Quando um local nos marca, queremos que seja recordado, que corra as bocas do mundo, que todos sintam a mesma plenitude dos momentos que lá passámos. Foi assim que nos chegou a Quinta da Pousada, em Pousada, Cumieira, Santa Marta de Penaguião, através de uma leitora da MAGG que passou por este alojamento de turismo rural no distrito de Vila Real, com o Douro à espreita.
"Um lugar especial, enigmático, onde reina a paz e tranquilidade em pleno estado de natureza. Quando se entra no portão da Quinta, como por magia desaparece o trabalho, o stresse e apenas se vibra uma energia serena, onde podemos explorar os cinco sentidos", descreve Maria Alves à MAGG.
A hóspede, que visitou a Quinta da Pousada em julho, aproveitou a quinta no seu todo, e isso incluiu os vinhos e a gastronomia da região também alojados na propriedade. "Ótimo vinho que dignifica a região Douro e a comida divinal", continua. Fomos saber mais sobre a oferta gastronómica desta propriedade adquirida em 2014 e alvo de um renovação e acabámos por descobrir que há muito mais, principalmente história.
"Começámos o projeto de revitalização sempre com um objetivo: manter a identidade da quinta, manter a história e transportá-la até aos dias de hoje e fazer com que surgisse um projeto de turismo em que a mais valia fosse a sustentabilidade aliada a uma história. E é esse o nosso grande trunfo", conta-nos António Silva, engenheiro agrónomo e proprietário da Quinta da Pousada. Aqui conta-se a história da quinta, da atividade vinícola representada nas vinhas centenárias e numa das provas de destaque que fazem parte das experiências da casa, e ainda outra que ainda hoje é contada aos hóspedes quando aqui chegam: a lenda da moura encantada.
"Viemos a descobrir, através de um historiador que trabalhou no nosso projeto, que, noutros tempos, a Quinta da Pousada era alvo de muitas visitas, mesmo sendo uma propriedade privada", começa por contar António Silva. Os curiosos, que vinham dos arredores, procuravam "apreciar em noites de lua cheia a parte mais baixa da quinta, junto ao rio Arcadela ou Aguilhão, e tentar avistar a moura encantada, uma figura feminina avistada junto ao rio a pentear os longos cabelos negros", diz o proprietário da quinta, assegurando que os hóspedes ficam sempre curiosos por saber mais sobre esta lenda.
Quem aqui chega não é recebido apenas com a lenda e simpatia do staff. "Temos vários gatinhos, um que é permanente na receção, o Vin, que está sempre aqui em cima do balcão", conta António a propósito da passagem de uma blogger holandesa pelo alojamento que posteriormente falou do gato no texto sobre a experiência. Depois da partilha, a procura de holandeses disparou e todos vêm não só para conferir se é tudo tão maravilhoso como a blogger descreveu, como para conferir se o Vin existe mesmo.
Experiências do copo ao quarto
Uma vez no Douro, este alojamento de turismo rural só podia estar ligado ao vinho. Tudo começa na receção na qual está um cincho, um elemento com história e tradição usado durante décadas para prensagem de vinho, e vai até à experiência de enoturismo que se destaca na Quinta da Pousada.
"Há a oportunidade de degustar um vinho no sítio onde esse foi pisado, em 1959", refere o proprietário do alojamento. A prova de vinho decorre em pirâmide, isto é, a degustação é feita por ordem ascendente de lote. A experiência começa por um vinho mais jovem, de 1980, por exemplo, e sobe até 1959. A prova (25€ por pessoa) inclui ainda visita à quinta, às vinhas, e alguns produtos feitos na própria quinta, como as compotas caseiras feitas com fruta da horta.
Sim, é que aqui não há apenas vinhas. Há também uma horta com legumes e frutas cuja produção vai diretamente para a mesa do pequeno-almoço, servido na sala onde antes funcionava um lagar, atualmente composto por frutas da época, como figos, ameixas e pêssegos. Também as laranjas são espremidas para o sumo da manhã, que acompanha o pão feito no forno da própria quinta, ao qual é adicionado frutos secos ou outros ingredientes para o tornar diferente. Sendo a sustentabilidade um dos objetivos que nasceu com a Quinta da Pousada, uma vez ligado o forno para cozer o pão, é aproveitada "a biomassa que foi gasta para cozer um bolo, uma bola, aproveita-se toda essa sinergia", refere António.
Quanto ao almoço e ao jantar, existe uma ementa diária cujos pratos podem ser feitos a pedido (e incluem pratos vegan) e servidos no mesmo lagar antigo.
Passando aos quartos, além daqueles que têm casa de banho privativa e varanda, ou da Casa Caseiro, com cozinha equipada, existe um que foi feito para estadias com tempo. "No quarto lagar, a pessoa acaba por ter uma experiência e eu costumo dizer: se o objetivo é ir à Quinta da Pousada unicamente para dormir, porque está com pressa, se calhar não é o melhor sítio", recomenda António Silva e justifica com o facto de este tipo de hóspede não ter tempo para usufruir do que está à disposição.
"Todos os quartos estão ligados ao vinho, mas no lagar a pessoa tem a experiência de dormir dentro do lagar. O quarto não tem candeeiros, todas as paredes são em xisto e a iluminação, oriunda de um teto suspenso, desce pelas paredes de xisto. Ainda existe, no meio do lagar, o fuso onde era prensado o resto das películas", refere. Até a casa de banho é particular neste quarto. "É sui generis. Não tem teto, é em vidro. Ou seja, a pessoa está a tomar banho como se estivesse ao ar livre", explica o proprietário — e nós ficamos com vontade de conhecer.
Para o fazer terá de passar pelo menos uma noite que, para duas pessoas, custa a partir de 125€ (tarifa época alta).