O contacto com a natureza, o campo e o ar puro são pormenores cada vez mais procurados quando o assunto é fugir à rotina. Mas e se além de dormir numa tenda glamping ou de fazer um trilho pela floresta, for, literalmente, "meter as mãos na terra"? É isso mesmo que pode fazer ao ficar alojado nas Casas do Bairrinho, localizadas na vertente sul da serra de Bornes, na aldeia Sambade, em Trás-os-Montes.
É que agora que a estação faz nascer na terra cogumelos e rechear os ouriços de castanhas, é preciso alguém que os recolha e os hóspedes são as mãos e a boca perfeita para fazer esse trabalho (já que depois de apanhadas as estrelas do outono, podem usá-las nos cozinhados dentro da própria casa com cozinha equipada em que ficarem instalados).
O projeto das Casas do Bairrinho nasceu em 2012, na altura com menos casas, uma vez que a pouco e pouco os proprietários, Maria Alzira Vaz, de 68 anos, e o filho Filipe Oliveira, de 36, foram recuperando imóveis antigos da típica aldeia transmontana de Sambade. Atualmente são já cinco casas — a Casa do Cabo, a Casa do Canto, a Casa do Forno, a Casa Pequena e ainda a Casa do Largo, em pleno coração da aldeia —, e várias memórias que as marcam por dentro e por fora, acabando até por formar "uma aldeia dentro de uma aldeia", diz à MAGG a responsável pela comunicação do alojamento rural.
Já os proprietários, mãe e filho, descrevem as Casas do Bairrinho como espaços que "fazem jus à afamada hospitalidade transmontana onde estão presentes os produtos locais, típicos e de qualidade", isto já para não falar da proximidade aos costumes, tradições e gentes da terra — como é o caso de Maria Alzira (mais conhecida, carinhosamente, por Dona Alzira).
Uma castanha na mão e um cogumelo na outra
Das tradições do Nordeste Transmontano fazem parte a apanha das iguarias da região que começam a cobrir as florestas e serras no outono. É por essa razão que a Rota da Castanha e do Cogumelo Silvestre vai marcar o programa das Casas do Bairrinho — com passeios em família, visita a soutos milenares e participação na tradicional apanha da castanha — até ao fim de novembro. Mas como é que isto se vai processar?
"Na apanha das castanhas o acompanhamento é feito pela proprietária do souto e na apanha dos cogumelos o acompanhamento é feito por alguém com conhecimento em micologia. Os cogumelos venenosos, que também existem, são facilmente identificados, não constituindo qualquer perigo", explicam à MAGG Filipe Oliveira e Maria Alzira Vaz, natural de Sambade, que pelo caminho na apanha da castanha vai desvendando uma panóplia de saberes, e até lendas, da aldeia transmontana.
Já se pode imaginar de cesta de vime na mão em direção a trilhos florestais para recolher castanhas para assar mais tarde ou boletos, sanchas, míscaros e outros cogumelos silvestres — que vão bem num risotto ou num dos pratos da região, cujas receitas podem ser cedidas por Dona Alzira.
Não é só trabalhar. Também há espaço para o descanso
Depois de um dia de campo e um jantar com produtos locais (recolhidos pelas suas próprias mãos), é hora de descansar numa das cinco unidades deste turismo rural na aldeia transmontana de Sambade. Quatro delas ficam juntinhas (não o suficiente para comprometer o devido distanciamento social) e têm duas piscinas que os hóspedes podem usufruir.
Junto à Casa do Cabo e à Casa do Forno tem vista privilegiada para as encostas do rio Sabor, Terras de Mogadouro, Alfândega da Fé, Torre de Moncorvo, Vila Flor e Vila Nova de Foz Côa.
É também neste ambiente que vai poder aconchegar-se com o pequeno-almoço composto por produtos da região e "na medida do possível, por produtos de origem caseira", revelam os proprietários à MAGG. Conte, por isso, com pão, queijo, mel e compotas, e as bebidas habituais: chá, leite, café, ou sumos. Mas a mesa não fica por aqui.
"Há sempre o 'miminho do dia', confecionado na hora, uma surpresa feita de amor, dedicação e com sabores e 'saberes de antanho' [expressão típica da região que significa outrora]", revelam Maria Alzira e Filipe.
Para descobrir que miminhos são estes, terá de reservar a estadia nas Casas do Bairrinho, que custa entre 70€ a 110€ por noite (consoante a tipologia da casa e número de hóspedes). Além de pequeno-almoço, inclui a colheita das castanhas e a possibilidade de cada um apanhar para si. Já a apanha dos cogumelos custa 10€ por pessoa.