Do dia para a noite, uma palavra comprida e que já sabemos pronunciar pode atrapalhar os planos de viagem. Denomina-se de Sars-CoV-2 e é o vírus que dá origem à COVID-19, essa doença que desde 2020 está presente no dia a dia desde o 'não te esqueças da máscara quando saíres', passando pelos números assustadores de mortos e infetados por todo o mundo, às viagens canceladas porque as fronteiras fecharam.
Chegou a perder algumas centenas de euros ou a acumular vouchers no ano passado? Não foi o único. Será que alguma coisa mudou? Fomos perceber como é que as agências de viagens se adaptaram para contornar os imprevistos causados pela COVID-19.
Que seguros fazem agora parte dos pacotes de viagens? Quais as políticas de cancelamento caso, por exemplo, as fronteiras fechem noutro país? Será que os seguros cobrem custos de cuidados hospitalares no estrangeiro por infeção com COVID-19? Fizemos uma série de questões a quatro agências de viagens com diversos conceitos — desde a conhecida agência Abreu até às viagens de sonho (e de aventura) da LEVA-ME, de João Cajuda.
No caso desta última, os seguros não estão sempre garantidos e há uma razão para isso. "No nosso modelo de agência não faz sentido termos o seguro de viagem incluído, uma vez que temos viajantes de várias nacionalidades e países. Dado que os valores dos seguros variam muito consoante o país de residência do viajante, iriam por essa razão alterar constantemente o valor dos pacotes", explica o blogger de viagens e guia da LEVA-ME à MAGG.
A agência dedica-se a vender pacotes de experiências, no entanto é obrigatório ter seguro para viajar, e João Cajuda refere que podem recomendar alguns, mas "continuará a ser o viajante a ter a liberdade de escolher a seguradora e o seguro que mais lhe interessa".
Já na Top Atlântico, por exemplo, "todos os programas construídos pela agência incluem seguro, assim como os pacotes de Operadores Turísticos", revela a agência de viagens, cujo modelo de seguros é semelhante ao da agência Abreu.
A COVID-19 está incluída nos seguros de viagens?
(Quase) sempre. Dizemos quase porque, como vimos atrás, o caso da LEVA-ME é ligeiramente diferente. Quanto às restantes agências, analisemos caso a caso.
Em grandes agências de viagens, como a agência Abreu e a Top Atlântico, além de a programação própria prever seguro, este está sempre incluído não só porque é fundamental, como obrigatório. "Sempre que há reserva com mais do que um serviço (por exemplo, de uma estadia mais transfer ou de estadia mais avião) é obrigatório, por lei, incluir seguro", esclarece o diretor de vendas e marketing da agência Abreu, Pedro Quintela.
No caso da Abreu, existem dois tipos de seguros, o Multiviagens e um outro de nome comprido para ficar bem claro o que abrange: Seguro de Assistência Após Viagem Iniciada e Cancelamento Antecipado de Viagem e Perturbação Por Motivo de Força Maior. No caso do primeiro, a COVID-19 já foi adicionada aos imprevistos. "Abrange o cancelamento antecipado da viagem; gastos irrecuperáveis decorrentes da interrupção da viagem; o regresso antecipado do segurado por impedimento de entrada no destino; despesas médicas cirúrgicas e de hospitalização, entre outros", enumera Pedro Quintela.
Já na Top Atlântico, a COVID-19 está prevista nos seguros base de assistência que assentam no pré e pós-viagem. Inclui despesas médicas, farmacêuticas e de hospitalização em caso de infeção com COVID-19 (até aos limites dos capitais indicados para o tipo de seguro subscrito), repatriamento ou transporte sanitário de feridos ou doentes e vigilância médica e transporte ou repatriamento após morte — ambos em caso de contaminação por COVID-19.
Em reservas isoladas, apenas de alojamento, por exemplo, ambas as agências dispõem de um leque de seguros (incluindo de proteção à COVID-19) que podem ser adicionados à compra.
E o que acontece na LEVA-ME ou na Viagens e Baratas Portugal, a recente agência de viagens com origem num grupo de Facebook? Na LEVA-ME, apenas as viagens para os arquipélagos da Madeira e dos Açores incluem seguro da seguradora IATI, que tem cobertura de COVID-19, revela João Cajuda.
Quanto às viagens (baratas) da Viagens e Baratas Portugal, os programas têm seguros básicos e foi criado, por força da pandemia, um seguro-extra de proteção COVID-19 que pode ser adquirido à parte. "Permite o reembolso do valor da viagem caso a pessoa não possa viajar porque testou positivo à COVID-19, permite reembolsos de despesas associadas ao prolongamento da permanência no destino por COVID-19 positivo (saúde, estadia), etc", refere Patrícia Damas, uma das fundadoras do grupo de Facebook e da agência de viagens.
