Está na altura de pensar em viagens mais curtas para fazer durante o outono e inverno. Temos tendência para pensar logo nos destinos a visitar de avião e somos levados a procurar as datas mais baratas na plataforma Google Flights ou no grupo de Facebook Viagens e Baratas (o Olimpo dos viajantes).
Na equação nem sempre colocamos uma viagem de carro, mas neste caso é uma opção a considerar porque funciona como um dois em um: visitar dois países ao mesmo tempo. Portugal tem a vantagem de fazer fronteira com Espanha e é isso mesmo que sugerimos: um roteiro entre os dois países pelas cidades próximas da fronteira.
Dormir, comer e passear pelos locais mais bonitos e históricos é o mote deste roteiro, que é mais fácil de percorrer pelo facto de as línguas serem semelhantes. Pode até não falar espanhol, mas de certo sabe puxar pelo portunhol que os espanhóis entendem quando é hora de pedir uma qualquer tapa.
Tenha atenção com o que pede ao pequeno-almoço, porque mesmo um croissant pode vir regado com azeite em vez de manteiga e se quiser fiambre vai ter de pedir especificamente, caso contrário é presunto que lhe é servido logo de manhã.
De Valença e Vigo a Vila Real de Santo António e Ayamonte, juntámos o melhor de dois países num só roteiro.
1. Valença/Vigo
Dormir
Em Valença há um alojamento local que é dos segredos mais bem guardados da região. A Quinta do Caminho, classificada com 8,9 na plataforma Booking, transmite tranquilidade só de olhar para as fotografias. O primeiro impacto são as árvores por toda a parte, o sofá de rede e ainda a piscina exterior para aproveitar os últimos mergulhos deste ano.
E isto é só na parte de fora. Quando espreitamos para dentro é quando se descobre a banheira larga virada para a vegetação em redor da casa e o jacuzzi no meio do quarto. A natureza domina este espaço e se tudo isto é tentador, o preço é o convite que faltava para marca a estadia: custa desde 47€ para duas pessoas em setembro, num quarto com terraço.
Uma noite em Valença, outra em Vigo, desta vez no Hotel Pazo Los Escudos Spa & Beach. O hotel parece um castelo e a experiência será semelhante à de um rei ou rainha, com todos os luxos mesmo à mão. Um deles é a banheira de hidromassagem na casa de banho de mármore, já para não falar dos quartos que têm vista para os jardins exuberantes da unidade.
O hotel dá acesso direto à praia de Carril, mas também pode ficar apenas a usufruir da piscina ou ficar no café do Pazo, com vista para as ilhas Cíes. O Hotel Pazo Los Escudos Spa & Beach tem programas especiais de estadia, como a escapadinha relax (desde 145€ por noite) e a escapadinha romântica (desde 150€ por noite). Fora dos programas, uma noite em setembro custa desde 152,16€ para duas pessoas.
Visitar
A melhor forma de visitar Valença é a pé e nada como aproveitar os três trilhos pedestres requalificados para o fazer. São eles o trilho da Veiga da Mira, da Insua do Crasto e de Mosteiró que correspondem a um total de 31 quilómetros entre o rio Minho, o património edificado e, no caso do trilho de Mosteiró, entre cascatas e velhos moinhos ao longo do ribeiro Mira.
Outro dos pontos de destaque em Valença, e pelo qual passará se fizer o trilho da Veiga da Mira, é o Biótipo da Veiga da Mira, reserva de avifauna e flora das mais importantes da bacia do rio Minho. Passe também pelo passadiço do Conguedo Verdoejo, no espelho de água da lagoa do rio Novo e nos Portões dos Crastos, em Friestas, cuja lenda diz que, em tempos, qualquer condenado que conseguisse chegar junto do Portal da Quinta de Crasto ficaria livre da sua pena.
Já em Vigo, há propostas para todos os tipos de viajantes. Para famílias, é sugerido pelo Turismo de Vigo um passeio fluvial de Vigo até às praias através da chamada Rota Azul. A dois, uma ida ao Teatro Afundación Vigo para ver um dos espetáculos de ópera, música clássica, teatro ou ballet, um programa romântico que ao mesmo tempo permite conhecer o teatro inaugurado em 1984. Solteiros ou mochileiros, o ideal será as aulas de vela em Vigo ou percorrer o Caminho de Santiago por Vigo.
