfica, o mais certo é nunca voltar pelo caminho por onde entrou.
Andar na medina é seguro, além de ser um regalo para os olhos ver os rituais de regateio, as cores garridas das babuchas, dos tajines, das peças feitas em latão e de mil e uma quinquilharias que ali é possível comprar. O único segredo? Regatear. E nem precisa de saber falar francês porque, aqui, quase todos os comerciantes se safam no espanhol e arranham português.
5 - Andar de balão de ar quente e ver o sol nascer no Atlas
Não é uma experiência acessível, mas é única. Acordar de madrugada, ser levado por uma carrinha para o meio de um descampado, onde uma tenda de inspiração berbere nos recebe com um chá de menta. O prólogo certo para, logo a seguir, e antes que o sol surja atrás das montanhas do Atlas, nos metermos numa cesta e, com a ajuda do ar aquecido pelo fogo, subirmos céu fora.
Os receios de quem tem vertigens (é o nosso caso) são infundados porque tanto a descolagem como a aterragem são suaves. A sensação de leveza, de estar a pairar, só, no ar, compensa qualquer medo que se possa ter. Assim como compensa o delicioso pequeno-almoço que nos espera, já dentro da tenda. A MAGG experimentou o voo de balão de ar quente na Marrakech Dream Balloning, cujo preço por pessoa ronda os 188€ (50% de desconto para crianças abaixo dos 8 anos). Saiba mais aqui.
6 - Tomar o pequeno almoço no Bacha Coffee
Situado no palácio Dar el Bacha, onde também está o Museu das Confluências, o Bacha Coffee (que é também o nome da marca de café, criada em 1910) abriu recentemente, depois de mais de 60 anos encerrado. Além de ser o sítio certo para aquelas fotos memoráveis para o Instagram (mas também, que sítio em Marraquexe é que não é), tem uma oferta única de cafés 100% arabica, com ou sem sabores, para acompanharem um pequeno-almoço luxuoso e decadente.
7 - Visitar um hammam e sair de lá completamente revigorado
Hammam, ou banho turco, é, ao mesmo tempo, o nome do espaço e do ritual. Uma sala com vapor, onde se entra para estar, só, ou que pode ser acompanhada de uma massagem, esfoliação e banho. Tivemos a oportunidade de experimentar o hammam et gommage au savon noir (ou seja, o banho turco, juntamente com a massagem e esfoliação com sabão preto), seguido de um banho - literalmente um banho, com direito a lavagem de cabelo e tudo - dado pela terapeuta, no O-Spa do Kenzi Menara Palace, o hotel onde ficámos alojados. A experiência dura 30 minutos e custa 340 dihrams (31€).
8 - Almoçar no restaurante mais instagramável de Marraquexe
Situado no coração da medina, vale a pena perder-se nas ruas estreitas até, finalmente, encontrar Les Jardins du Lotus. O restaurante (com um impressionante espaço ao ar livre), era uma antiga guest house que foi toda remodelada para receber este restaurante que casa a decoração tradicional marroquina com toques de modernidade. Brunch, almoço, jantar, ou só beber um copo à noite, difícil é sair dali sem ter tirado 50 fotografias, feito 150 stories e comido as deliciosas criações da chef mexicano-canadiana Clarisse Jolicoeur. Uma dica útil: não saiam sem comer os churros.
E ainda... mais 5 dicas úteis
Não queríamos recorrer aos clichés mas… cada um é como cada qual. Há quem viaje para rebentar com a memória do telemóvel com fotos, há quem adore fazer compras e há quem goste só de passear sem destino. Da nossa curta passagem por Marraquexe, tirámos algumas ilações, que poderão ser úteis no planeamento de uma visita.
- Trocámos euros por dirhams marroquinos em Marraquexe, numa pequena loja de câmbio situada perto da praça Djemaa el Fna. Há várias espalhadas pela cidade, é preciso estar atento às taxas e escolher a mais vantajosa. O processo é rápido, seguro e evita que regresse com moeda local que não vai usar (1 euro são cerca de 11 dirhams).
- Compras na medina? Sim, mas não de tudo. Vale a pena passar algum tempo a regatear as famosas babuchas, peças de roupa mais elaboradas, objetos decorativos e tajines de barro. Especiarias, frutos secos, e produtos como água de flor de laranjeira e o famoso óleo de argão, conhecido pelas suas propriedades hidratantes? Não.
- Pode parecer uma dica prosaica, mas recomendamos vivamente uma ida a um supermercado. Para comprar especiarias, limões em conserva (um essencial da culinária marroquina), água de flor de laranjeira (muito usada nos doces locais), óleo de argão ou só mesmo para ver o que compram as pessoas que ali vivem.
- Comer o mais tradicional possível. Além das tajines (com frango, com borrego…), a gastronomia local é não só parecida com a ibérica como absolutamente deliciosa. Ficámos fãs de algumas iguarias locais servidas ao pequeno-almoço, como hssoua belboula (papas de cevada com leite, semelhantes às de aveia mas, aqui entre nós, melhores), msemen (um pão achatado feito numa frigideira, que fica divinal quando mergulhado numa mistura de azeite e mel) e sumo natural de romã, espremida no momento (tal como se faz com laranjas). Além do indispensável chá de menta que, mesmo bebido a ferver, refresca (peça sem açúcar, a não ser que goste de bebidas insuportavelmente doces).
- Marraquexe, além de limpa e organizada, é uma cidade segura (e ainda bastante acessível). O único senão é a falta de uma rede de transportes públicos em condições. O ideal é deslocar-se de táxi, não só porque são bastante baratos mas também porque a cidade não é gigantesca (além de ser plana). Ah, e andar a pé, sempre.
Um voo de ida e volta Lisboa-Marraquexe, de acordo com simulação feita no site da easyJet para o fim de semana de 20 a 23 de janeiro, custa 95,51€ por pessoa (sem bagagem de porão).
* A MAGG visitou Marraquexe a convite da easyJet