O que acontece se as fronteiras fecharem noutro país?
Primeiro, o mais importante é não entrar em pânico. Quer ver como pode ir tranquilo? "Os serviços de uma agência de viagens só terminam quando o cliente regressa à sua origem pelo que, e apesar do definido por lei, é prestado todo o apoio para assegurar que se encontram alternativas ou soluções para garantir o regresso do viajante", refere a Top Atlântico.
A agência explica ainda que no caso de viagens organizadas, a lei diz que "a agência é responsável por assegurar os custos de alojamento, se necessário, por um período não superior a três noites" e ainda por passar ao passageiro todas as informações sobre serviços de saúde, autoridades locais e assistência consular no destino.
Do mesmo modo age a agência Abreu, cujo seguro multiviagens já cobre este imprevisto. "De resto, a nossa equipa de assistência permanente, cuidará sempre de encontrar a melhor solução para repatriar o passageiro", sublinha o diretor de vendas e marketing da agência Abreu, Pedro Quintela.
Quanto à agência Viagens e Baratas Portugal, antes sequer de pensar como atuar se as fronteiras fecharem, a equipa — composta por Patrícia Damas, Silvino Prata e Mariana Mateus — analisa que destinos correm o risco de fechar. "Sendo a nossa máxima premissa o bem-estar dos viajantes que confiam em nós, é importante ressalvar que há destinos para os quais não estamos a vender viagens neste momento por considerarmos as condições do mesmo bastante instáveis ou não controladas do ponto de vista pandémico", diz Patrícia.
Por agora, a agência tem pacotes de viagens no estrangeiro para destinos como Punta Cana, Maldivas, Malta, Dubai, ilha do Sal em Cabo Verde e Sevilha e ainda outros para as ilhas dos Açores e Madeira. A pandemia acabou por encarecer as viagens, que sempre se caracterizaram por serem baratas, não só porque exige um seguro-extra para a COVID-19, como porque para viajar para muitos destinos é exigido apresentar teste negativo à COVID-19 na aterragem e outro para regressar a Portugal, o que significa um custo adicional de cerca de 200€ (exceto para os Açores e Madeira, que asseguram os custos dos testes à COVID-19).
"Ainda assim, para quem viaja, é connosco que vai encontrar os melhores pacotes de viagem e a um preço imbatível", assegura Patrícia Damas. "Falamos de pacotes para Palma de Maiorca a 350€ com tudo incluído ou Malta a 280€ com meia-pensão. Falamos de Maldivas por 1575€ ou Punta Cana a menos de 800€". Outras oportunidades de última hora são partilhadas pela agência no recente chat da rede social Telegram.
Apesar de a agência LEVA-ME não integrar seguro nos programas, garante o apoio necessário (apesar de todos os viajantes estarem abrangidos por seguro individual). "Obviamente daremos orientação no que nos for possível, seja na procura de um alojamento para o viajante se isolar, seja na procura de assistência médica caso necessite, seguindo as orientações da seguradora a que o viajante comprou o seguro. Alertamos sempre o viajante para esta situação, devendo este estar ciente e preparado para essa eventualidade", alerta João Cajuda.
Políticas de cancelamento
Ter garantias quanto ao possível cancelamento de uma viagem é uma das principais preocupações atualmente, visto que a imprevisibilidade de não poder embarcar a poucas horas das viagem é grande. O seguro base multiviagens da agência Abreu abrange o cancelamento antecipado da viagem, situação que também está prevista no Seguro de Assistência Após Viagem Iniciada e Cancelamento Antecipado de Viagem e Perturbação Por Motivo de Força Maior.
Também o seguro de viagem da Top Atlântico, que abrange a COVID-19, prevê a necessidade de cancelamento antecipado antes do início da viagem ou redução da viagem (inclui voo de regresso antecipado) incluindo em caso de contaminação por COVID-19.
Por fim, a Viagens e Baratas Portugal reforça que em caso de as fronteiras fecharem noutro país "não há nenhum seguro no mercado que permita neste momento o reembolso da viagem por cancelamento da mesma face a decisões governamentais", mas há outro caso em que a política de cancelamento para quem tem o seguro-extra de proteção à COVID-19 prevê o reembolso. Patrícia exemplifica o caso de alguém que reservou uma viagem para Malta e cujo teste feito 72 horas ante deu positivo. Neste caso, após o seguro ser ativado, o viajante é reembolsado com o valor total da viagem.