Comer
Valença tem uma série de restaurantes que mostram o melhor da gastronomia típica, entre eles o Fonte d’Ouro (251 839 393), com pratos como bife com queijo da Serra e presunto, chocos com tinta ou risotto de cogumelos secos. Já no Teresinha (251 823 573) há desde espetadas com ananás grelhado a arroz de marisco.
Se é para comer em Vigo, então não pode sair sem provar algumas das iguarias mais marcantes, como as empanadas de vieiras, o polvo à feira, o tamboril à galega e o choco com tinta. Vai encontrar as empanadas no El Mosquito, na Plaza Pedra, e custam 15€. Na ementa há também arroz de tamboril do mercado (40€ para duas pessoas) e cordeiro assado no forno cozinhado durante 12 horas (27€). Com preços mais em conta, o De Tapa en Cepa, com sável de Airas Moniz (5,20€), pão bao de bochechas de porco ibérico (8,20€), croquetes de presunto (6,80€) e crème brûlée de maracujá para terminar (4,60€).
2. Vilar Formoso/Cidade Rodrigo
Dormir
A vila de Vilar Formoso não é rica em ofertas de alojamento, por isso tivemos de distanciar-nos um pouco mais do centro até encontrar a Casa Da Cidadela, no Largo Do Corro, Castelo Mendo, uma casa típica e acolhedora para uns dias entre cá e lá. A casa histórica fica junto à igreja de S. Pedro do século XIX e ao pelourinho do século XVI e as próprias paredes remetem para as construções do passado. São de pedra e numa delas sobressai uma lareira para aconchegar nos dias mais frios. À noite, o exterior da casa ilumina-se com pequenas luzes que tornam a estadia ainda mais especial. Ficar a dormir custa a partir de 118€ para o mínimo de duas noites para duas pessoas, com pequeno-almoço incluído.
Depois de uma casa de alojamento rural, eis um hotel de requinte e algo antigo que reflete o modo como surgiu. O Hotel Conde Rodrigo I resulta da reabilitação de uma moradia do século XVI e os quartos estão decorados com mobiliário clássico espanhol. Fora o local onde vai poder fazer o seu sono de beleza, a pele vai também ficar radiante com a gastronomia local que se serve no restaurante do hotel ou no Gastro Bar Entrecopas, com snacks, cocktails ou cappuccinos. Uma noite para duas pessoas custa a partir de 52€, com pequeno-almoço incluído.
Visitar
Caso apanhe o comboio para esta viagem, o primeiro ponto que deve visitar está garantido: a Estação Ferroviária de Vilar Formoso, construída no século XIX, cheia de histórias em redor graças ao silhar de azulejos que representam monumentos, paisagens e motivos etnográficos de todo o País, pintados pelo aguarelista João Alves de Sá. Não peça logo o táxi para ir para o centro da vila, porque antes de seguir vai ter de conhecer o museu Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes, dedicado à passagem dos refugiados por Portugal, durante a Segunda Grande Guerra. Só depois pode conhecer o resto, como a igreja de São João Baptista, do tempo dos Templários.
Já Cidade Rodrigo é como uma espécie de Óbidos espanhola. A cidade é marcada pela muralha medieval erigida no século XII, durante o reinado de Fernando II, e dentro e fora da muralha há muito para ver: o Palácio dos Castro, a Catedral de Santa María, a Serra de Gata e as vistas de La Alberca e do Vale das Batuecas. Se precisar de orientação, pode sempre fazer uma visita guiada com a guia Maria Antonia Cid, que vai mostrar a história e os monumentos, contar as lendas da cidade e pode ainda fazer visitas temáticas.
Comer
Um restaurante com uma ementa só de bacalhaus? Existe em Vilar Formoso e chama-se Quinta do Prado Verde. Também realiza grandes eventos, como casamentos, mas não precisa de ter um anel no dedo para visitar o espaço requintado, com jardins em redor. Basta ter fome e gostar da gastronomia portuguesa, em especial do bacalhau.
A carta dedica uma parte apenas às especialidades feitas com este peixe, entre as quais está o bacalhau à Quinta do Prado, recheado com presunto (13€), o bacalhau à Fronteira da Paz, com cebolada vermelha, queijo da serra e broa (13,50€) e o bacalhau com cogumelos e gambas salteadas (13,50€). O peixe é rei neste restaurante, dado que nas opções há também arroz de tamboril (28€ para duas pessoas) e filete de perca grelhado (12€). Provavelmente não haverá espaço para sobremesa, porque, além dos principais, vai ter de dar primazia à entrada de morcela com maçã caramelizada (8,50€).
Verão ou não, ir ao restaurante La Canóniga e não comer um gaspacho é quase o equivalente a ir a Roma e não ver o Papa. É leve, logo, bom para começar e agrada aos que gostam do gaspacho tradicional (7€) e dos que estão abertos a novas aventuras, como o gaspacho de melão (7€) — ambos feitos com ingredientes da horta. Depois disto, atire-se a uma das especialidades, entre elas a morcela de arroz La Canóniga (10€), ovos de galinhas criadas ao ar livre, com farinheira e presunto (9€) e o tártaro de tomate com burrata fresca (11€). Se tiver saudades de casa, remate com uma serradura portuguesa (4€).
3. Vila Real de Santo António/Ayamonte
Dormir
Se foi de férias este ano para Vila Real de Santo António e não passou a fronteira para ir até Espanha, então tem de repetir a viagem, desta vez aproveitando as nossas sugestões. Começando pela estadia, sugerimos ficar na Pousada Vila Real de Santo António, que abriu portas a 1 de julho. É um charming hotel, com três piscinas, uma delas localizada no rooftop do edifício principal. O hotel tem ainda um pátio ao estilo de um Riad marroquino para aquecer com os últimos raios de sol, acompanhados de uma degustação de petiscos da região (14€). Uma noite para duas pessoas custa a partir de 113€, com pequeno-almoço incluído.
Do lado de lá da fronteira, mais precisamente em Ayamonte, há um lugar onde de uma só vez tem descanso e gastronomia local para dar início à rota pelos sabores espanhóis. Já vamos aprofundar o assunto, para já dedicamo-nos a conhecer o Parador de Ayamonte, sem perder de vista Portugal — deste hotel vê o rio Guadiana e o Algarve. O hotel inclui piscina e um restaurante com sabores locais, como guisado tradicional de choco com tinta (16€).
Visitar
Para conhecer Vila Real de Santo António, tem de começar no centro e ir até aos recantos mais exclusivos do concelho. A primeira paragem a fazer deve ser então o centro histórico, começando pela Praça Marquês de Pombal, no coração da vila, onde fica a igreja e a Câmara Municipal, e seguir pela Avenida da República até às margens do rio Guadiana.
Depois de ver os pontos principais do centro, vá até Cacela Velha, um dos lugares mais únicos do Algarve pela autenticidade da aldeia piscatória que vale a pena visitar pelo "magnífico miradouro sobre o mar e de vastos areais da Ria Formosa", convence (e bem) o Turismo de Portugal. Precisa de mais razões? Ora mais uma: as praias com extensos areais em Manta Rota, Monte Gordo e Santo António.
Tal como Cacela Velha, também Ayamonte, nas margens do rio Guadiana, é marcada pela atividade dos pescadores. A pesca mantém-se e serve-se à mesa dos restaurantes locais, mas há outros motivos para visitar o município. Um deles é o Parador de Turismo, com vista panorâmica sobre Ayamonte e sobre a foz do rio Guadiana, as igrejas de Nuestra Señora de las Angustias e de San Francisco, e as as praias Canela e Moral. Se procura experiências, há desde as mais relaxantes, como espetáculo de flamenco "Vive Ayamonte", com a tapas (29€), ao jet ski na ilha Canela, no sul de Ayamonte (135€).
Comer
Para algo mais tradicional, a Taberna Remexida é indicada para pratos simples e com todos os sabores algarvios, desde as entradas às sobremesas. Para começar, a tiborna transumante, gratinada com queijo de cabra atabafado, amêndoas e mel (6€) é só para abrir o apetite, porque o que se segue é em bom e passa um pouco por toda a região. Falamos, por exemplo, da opção Algarvia da secção Viajar No Palato, que traz carapaus alimados, muxama, estupeta, queijo fresco de cabra, biqueirão em vinagre, batata doce, salada da horta e amêndoas (35€), ou da bucha (30€), com coisas como chouriço aquecido com mel e aromatizado com alecrim e balsâmico e torresmo de porco preto de Alcoutim. Agora, a parte mais difícil de escolher: as sobremesas. Alguém é capaz de decidir entre bolo de amêndoa, com doce de Albricoque (4€) e bolo de Almece (4€)? Nós não.
Quando parar em Ayamonte para comer, tem de ir à Casa Silveira. Tem no menu atum encebolado nos peixes e um churrasco de carnes ibéricas entre as carnes. Para sobremesa, uma tarte de queijo e não se fala mais nisso. Se for ao almoço, ainda pode optar pelo menu do dia, com entrada, prato, sobremesa e bebida, por apenas 7,50€.